terça-feira, 23 de março de 2010

Cibercultura : Novas Formas Políticas- Dissertação

A CIBERCULTURA:
NOVAS FORMAS POLÍTICAS
MARIA MADALENA REIS MOREIRA DA COSTA MADEIRA
Dissertação de mestrado em
Ciência Política e Relações Internacionais
Especialização em Globalização e Ambiente
Setembro de 2009
I
Declaro que esta tese é o resultado da minha investigação pessoal e independente.
O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas
no texto, nas notas e na bibliografi a.
Maria Madalena Reis Moreira da Costa Madeira.
Lisboa, 30 de Setembro de 2009.
Declaro que esta dissertação se encontra em condições de ser apresentada a provas
públicas.
Cristina Montalvão Sarmento.
Lisboa, 30 de Setembro de 2009.
II
Dedico esta dissertação aos meus queridos pais Helena e Vasco,
pela força que me deram e aos meus queridos fi lhos Joana e Diogo,
pelo tempo que não partilhei com eles, enquanto trabalhava nesta obra.
III
Agradeço aos meus pais, aos meus fi lhos, às minhas queridas irmãs Rita e Teresa,
ao meu querido cunhado Pedro, aos meus colegas de mestrado, com especial atenção
à Clécia Ferreira e à Silvana Santos. Agradeço à Maria da Luz Ginja (secretária do departamento
de estudos políticos da Universidade Nova, Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas), à professora doutora Teresa Ferreira Rodrigues, ao professor doutor José
Esteves Pereira, ao professor doutor Rui Santos, ao professor doutor Francisco Carvalho,
à professora Ana Pinto, à professora Ana Filipa Henriques, à UMAR (União de Mulheres
Alternativa e Resposta), ao meu amigo Nuno Torres Veiga (especialista em artes gráfi cas)
e à professora doutora Cristina Montalvão Sarmento, orientadora desta dissertação (por
me apoiar na estrutura da mesma e pelas ideias brilhantes que me facultou ao trabalharmos
juntas).
IV
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: “CIBERCULTURA: NOVAS FORMAS POLÍTICAS”
Autora: Maria Madalena Reis Moreira da Costa Madeira
RESUMO
O projecto de dissertação analisa a dimensão da informática, nomeadamente da
internet na comunicação e cultura política contemporânea, abordando com profundidade
a noção e o hipotético conceito de cibercultura do ponto de vista cientifi co e avaliando
a emergência deste fenómeno na alteração dos meios de transmissão e transformação da
cultura política.
No reconhecimento do estado da arte, estudou -se a existência ou não do conceito
de cibercultura associado à necessidade da conceitualização de uma nova teoria política,
da comunicação e das relações internacionais, com efeitos de carácter político/cultural e
de novas relações na comunicação baseadas numa rede complexa e em trocas de poderes
e infl uências locais, nacionais internacionais direccionadas para a globalização.
Palavras -Chave: Globalização, cibercultura, internet e cultura política electrónica.
V
DISSERTATION TITLE: “CYBER CULTURE: NEW POLITICAL FORMS”
Author: Maria Madalena Reis Moreira da Costa Madeira
ABSTRACT
The project dissertation examines the scale of informatics, specifi cally of the internet
among contemporary political communication and culture, addressing scientifi -
cally in depth the notion and the hypothetical concept of cyber culture and assessing the
urge of this phenomenon in changing the means of transmission and transformation of
political culture.
In recognition of the state of the art, study was made about whether or not the
concept of cyber culture was related with the need of a new conceptualization of political,
communication and international relations theory, with effects of political/ cultural
dimension and new communication relationships based on a complex network, power
exchange and local, national and international infl uences geared towards globalization.
Key-Words: Globalization, cyber culture, internet, electronics political culture.
ÍNDICE
Introdução ................................................................................................................. 1
Parte I: Emergência da Nova Cultura Electrónica ................................................. 8
1. Globalização e novas tecnologias .............................................................. 10
2. Internet: rumos massifi cadores ................................................................... 25
3. Política, comunicação social e telemática .................................................. 33
Parte II: Ciberespaço, Agentes Sociais e Políticas Virtuais .................................... 54
1. Cibercultura e tecnocultura ........................................................................ 56
2. Mutação linguística ................................................................................... 74
3. A ágora virtual: ciberdemocracia (representativa, participativa e directa) ... 79
4. Cidadania global electrónica ...................................................................... 88
Parte III: A Cibercultura: Novas Formas Políticas ............................................... 96
1. Blogosfera .................................................................................................. 102
2. Espaços informacionais .............................................................................. 104
3. Correio electrónico ..................................................................................... 109
4. Petições, campanhas e manifestos.............................................................. 110
Conclusão ............................................................................................................ 114
Bibliografi a e recursos electrónicos ........................................................................... 131
Bibliografi a ..................................................................................................... 131
Recursos electrónicos ..................................................................................... 135
1
INTRODUÇÃO
Pretende -se com o presente projecto de dissertação, analisar a dimensão da informática,
nomeadamente da internet na comunicação e cultura política contempo rânea,
abordando a noção e o hipotético conceito de cibercultura do ponto de vista científi co e
avaliando a emergência deste fenómeno, na alteração dos meios de transmissão e transformação
da cultura política.
É de salientar, no reconhecimento do estado da arte, a existência ou não do conceito
de cibercultura associado à necessidade da conceitualização de uma nova teoria da
comunicação com efeitos de carácter político e cultural e de novas relações na comunicação
baseadas numa rede complexa e em trocas de poderes e infl uências locais, nacionais
e internacionais direccionadas para a globalização, tendo em conta que o poder é algo que
circula e funciona em cadeia (Foucault, 1996:31).
Nesta linha de pensamento, salienta -se Breton, cuja cibernética está na origem do
paradigma moderno da comunicação, global e unifi cada, apelando para a formação de
uma nova utopia: a sociedade de comunicação (Freixo, 2006:347).
Analisou -se, de que modo e frequência os cidadãos utilizam o ciberespaço e como
essa cultura contribuiu para a mudança das mentalidades, das tradições e dos costumes
políticos e como se pode corrigir a humanidade pela cidadania e participar na sua elaboração
gerando novas culturas políticas. Destaca -se neste âmbito, o estudo da internet
enquanto espaço democrático ou de comunicação global, nomea da mente ao nível dos
inquéritos e sondagens de opinião política, voto electrónico, discussões on -line de cariz
cultural e político, fóruns políticos electrónicos, campanhas sociopolíticas, a emergência
da blogosfera política e ideológica e a análise da internet como espaço de instrumento
virtual que explora novas práticas de cibercultura política.
No caminho das mudanças efectuadas no ciberespaço ao nível do eventual espaço
de concretização da democracia directa e da democracia participativa e de difu são em
rede das mesmas, destaca -se a emergência das culturas políticas ramifi cadas aos conceitos
de nova linguagem virtual, integração na globalização de palavras, sons, ima gens e
signos da mesma cultura, identidade política colectiva ou individual e redes globais.
2
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Pretendeu-se verifi car as relações da cibercultura com o poder estatal, pelo seu uso real
ou potencial da violência simbólica e com a relação dos cidadãos baseada nas relações de produção
e experiência que impõem a vontade de alguns sobre outros, bem como, a temática das
mudanças reais na vida política internacional e da sua eventual passagem a uma vida política
planetária e dos agentes da nova esfera pública que são as os cibercidadãos, as empresas, as
instituições, os movimentos, os partidos, as associa ções, os grupos e as comunidades virtuais.
Abordou -se, relativamente ao tema inteligência artifi cial, a racionalização da sua
organização social e do comportamento individual, da substituição dos valores morais
por princípios lógicos, de modo a viabilizar a padronização sistémica1. Neste tipo de inteligência,
a sociabilidade é orgânica, não é um ser social como uma pessoa ou indivíduo
personalizado, é social por fazer parte de um organismo social e nele interagir com outros
elementos humanos, mecânicos na integração no novo sistema social2. A sua racionalidade
é cognitiva e activa intelectualmente no comportamento, mas não possui inteligência,
refl exão e raciocínio, e o seu pensamento ou acção racional não se origina na mente, no
seu interior, mas no centro do sistema organizacional cibernético3.
No plano humano, a robotização signifi ca o condicional reconhecimento psicossocial,
que tem como objecto a mecanização das estruturas mentais e comportamento da
humanidade, automatizando as suas decisões4.
Tendo em conta as temáticas estudadas, foi de utilidade, dado que se trata de um
conceito central no estudo do estado da arte, dedicar um sub capítulo aos rumos evolutivos
da internet e ao que a mesma representa.
Em relação ao conceito de ciberdemocracia, verifi cou -se de que se trata de um
novo tipo de hábito democrático caracterizado por ser em rede, menos autoritário e menos
hierárquico do que hábitos típicos da democracia representativa clássica e constatou -se
que estas novas práticas têm importância na democracia local, a ponto de a transformar
numa nova democracia, tornando o poder local mais transparente e dando origem a um
1 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
2 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
3 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
4 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
3
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novo tipo de con ceito em estudo: a governação electrónica. Ao estudar a democracia electrónica
conclui -se que a mesma converge e mobiliza o mercado em marketing, mercadorias,
ideias e comportamentos, inquietações e convicções que são dimensões psico -sociais
que podem polarizar em actividades e imaginários dos cibernautas e comunidades virtuais5.
Neste sentido, a cultura política electrónica transformou -se num espectáculo, num
programa de entretenimento, sendo avaliada com critérios que se aproximam bastante dos
vigentes no mundo do consumo6. Deste modo, a tecnopolítica é originária do comércio,
da produção e da publicidade7.
Nas novas formas políticas destacam -se as manifestações no mundo virtual, das
multidões solitárias que circulam na ágora electrónica.
Teve interesse para o estado da arte, as consequências da globalização ao nível reticular,
que consiste na abertura, não das fronteiras dos Estados -nação e das culturas, mas
das fronteiras dos mundos possíveis, do espaço e do tempo e das disposi ções que a telemática
exerce sobre o domínio político e cultural. Nesta perspectiva, Krishnamurti afi rma que
a mente tem a ver com o espaço e o silêncio, e o tempo pertence ao cérebro (Krishanamurti,
1993:118). Quanto ao pensamento, este inventa espaços (Krishanamurti, 1993:118).
De acordo com Carlos Leone (Leone, 2000:3), a ciber cultura é empregue e usada
em meios característicos de comunidades altamente técnicas e dotadas de poder sociopolítico,
como é o caso do universitário, mas é também um hábito de vida que se instala.
Levy questionou, “o que é o virtual?”. Será o fenómeno virtual associado a uma
verdadeira revolução cultural global?
O que está, grosso modo, em causa com o advento desta única revolução do globo
é, fundamentalmente, a relação da humanidade com a natureza, a dimensão individual de
cada um dos seres humanos no espaço -tempo da sua imaginação individual, do processamento
da informação no uno dos multiversos da representação da vontade no inconsciente
colectivo e individual ou da percepção deste, do poder vindo de dentro, do interior, do
poder inferior, do ser espiritual que humaniza a vida.
5 http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/ianni.rtf, em 13/8/09
6 http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/ianni.rtf, em 13/8/09
7 http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/ianni.rtf, em 13/8/09
4
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A nova revolução da rede, da “auto -estrada” da informação é um percurso da alçada
da internet, de eliminação de distâncias (Gates, 1995:4 -6).
Assiste -se, deste modo, a uma redefi nição do signifi cado de fronteiras terrestres,
em sequência do advento da sociedade pós -industrial, baseado em fl uxos de informação,
sem precedentes, porquanto as situa no contexto de relacionamentos espaciais
mais abrangentes (Dougherty, Pfaltzgraff Jr., Robert L., 2003:217 -219). Nesta linha de
pensamento, salienta -se ainda Friederich Kratochwil, ao “defender que o conceito de
soberania territorial, concebido como princípio organizador da política internacional,
choca com o conjunto de fl uxos transnacionais que atravessam as fronteiras políticas
reconhecidas pelos Estados” (Dougherty, Pfaltzgraff Jr., Robert L., 2003:228 -229).
A evolução da sociedade pós -industrial, está a dar origem à revolução cultu ral
global, que arrasta consigo a implantação da cibernização nas sociedades num processo
de profunda transição com repercussões óbvias no processo democrático8.
Deste modo, as democracias transformaram -se em totalitarismos sustentáveis
ou sociocibernização efi caz de globalitarismo?
Estudou -se que a era do conhecimento (que emerge da era da informação) foi
extre mamente dinâmica na criação de grande variedade de transformações psíquicas, no
auto -conhecimento, como paradigma astuto na orientação da humanidade nas decisões
políticas à semelhança do pensamento do mestre Krishnamurti, que acentuava constantemente
a necessidade do auto -conhecimento e da compreensão das infl uências restritivas
e separatistas das religiões, bem como das condicionantes da nacionalidade (Krishnamurti,
1993:9). Ainda o mesmo pensador, chama -nos a atenção para a origem das crises.
De facto, “a crise não está na política, ou nos governos, sejam eles totalitários ou democráticos;
a crise não está entre os cientistas nem entre as religiões estabelecidas e respeitáveis,
a crise está na nossa consciência, ou seja, no nosso cérebro, no nosso coração, no
nosso comportamento, nos nossos relacionamentos” (Krishnamurti, 1993:99).
Brzezinsky defendeu que a ciência e as universidades destinam -se a assegurar
grande parte do planeamento político e da inovação social, pensamento que perspectiva
um novo papel activo à cibercultura.
8 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
5
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A sociedade mundial, num futuro próximo, terá a confi guração em rede como a
“net global” onde prolifera fl uxos e pólos comerciais, fi nanceiros, migratórios, culturais,
religiosos e fi losófi cos emergentes e novos actores das relações internacionais, não governamentais
e fi rmas multinacionais a vários níveis (locais, regionais, nacionais, internacionais
e globais) que interagem em redes não autoritárias e não hierarquizadas.
Mas será a cibercultura a cultura -raíz que dará origem à teoria política unifi cadora
da humanidade no encurtamento do tempo criado pela utilização das novas tecnologias,
à semelhança da 4.ª dimensão de Einstein? Será a mesma o fi o que falta da rede para unir
todos os esforços informativos e do conhecimento e todas as partículas do universo no
seio de uma teoria política única que vise a paz e a virtude internacional?
De facto, a teoria da relatividade concebe as partículas em termos de espaço-
-tempo, com padrões quadri -dimensionais, como um processo e não como objectos, à
semelhança da importância da imaginação na humanidade, que é ilimitada, onde cabe a
unifi cação. Será esta a 4.ª dimensão de Einstein? A dimensão que não é visível?
Augusto Comte, institui o holismo para a ciência, dando importância ao espírito
de conjunto (ou de síntese) sobre o espírito de detalhes, para uma compreensão adequada
da ciência em si, do seu valor para o conjunto da existência humana9.
Será a revolução cultural global um processo longo ou curto?
Abordou -se a possível junção da neurofi siologia com a cibercultura política, à
semelhança dos dois hemisférios cerebrais que, de acordo com Maurice Maeterlinck,
simbolizam o confl ito ente o oriente e o ocidente o que equivale à própria divisão do cérebro,
sendo o lóbulo ocidental o produto da razão, da ciência e da consciência, enquanto
que o lóbulo oriental segregaria a intuição, a religião e a subconsciência (Maltez, 2002)
e como a ciência da assimetria cerebral (domínios da psicologia, linguística, educação,
inteligência artifi cial, fi losofi a, sociologia e da arte) infl uencia os dois cérebros (na arte,
ciência e cultura) e são, no homo sapiens, funções do cérebro direito (Israel, 1998: 60 -61).
Salienta -se, neste contexto, que o oriente não produziu psicologia, mas sim metafísica e
que, no ocidente, o termo espírito signifi ca “função psíquica” (Jung, 1971:1).
9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Holismo, em 9/7/09
6
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Quanto ao espírito universal, a fi losofi a ocidental não tem certezas quanto à sua
existência (Jung, 1971:1). No entanto, os símbolos reveladores de Jung libertam a humanidade
no desejo de crescimento através de um sistema de comunicação, no desejo de
compartilhar a pedagogia da humanidade, podendo, na utilização da internet, o deprimido
encontrar esperança, o desolado consolo, o preso sentir a liberdade e os cérebros interagirem
em diferentes partes do globo na esfera da inteligência virtual.
Teve -se em conta, que a consciência (função da mente superior, da investigação do
mundo através da intuição, da dedução e da indução) é estudada pela fi losofi a da mente, pela
psicologia, pela neurologia e pelas ciências cognitivas10 e que a multissensorialidade das representações
(o que percebemos através dos nossos sentidos), são manifestações das entidades que,
em si mesmos, não são a priori visuais, mas transcendem os sentidos (Cadoz, 1996:66 -68).
Salientou -se a renovação da importância da mitologia dos universais, da formas
de pensamento mentais e físicas, tais como a consciência, o espírito, a vontade ou o ego
(Sarmento, 2008: 124) e como o “eu” se identifi ca com as funções sociais que o preenchem
com artifício tecnológico nas sociedades, à semelhança dos estudos das ciências
sociais ao associarem o poder mítico das crenças das políticas culturais dominadoras e
da racionalidade tecno -económica aliada às modernas sociedades tecnotrónicas, como
parcialmente contextualizou Cristina Sarmento (2008).
Quanto aos universais, como a nação, o Estado, a universidade não têm nenhuma
entidade particular que lhes corresponda (Sarmento, 2008:125) e estes são reifi cados num
estado geral de alienação humana que mantém a humanidade alienada numa forma determinada
de objectivação (Sarmento, 2008:126). Ainda, de acordo com a mesma investigadora,
os universais são a matéria do mundo, o carácter substancial, da diferença entre
virtualidade e actualidade, entre o que é e que não é (Sarmento, 2008:129). Deste modo,
a virtualidade só existe como teoria e não como percepção, é abstracta.
Abordou -se o conceito de cosmopolismo, do cosmo total, que tudo inclui e que
adequa as decisões humanas ao mundo (Carvalhais, 2007:30). Neste contexto, Habermas
(corrente neokantiana), insere -se numa perspectiva cosmopolita, do Fórum Social Mundial
(Maltez, 2002:300).
10 http://pt.wikipedia.org/wiki/Consci%C3%AAncia, em 10/6/09
7
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Na busca pela verdade na razão e no irracionalismo, a humanidade procura a auto
psicanálise política, o seu lado inconsciente, oculto, as imagens dos seus sonhos, das suas
vozes por identifi car, no lirismo da magia das palavras virtuais, das experiências do psicadelismo
electrónico das minorias proféticas.
Pode também ser no relacionamento electrónico, que se espelha os processos dos
pensamentos humanos condicionados.
Analisou -se ainda, como o mito, símbolo e metáfora são processos ilógicos (Israel,
1998:66). Salientou -se, nesta matéria, a importância dos estudos das redes neuromiméticas,
ou seja, do conjunto de processadores elementares que realizam funções comparáveis
às dos neurónios e que estão organizados em rede, como no cérebro (Cadoz, 1996:133).
Comentou -se como a comunicação social criou a sociedade de massas e como
esta está a destruir os laços comunitários da família, vizinhança, classe, etnia ou religião,
sendo os da família dominados pela emoção, pela moda e mais expostas à manipulação
política (Maltez, 2002).
Tratou -se, genericamente, da questão da próxima revolução cultural global cujas
principais ideais serão justiça, paz e felicidade, conforme contextualizou, parcialmente,
Cristina Sarmento (Sarmento, 2008).
Nesta perspectiva, a teoria das conexões em rede, que emerge da fusão comunicacional
humanidade-máquina antevê a revolução cultural global da auto -consciência e da
percepção interior do inconsciente colectivo e individual, tendo em conta os estudos de
Manfred Frank nos relacionamentos entre consciência, auto -consciência e auto conhecimento
(sendo este último estado refl exivo). Salienta -se, que esta dissociação da consciência,
surge como necessidade de “desligamento” de forma a abrandar o sofrimento humano.
A revolução cultural global (importante no crescimento das novas formas políticas
futuras), nasce da falta de parâmetros sufi cientes da racionalidade científi ca no caminho
do desenvolvimento humano, que para ser devidamente trabalhado, tem de se ter em
conta a arte e a espiritualidade.
8
PARTE I
EMERGÊNCIA DA NOVA CULTURA ELECTRÓNICA
Em 1936, Turing elabora o “manifesto da nova ordem electrónica”. O mesmo,
dá -nos a descrição simbólica que revela uma estrutura lógica e não uma construção de
uma estrutura (Forester, 1993:67 -68). No Entanto, em 1950, “Machinery and intelligence”
convence -nos de que os computadores tinham capacidade de imitação da inteligência
humana (Forester, 1993:67 -68), criando -se, a partir deste momento o termo inteligência
artifi cial, associando as tarefas dos computadores ao controlo e comando no mundo científi
co e empresarial (Forester, 1993:67 -68).
Beniger defende, que o controlo da revolução da sociedade de informação tem início
na resposta à “crise do controlo” gerada pela revolução industrial (Forester, 1993:81).
A indústria da cultura é defi nida, de acordo com Adorno e Horkheimer, como uma
autêntica mercadoria usada, através dos media, pelas classes dominantes de forma a levar
as massas ao consumismo11.
Subjacente a esta “teoria “do fogo factum, encontra -se a obra de Schoppenhauer
(“O mundo como vontade e representação”). Na mesma, o mundo não é mais do que a
consciência subjectiva (de cada um dos indivíduos), representada no objecto (espaço-
-tempo). Denota -se, assim, a associação irracionalidade e vontade própria que, segundo o
mesmo fi lósofo, só é possível transpor através do exercício da arte e da prática da moral,
na suplantação do egoísmo e nas relações humanas (inclusive nas relações políticas).
Deste modo, a vontade é dissimulada pela máscara das estruturas do pensamento.
Paradoxalmente, Cristina Sarmento, leva -nos a pensar que a irracionalidade
pode ter um duplo sentido de existência contraditória e de negação da própria existência
(Sarmento, 2008). De acordo com esta investigadora, a sociedade industrial
enquanto fenómeno político implica a experiência, a transformação e a organização
da natureza como simples suporte de dominação. De facto, a teoria da dominação,
identifi ca-se com novas formas de controlo social, ao invadir o espaço privado, da
11 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria_cultural, em 09/6/09
9
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
prisão da humanidade à produção e à distribuição das massas (Sarmento, 2008:115).
A força que controla as psiques da humanidade e que actua através de sondas planetárias
e satélites artifi ciais, transmitem mensagens inteligentes que processam a mudança
na inteligência virtual usando a alta tecnologia. No entanto, o liberalismo moderno
defende a concepção da humanidade como: homem bom e racional e homem
mau e irracional, ou seja, uma concepção radicada na sociedade e não na natureza
(Carvalhais, 2007:47).
No entanto, a humanidade na reacção à recusa da sua própria alienação (pelo controlo
da mente) encontra um espaço de mais liberdade na necessidade de uma revolução
do ser na auto -emancipação criando, assim, cultura, através da contracultura.
Contudo, Raymond Aron, em 1965, interroga -se sobre a incapacidade criada pela
sociedade industrial, pela inconsciência da sua efectiva liberdade, “cega” que está pela
racionalidade da sua efi ciência colectiva ou pela pressão consumista (Carvalhais, 2007:54).
Já Benjamin Constant, coloca o conceito de liberdade lado a lado com os prazeres individuais,
na esfera privada, ao lado dos ideais individualistas, no campo do amor, da amizade,
da moral familiar (Carvalhais, 2007:51 -53).
A actividade da consciência, na nova cultura electrónica, é totalizante (mas múltipla
simultaneamente), simbólica à semelhança do futuro estruturalista da totalização na
continuidade espiritualidade.
Na cultura electrónica associada à arte política, a cibercidadania toma consciência
da sua dimensão estética, da sua “luta” política, da sua consciência política.
A teoria crítica da cultura electrónica política, volta -se, na actualidade, para a persona
social, revoltando -se contra o mito da objectividade das ciências e luta pelas estruturas
de pensamento alternativo, “luta” contra o poder das autoridades hierarquizadas,
obsoletas e dominadoras, volta -se para o imaginário colectivo, individualista, libertário e
criativo. No interior da fi losofi a da cultura electrónica política o conceito arcaico de poder
(como forma de dominação, que leva um ser humano a obedecer a outro) é posto em causa,
permitindo, em força, a emergência de novas formas de participação política na cidadania,
advenientes do surgimento de um novo discurso político, de uma nova cultura
política de origem técnica e instrumental.
10
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Adam Osborne, defende que as tecnologias de informação “andam à solta”, sendo
apoiadas pelos governos, instituições de ensino, criando novos postos de trabalho,
simbolizando prestígio nacional e hegemonia económica (Forester, 1993:73).
Mas, de extrema importância para a emergência da cultura electrónica, é a sua
junção ao espírito universal, à matriz das formas arquetípicas ou naturais da unidade
que a globalização representa, os traços e os costumes das forças de construção da cultura
global e da ciência da informação.
Na axiologia associada ao ciberhumanismo ou à cibercracia levantam -se determinadas
questões: humanismo e cibernética, sociocibernética, realização humana
e incremento da automação tecnológica e a rivalidade hipotética entre evolução da
humanidade e a instauração de uma sociedade centrada em aparatos de inteligência
artifi cial12.
1. Globalização e novas tecnologias
Para compreender o conceito de globalização, é necessário compreender o que
é integralismo holístico, como esquema unifi cador de forma de vida, ou seja, compreender
o universo no seu todo como impulso para o conhecimento, para a sociedade de
conhecimento. Quando se sente e pensa a vida como um todo, aparece o belo e a ausência
de problemas (Krishnamurti, 1993:36). Estes, só surgem quando se vê a vida de
forma fragmentária (Krishnamurti, 1993:36).
O global está relacionado como tempo e o movimento, o crescimento pessoal,
a visão noológica (bioenergética) ou a física das energias, com a nossa sensibilidade
vibratória à luz, ao som que nos permite receber algumas vibrações existentes
e no processamento do reconhecimento da tensa relação entre a mente consciente e
o subconsciente, penetrando mais no nosso intimo. A humanidade, nesta sequência
de pensamento, sente o fascínio da atracção pelos globalismos, na convivência pacífica
dos seres humanos, onde o amor é a principal energia que unifica todos os seres
sensíveis.
12 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
11
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com Cristina Sarmento, a ciência política é interdisciplinar, cuja principal
função é redescobrir as ciências sociais, enquanto ciências da cultura e do espírito
(Sarmento, 2008:32).
O grande desafi o da fi losofi a actual será a descoberta da espiritualidade de cada
um, do seu semelhante, do seu comportamento e dos actos da sua consciência na síntese
da percepção transcendental no pensamento crítico não conformista.
Seguindo esta perspectiva, a vida psíquica (é um fenómeno holístico e global)
deve ser estudada através da abordagem global dos sistemas, da radiestesia holística13.
Agostinho da Silva, lembra -nos da unifi cação de Cristo e Lao -Tseu, da fusão do
todo e do seu nada, do destino espiritual, do original imperialismo psíquico, da simbiose
e do hibridismo (Maltez, 2002:336 -337).
O espaço global ou a gestão global é uma gestão holística, em que o todo é algo
mais do que a soma das partes. O todo, é um sistema complexo multidimensional, sendo,
simultaneamente, formado no âmbito micro de infi nitos sistemas complexos, e no âmbito
macro integrante de um infi nito sistema complexo14.
Nesta perspectiva, Freud interliga mente (como microcosmos, a um nível consciente)
e os Estados -nação (como macrocosmos, a um nível inconsciente) (Sarmento, 2008:92).
Como acontece com os meredianos nas proximidades dos pólos, a ciência, a fi losofi a e a
religião convergem necessariamente na vizinhança do todo (Rideau, 1965:68 -69).
De acordo com Levitt (Mattelart, 1991), numa abordagem global, tem que se ter
em conta que o mundo torna -se uma “aldeia global”: a dimensão do mercado internacional,
o desenvolvimento do individualismo, a americanização da juventude, a emancipação
da 3.ª idade e das mulheres, o modo de vida predominantemente urbano, os espaços
de comunicações transnacionais e a globalização das culturas.
À questão de Kant: “é possível escrever uma história universal de um ponto de
vista cosmopolita?”
A nossa resposta, é sim (Fukuyama, 1992: 136). O imperativo categórico do mesmo
pensador, é típico desta governação global, como se cada um de nós decidisse, como
13 http://pwp.netcabo.pt/big -bang/jornaldogato/psi -6.htm, em 25/04/09
14 http://biodanca.blogspot.com/2007/09/o -pensamento -complexo -teorias -da.html, em 25/04/09
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se o próprio fosse o todo, de tal modo que da sua conduta decisória se pode extrair uma
máxima universal. Kant, estuda a complexidade e a historicidade cósmi cas, apresentando,
pela primeira vez, uma causa natural e coerente para a origem do mundo15. Nesta perspectiva,
o mundo teria evoluído de uma situação caótica através da sua auto organização16.
É de salientar neste contexto, a rede global de Michael Foucher, da “inter de pendência
“discriminatória que alimenta novas frentes da desordem planetária, nomea damente
a economia do narcotráfi co, o branqueamento, as explosões colectivas em forma
de pilhagem, o apelo irracional às identidades culturais, étnicas ou religiosas e o progresso
dos fundamentalismos (Mattelart, 1991).
Nesta perspectiva, salienta -se a teoria do caos17, que pertence ao ramo da teoria
dos sistemas dinâmicos e trata dos processos não -lineares, altamente complexos e imprevisíveis.
Para os gregos clássicos, esta teoria representa um vazio abissal, o caos, salientan
do -se, de acordo com James Joyce, a desordem ordenada, um padrão de organização
existindo por detrás da aparente causalidade e o “efeito borboleta” que não obedecem a
leis lineares, mas envolvem taxas variáveis de mudança e não taxas fi xas, em que as mesmas
mudanças são multiplicadas, em vez de adicionadas, e pequenos desvios podem ter
vastos efeitos18.
Mas, a rede (net) é a mensagem de uma forma de desenvolvimento organizacional
da actividade humana, de comunidades contraculturais, da nova economia e do advento
da sociedade em rede (Castells, 2004).
A partir de uma dada região no espaço/ tempo, a história universal orienta -se num
sentimento comum lógico, num espaço supersensível da razão à semelhança da teoria das
supercordas que antecipa a hipótese de um hiperespaço que articula 10 dimensões, inclusive
o tempo. Nesta linha de pensamento, as teorias unifi cadas renovam a ligação da humanidade
com o nosso semelhante, da unidade última, do cosmo e da consciência. Certo
15 http://dererummundi.blogspot.com/2009/07/decifracao-da-realidade-2.html?showComment=124755994
4597#c8948373490049850015, em 14/7/09
16 http://dererummundi.blogspot.com/2009/07/decifracao-da-realidade-2.html?showComment=124755994
4597#c8948373490049850015, em 14/7/09
17 http://biodanca.blogspot.com/2007/09/o -pensamento -complexo -teorias -da.html, em 25/04/09
18 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cores, em 14/7/09
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é que, a junção globalização e novas tecnologias deu origem a um “caos”, a uma entropia
que progride para o “cosmos”, para a ordem. Da diversidade das imagens, das ideias e dos
sons das novas tecnologias emerge uma realidade virtualmente una e coerente que tende
para a difusão e para a dispersão, à semelhança da teoria da matriz s de Heisenberg (que
nos diz que a matriz “mãe” dissemina -se) e da teoria da grande unifi cação que entende a
gravidade como redução da geometria, que resulta da combinação da matéria e da energia
no universo, e dos estudos de Einstein, que defende ainda outras forças que actuam sobre
a matéria, a electricidade e o magnetismo. Do todo indivisível (infl uências cósmicas internas
do nosso universo no fl uxo de partículas, ou seja, os raios cósmicos) emerge a
unidade entre a humanidade e o universo (S. Berg, 1998:133).
De acordo com Isabel Carvalhais, há dialéctica e confl ito na humanidade, enquanto
não se realizar o Estado -universal, o total domínio pacífi co da sociedade e da natureza,
o sentimento de comunidade, de coesão social e a fraternidade entre o povos (Carvalhais,
2007:59 -61) através da arte do amor, à semelhança do que se passou com os descobrimentos
e com a expansão, no diálogo de culturas, universo do ius communicationis, que
redescobriu a humanidade como animal de trocas, tanto de bens económicos, como de
bens espirituais na respublica universalis (Maltez, 2002:333 -334).
A nova revolução cultural global será harmonizada com o universo?
Global, representa a visão unifi cada das forças do universo, do regresso à sua
origem na biossociosfera à semelhança da evolução irreversível de Ilya Prigogine que
religa os sistemas em todos os domínios da observação: físico, químico, biológico, ecológico
e humano (Laszlo, 1993). Também o mesmo autor defende, através da teoria das
estruturas dissipativas (sistema que se auto -organiza), que mediante instabilidade, as
estruturas se podem transformar em novas estruturas de complexidade crescente denotando
uma fonte de uma nova ordem e complexidade19. De facto, Mariotti, em 2000,
sustenta que a realidade é percebida segundo uma perspectiva bio psicossocial do organismo
de cada um20. A nossa estrutura muda de acordo com a interacção do organismo
com o meio (interconexões entre coisas). A observação destas conexões, é realizada a
19 http://biodanca.blogspot.com/2007/09/o -pensamento -complexo -teorias -da.html, em 25/04/09
20 http://biodanca.blogspot.com/2007/09/o -pensamento -complexo -teorias -da.html, em 25/04/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
um nível subatômico, o que mostra uma complexa teia de relações entre as várias partes
de um todo unifi cado.
Já Chardin, através da teoria da evolução, defende que a matéria vitaliza a partir
de um certo nível de complexidade e, à semelhança da cerebralização cresce à medida que
se desenvolve até à emergência da consciência (Sarmento, 2008:185). A noosfera
sobrepõe -se à esfera viva (biosfera), reconciliando a fé e a ciência, que desde Galileu estavam
divorciadas (Sarmento, 2008:185).
Do sistémico caminha -se para o complexo21, ou seja, os estudos da lógica da mente
associam os seres humanos à cibernética e à teoria da informação, como processador
de informação.
Mas, será global sinónimo de internacional?
O bem estar e a amizade são laços comuns de interesses, relações únicas de grande
solidariedade, através da paz universal. Na senda de Hegel e Marx, a sociedade civil,
encontra -se na zona não-estadual ou não -governamental, de espaços de fraternidades cívicas,
da extraterritorialidade da pessoa.
Bakunine cedo alia -se ao internacionalismo, sentimento que se opõe ao sentimento
nacional, exclusivista por natureza e oposto ao amor universal, à eterna aspiração da
parcela para o seu todo, pelo amor à humanidade (Arvon, 1966) e neste contexto internacional
alia -se a global.
O Institute for Global Communication, articulou algumas primeiras redes informáticas
dedicadas ao progresso de causas sociais, como a defesa do meio ambiente e a
manutenção da paz mundial (Castells, 2004), tendo sido crucial para o estabelecimento da
rede informática de mulheres (La Neta) utilizada pelas zapatistas mexicanas para atrair a
solidariedade internacional para a causa das exploradas minorias índias.
Quanto às novas tecnologias (e sua ligação à globalização), estas são o conjunto
de informação e de comunicação geradas a partir da década de setenta (século XX), pela
progressiva convergência das telecomunicações, da informática e dos media e que a digitalização
conduziu à fusão multimediática (Cascais, 2001). No entanto, a tecnologia de
21 http://biodanca.blogspot.com/2007/09/o -pensamento -complexo -teorias -da.html, 25/04/09
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informação é uma tecnologia universal, tão importante como a electricidade ou a energia
a vapor, sendo o processamento da informação um elemento essencial da consciência
humana (Forester, 1993:15)
Nesta sequência, o Clube de Roma (primeiro indicio da revolução cultural global)
conclui que o século XXI será um século sem limites ao conhecimento, sem limites à
pobreza, de equilíbrio entre o social, o económico e o ecológico, de democratização do
conhecimento, da realização de direitos de cidadania contemporânea e da concretização
de políticas de ecofi ciência que passam necessaria mente pela redução da “segregação
digital” (prioridade mundial) e pela concretização das políticas de desenvolvimento que
terão de acelerar a ampliação das ofertas de infra -estruturas de comunicação electrónicas
com acesso mundial22. Por outro lado, o mesmo clube é prova da existência da primeira
revolução global na história da humanidade, por via de uma ideologia tecnocrática, ao
impor uma sociedade mundial planifi cada, guiada por gestores que têm por modelo a
empresa multinacional (Maltez, 2002:309).
O FSM (Fórum Social Mundial) representa uma nova ordem social, uma mundialização
com base nos direitos humanos civis, políticos, socioeconómicos e culturais. Nesta
perspectiva, a governança mundial articula organizações estatais, não governamentais
e internacionais, tendo já o Greenpeace e a Amnistia Internacional, sido apelidados de
multinacionais de comunicação.
Mas, globalização é, no senso comum, um dos processos de integração económica,
social, cultural e política originados pela rapidez dos meios de transporte e de
comunicação internacionais vivenciados no fi nal do século XX e início do século XXI,
como resultado da revolução tecnológica desencadeada na década de 90, a partir da
convergência tecnológica baseada na digitalização, desregulação e privatização de importantes
sectores da economia e no primado do mercado como núcleo do funcionamento
da mesma. A empresa transnacional é o elemento central de um processo dirigido
por factores económicos, mas que produzem intensos efeitos de ordem social e
cultural (Cascais, 2001).
22 http://www.abed.org.br/ publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=3esp&infoid=916&
sid=69, em 16/07/08
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As principais características da globalização são: maior crescimento dos centros
urbanos, mundialização signifi cativa das empresas, revolução tecnológica nas comunicações
e na electrónica, nova organização mundial em blocos comerciais, multiculturalismo
acentuado, universalização do acesso a meios de comunicação, afectação das comunicações
(meios de comunicação cada vez mais rápidos), comércio internacional e liberdade
de movimentações, maior interdependência entre países, e grande instabilidade económica
internacional.
Mas, a globalização é também um fenómeno cultural múltiplo: Lévi -Strauss, defi
ne a civilização universal na coexistência de culturas, oferecendo cada uma delas o
máximo de diversidade, coligação de culturas, preservando cada uma delas a sua originalidade
num mundo ameaçado pela monotonia e uniformidade (Maltez, 2002:264 -265).
A globalização das comunicações tem sua face mais visível na internet, a rede
mundial de computadores, possível graças a acordos e protocolos entre diferentes entidades
privadas da área de telecomunicações e governos no mundo. Isto permitiu um fl uxo
de troca de ideias e informações sem precedentes na história da humanidade. Se antes
uma pessoa estava limitada à imprensa local, agora ela mesma pode tornar -se parte da
mesma e observar as tendências do mundo inteiro (tendo apenas como factor de limitação
a barreira linguística), graças à descida dos preços dos aparelhos, principalmente celulares
e os de infra -estrutura para as operadoras, com aumento da cobertura e incremento
geral da qualidade graças à inovação tecnológica.
A “aldeia global” de Marshall Macluhan é um termo criado por volta de 1968 para
designar o planeta terra, o globo, numa época marcada pela multiplicação dos meios de
comunicação, pela abolição das distâncias e pelo apagamento de certas particularidades
culturais (Otman, 1998), sendo a internet a encarnação mais visível da criação conceptual
de Macluhan. Simboliza o nascimento do idealismo relativo a um internacionalismo comunicacional,
do diálogo em rede entre os povos (ou então a ditadura da informação
mundialista, controladora e redutora?), encurtando os espaços a partir dos avanços tecnológicos.
Pode ser entendida sob diversos pontos de vista: localismos globalizados, globalismos
localizados, coexistência entre os dois pontos de vista anteriores, cosmopolitismo,
património comum da humanidade. Pode ser também interpretada de cima para baixo, de
baixo para cima, hegemónica e contra hegemónica à semelhança da termodinâmica dos
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sistemas não equilibrados, que dão origem à nova cosmologia, ao defender que a evolução
biológica tende para cima e os processos físicos tendem para baixo. Nesta perspectiva,
a utilização generalizada da internet contribuiu para associação da globa li za ção com
a localização e deu origem ao termo glocalização.
Globalismo é estratégia, que pretende relacionar forças, ideias, é o conjunto de
meios para atingir os fi ns desejados, ao estilo de Hobbes, participando das ligações de
poderes e forças, infl uências, contrapoderes, micropoderes e o próprio poder dos sem
poder (Maltez, 2002:274).
O impacto do advento das novas tecnologias nas relações internacionais foi colossal,
nomeadamente no evento da perestroika e da glasnost, na ajuda ao terceiro mundo,
na tradução automática, com vista a criar laços mais fortes entre diferentes etnias linguísticas,
na maior fl utuação do sistema fi nanceiro mundial, no reforço das grandes multinacionais
e consequente aumento do poder dos ricos sobre os pobres, nos esforços para a
paz no planeta, no crescimento e rapidez na circulação de acções globais, na proliferação
do poder dos Estados -nação, na maior possibilidade de um falso alerta nuclear no lançamento
de armas nucleares na direcção a uma guerra nuclear, no fosso e no afastamento
progressivo entre nações ricas e nações pobres e na continuação da falta de autonomia
cultural do terceiro mundo (Forester, 1993:74 -79).
A ligação profunda entre a globalização e as novas tecnologias centra -se sobretudo
no crescimento dos movimentos que rejeitam as hierarquias, as ordens, as estruturas
militares, religiosas -dogmáticas e aristocráticas, permitindo o advento inci piente da sociedade
individualista -solidária no seio da universalidade da comunicação da voz humana.
Centra -se neste contexto, a cultura particularista das minorias étnicas, das regiões, dos
direitos das mulheres, dos imigrantes, dos portadores de defi ciência, da cidadania das
diferentes orientações sexuais, das empregadas e empregados domésticos, dos jovens e
das crianças, dos idosos, dos desempregados e dos excluídos socialmente.
O altermundialismo, tem características internacionalistas e utópicas23. Nasce em
Seattle em 1999 envolvido nos protestos de rua contra a OMC (Organização Mundial do
23 http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/anteriores/160/debate/materia.2006 -03 -31.2154820080,
em 9/6/09
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Comércio), o Fundo Monetário Internacional, os G8 (grupo internacional que reúne os
sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo, mais a
Rússia), as guerras imperialistas e as políticas neo – liberais e dos grandes monopólios24.
Reivindicam a abolição da dívida do 3.º mundo, a taxação das transacções fi nanceiras, a
supressão dos paraísos fi scais, a moratória sobre os organismos geneticamente modifi cados,
o direito dos povos à auto – alimentação, a igualdade de género, defesa e extensão
dos serviços públicos (prioridade à saúde, à educação, à cultura e à salvaguarda do
ambiente)25. Estas reivindicações foram elaboradas por redes internacionais altermundialistas,
nomeadamente, Marcha Mundial das Mulheres, Focus on Global, Via Campesina e
Comité pela Abolição da Dívida do 3.º Mundo26. Trata -se de um movimento utópico global,
universal, humanista, que visa combater a mercantilização do ser humano e instalar a
cidadania participativa como principal forma de democracia e a implantação da civilização
da solidariedade (cooperação, partilha e ajuda mútua) na diversidade de paradigmas
(contra um modelo único de sociedade).
Esta concepção cultural, poderá ter raízes ideológicas no movimento saint-
-simoniano, para qual a missão da sociedade cientifi co -industrial seria a libertação dos
mais caren cia dos social e economicamente.
Em paradoxo, salienta -se a mundialização de carácter neoliberal e capitalista, das
economias de mercado que defende o progresso técnico, nomeadamente a junção da internet
economicista, a democracia representativa clássica e sua associação com a teoria da
dominação universal subjacente à civilização capitalista -burguesa. A democracia representativa,
neste sentido, estaria relacionada com uma espécie de instância mística, pouco
credível, enquanto a cidadania e a fi nalidade da democracia estariam associadas à liberdade,
à participação e à justiça (Carvalhais, 2007:62).
Os defensores da anti -mundialização hegemónica ou anti -globalização hegemónica,
defendem valores de igualdade e de diversidade e a quebra do fosso na fractura numé-
24 http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/anteriores/160/debate/materia.2006 -03 -31.2154820080,
em 9/6/09
25 http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/anteriores/160/debate/materia.2006 -03 -31.2154820080,
em 9/6/09
26 http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/anteriores/160/debate/materia.2006 -03 -31.2154820080,
em 9/6/09
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rica no acesso à rede entre países desenvolvidos, em desenvol vimento e países menos
desenvolvidos e a defesa da internet ao serviço do mundo, nomeadamente acessível à
rede nos serviços públicos, empréstimos com juros baixos para o equipamento público
nas regiões rurais e nos bairros pobres e nas famílias com baixo rendimento, campanhas
públicas para recuperar PC (personal computer) em segunda mão e distribui -los aos estudantes
mais carenciados e suas famílias, defendem uma lei mundial de fácil acesso online
que não consolide qualquer poder, a reunifi cação da família humana, o desenvolvimento
planetário da humanidade destituído das fronteiras dos velhos Estados -nação territoriais.
Uma globalização onde as nações se possam retirar dos estados e unirem -se em paz e liberdade
na construção de uma nação global ou sociedade global (ou em rede) caracterizada
essencialmente por ser liberal e indi vidualista -soli dá ria, separada das igrejas, dos
partidos, das raças e das culturas identitárias.
Fernando Pessoa, defendia a existência de uma supra -nação (Maltez, 2002), a passagem
dos ecossistemas para uma civilização superior. A globalização parece ser a semente
universal desta civilização, desta casa cósmica comum, do bem comum mundial.
A revolução global, que precede esta nação utópica, será a primeira da história da
humanidade (Maltez, 2002).
Será esta nação libertadora, que associa poder e liberdade? Será uma nação infra
estadual, de iniciativa privada, do povo global?
A globalização é anarquia ordenada, uma revolução inacabada que apregoa a unidade
do género humano, nascida do hiato da ordem global ou das suas ameaças reais,
nomeadamente do aumento do buraco do ozono ou das chuvas ácidas, do problema da
droga e do terrorismo internacional (Maltez, 2002). É também, anarquia utópica, baseada
na noção de tribo com origens no novo urbanismo das subculturas particulares.
Globalização traduz uma nova consciência do tempo transdisciplinar das ciências
sociais e humanas e da sua complexidade.
De acordo com Kenneth Boulding, a humanidade pode ser entendida como um
sistema simultaneamente natural e cultural, aberta à informação que tanto lhe vem biologicamente,
através do instinto, como culturalmente através da linguagem escrita, simbólica
e abstracta (Maltez, 2002).
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Brzezinsky, na defesa da sua tese sobre a diplomacia de redes, adverte para um
novo “governo mundial” das relações internacionais, que orienta todos os esforços para
uma difusão de conhecimentos científi cos e tecnológicos (Mattelart, 2002). Ainda segundo
este autor, a revolução tecno trónica comanda o reordenamento das relações internacionais
no campo da economia (Mattelart, 1991). Fromm realça a existência de uma sociedade
tecnotrónica (mecanizada) e propõe o face -to -face, um grupo pequenos de 10 a 15
pessoas que se multiplicarão (Sarmento, 2008). A proliferação destes grupos marcará a
próxima revolução cultural.
Marcarão estes grupos o nascimento das comunidades virtuais na esfera do
ciberespaço?
A globalização anti -hegemónica e solidária, que nasceu na sua essência, com o
primeiro Fórum Social Mundial, reivindica uma lei universal contra a guerra, a violência,
a opressão, a miséria, as desigualdades económico -sociais e a destruição ecológica.
De facto, o bom senso ao aliar tecnologia e sociedade, defende que se existir uma evolução
tecnológica sem uma evolução social assistiremos, de forma quase automática, ao
aumento da miséria humana. Fundamentalmente, de acordo com esta perspectiva contra-
-hegemónica, globaliza -se os direitos humanos fundamentais (os naturais) que devem ser
universais e mundiais e de aplicação obrigatória independentemente do território.
Os actores políticos e sociais que prepararam o Fórum Social Português em 2003,
desenvolveram um tipo de estrutura virtual, onde as novas tecnologias de informa ção, em
particular a internet desempenham um papel fundamental, através da utilização de e-mail e
grupos de discussão Nesta estrutura, discutiu -se temas como a democracia, cidadania, direitos
e serviços públicos, trabalho, economia, globalização e desenvol vi mento sustentável, a
defesa e a promoção da paz, da solidariedade e da não violência na resolução de confl itos.
A “aldeia global” contém, na sua essência, um conjunto de leis de natureza universal,
o nascimento da desterritorialização cosmopolita e a separação da iden tidade do Estado.
A diversidade cultural, religiosa e linguística deve ser igualmente defen dida em toda
a criação humana, deve ser entendida a vários níveis: regional, nacional, continental e
individual – solidária ou fi lantrópico, devendo a cidadania ser a sua máxima expressão e
terá no ciberespaço um espaço privilegiado de manifestação, um espaço civil transnacional
de eleição.
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Infelizmente, este ciberespaço ainda não está em rede para grande parte da humanidade.
O principal objectivo da cidadania global será a paz da humanidade através da
consagração efectiva do universalismo humano e dos seus direitos naturais e a fusão desta
com a criatividade e imaginação (mais poderosa que a própria vontade) cultural na realização
pessoal e espiritual.
Esta realização só se dará quando a cultura atingir um elevado nível de evolução,
nomeadamente com a efectiva realização de todos os direitos humanos, igualdades e solidariedades.
A paz começa essencialmente com a concreti za ção da igualdade de género
na humanidade, com as igualdades étnicas, com o fi m das classes sociais e económicas e
da discriminação em função da orientação sexual.
A sociedade em rede descentralizou o poder dos Estados -nação, com a crescente
importância politica da nova sociedade civil. Esta nova sociedade civil é constituída parcialmente
pela esfera pública internacional, onde o espaço organiza o tempo.
Para além desta realidade, as desigualdades norte -sul no domínio da infor ma ção e
do conhecimento são colossais, tendo -se chegado a constituir uma força opera cional
(Dot force ou Digital Opportunity Taske force) para propor soluções no sentido de resolver
estas discrepâncias.
As novas tecnologias dos anos setenta do século XX, fazem emergir a plane ta riza
ção aliada à telemática planetária em rede e à liberação dos pólos de emissão.
A sociedade de conhecimento da época contemporânea, fez a humanidade integrar-
-se na formalização global desterritorial, não confessional e não estatal, na transnacionalização
das culturas, da linguística, na unidade social.
Da desordem das conexões em rede, ressurgem em força os movimentos e símbolos
dos anos sessenta (século XX). A sociedade em rede, ainda incipiente nessa década,
visa atingir a ciência e a economia, o tempo/espaço cuja sua identidade cultural está
baseada em fl uxos globais abstractos de riqueza, poder e informação (Castells, 1997).
A transparência desta sociedade global, reside na implementação da globalização contra
hegemónica com base na paz, no desenvolvimento sustentável e no combate à pobreza,
considerando o desenvolvimento partilhado do software livre como património comum
da humanidade. No entanto, a info -exclusão existe nos países desenvolvidos, em grupos
22
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sociais, por razões económicas ou educativas, mas a ruptura também se verifi ca entre
nações, regiões e continentes. Esta exclusão digital, está directamente relacionada com a
emergência da sociedade de informação, com o uso das tecnologias de informação e comunicação
na consolidação da globalização hegemónica e na ampliação das desigualdades
no planeta27.
Quanto à inclusão digital, mede -se pela ligação dos países por número de hosts.
Em 2001, e de acordo com a internet business apenas 2 países (EUA e Canadá) con centravam
quase metade do acesso mundial à internet, precisamente 41%. De facto, o apartheid
tecnológico de África (com algumas excepções), no despontar da era da informação,
torna -se internacionalmente preocupante.
Anthony Smith (em “Geopolitics of information”) comparou a informação a um
recurso social primário e apontou que a dependência informacional dos países periféricos
poderia ser muito mas difícil de romper do que a existente nos períodos colonial e
industrial.
Neste contexto, a info -inclusão pode ser mais um modo de estender o localismo
globalizado de origem norte -americana, ou seja, pode ser mais uma forma de
fazer com que as sociedades pobres consumam produtos dos países centrais consolidando
o poder político na óptica da sociedade de consumo ou de reforçar o domínio
económico dos grandes oligopólios transnacionais. Ou então, numa outra perspectiva,
pode estar associada à construção de identidades de grupos mais desfavorecidos
no ciberespaço, ao desenvolvimento do multiculturalismo pacífico em rede, à nova
cidadania global, à cidadania em geral (nomeadamente, o direito à comunicação, o
direito à igualdade, o direito à diferença, o direito ao desvio, a liberdade de expressão,
o direito à preguiça, o direito ao lazer e o direito de pertencer a uma minoria).
Daí, a importância das políticas públicas de inclusão digital, que dependem necessariamente
da intervenção dos Estados -nação, das ONG (Organizações não -governamentais),
das associações, das comunidades locais, dos movimentos sociais, dos
mercados e das universidades28.
27 http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=685, em 7/04/09
28 http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=685, em 7/04/09
23
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Salienta -se, neste contexto, o universalismo interactivo de Seyla Benhabib, de
realização autónoma, de cada ser humano concreto na universalidade.
No entanto, numa humanidade que é, simultaneamente livre e escrava, a liberdade
do cidadão é, antes de tudo, política (Laupies, 2005:18 -19).
No que concerne ao cosmopolitismo, este resiste transnacionalmente aos Estados-
-nação, às regiões, às classes ou grupos sociais discriminados pela desigualdade nos fl uxos
de proemi nência social e fi nanceira permitindo o status quo dos localismos globalizados
e dos globalismos localizados, utilizando as tecnologias de informação e
comunicação. O cosmopolitismo remete -nos para uma abordagem monista da realidade,
da unidade da realidade, ou identidade entre mente e corpo, por oposição ao dualismo29.
Em relação ao Movimento do Software Livre, iniciado por Richard Stallman em
1985, defende a informação livre, a imaginação virtual, a partilha e solidariedade de
conhecimentos na circulação das ideias interconectadas e colaboradas nos fl uxos da
consciência colectiva em rede. Este movimento produziu um sistema operacional livre
que tivesse a lógica do sistema Unix30 e está basicamente associado à juventude mundial
(Carvalhais, 2007:202).
Interconectando na infosfera, na biosfera e na noosfera a multietnicidade, a multinacionalidade
e a multiculturalidade podem consolidar a esfera pública planetária e a
construção de uma comunidade trans nacional imaginária.
Globalização é multicultura, intercultura e interacção de pessoas na cidadania global.
Mas, é também a síntese entre as comunidades, a universalidade política e a ética das
virtudes. Os valores e as ideias originadas em correntes teóricas enfatizadas pela globalização
enquanto fenómeno das novas tecnologias, parecem estar associadas à modernidade
(autonomia, liberdade, igualdade e solidariedade), ao marxismo como explicação
dos fundamentos do capitalismo, ao socialismo utópico (cooperativismo e autogestão), à
possibilidade de parceria entre universidades e ONG, ao fortalecimento da sociedade civil
planetária (através do fórum Social Mundial) e aos agentes individuais (assessores,
consultores e professores).
29 http://pt.wikipedia.org/wiki/Monismo, em 10/6/09
30 http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/ arquivo.php?codArquivo=685, em 7/04/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com José Dias Egipto, a globalização coloca alguns desafi os à humanidade
cujos pioneiros são os movimentos sociais e políticos contra -globalização hegemónica
e capitalista, do subdesenvol vi mento e da exclusão social31. Estes movimentos, lançam
uma globalização alternativa, solidária, de incentivo à democracia interactiva, de
maiores pólos de desenvolvimento económico mundial (melhor distribuição da riqueza
mundial), políticas de paz, aceitação de culturas e religiões de cada povo e maior consciên
cia e sensibilização por parte da opinião pública internacional.
A sociedade de informação, que dá origem à simbiose do local e do global, dissolvendo
os Estados -nação através da descentralização, dos movimentos centrí fugos, desterritoriais
e desestabilizadores, indica -nos que a globalização arrasta consigo um novo mundo
cuja génese remonta ao fi m dos anos sessenta, meados da década de setenta e que se caracteriza
fundamentalmente pela expressão revolucionária das tecnologias de informação, pela
crise económica do capitalismo e do estatismo, e pelo apogeu dos movimentos socioculturais
(libertarismos, direitos humanos, feminis mos e ambientalismos) (Castells, 2003).
A quebra das fronteiras nacionais e a fragmentação das identidades sociais é sobretudo
um fenómeno comunicacional alimentado por diferentes modos de vida.
A nova ordem mundial da informação e da comunicação defende a anulação dos
desequilíbrios norte -sul, as disparidades entre Estados e a anulação da concentração e o
crescente domínio dos meios de comunicação “ocidentais” sobre o fl uxo mundial de informação
(Cascais, 2001). Neste sentido, a comissão Mcbride (82 recomendações), no
âmbito da UNESCO (United Nations Educational, Scientifi c and Cultural Organization),
deveria acompanhar uma nova ordem económica internacional baseada na cooperação
internacional (Cascais, 2001).
Cohen e Rai, em 2000, identifi caram alguns movimentos sociais que adoptaram
alguma forma global de coordenação e acção e que dependem da internet (Castells,
2004): feministas, ecologistas, sindicalistas, religiosos e pacifi stas.
Com o advento da “unifi cação mundial” preconizada pela noção de global, irrompe
a utopia através das possibilidades da lateralidade das redes virtuais.
31 www.portugal -linha.pt, em 7/12/08
25
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
2. Internet: Rumos massifi cadores
Com o computador a humanidade entra numa nova era das representações: o sinal
é transmitido (tratado) e memorizado. No primeiro caso, é um fenómeno eléctrico, no
segundo, um fenómeno magnético (essencialmente espacial). Em ambos os casos não é
acessível aos nossos sentidos e às nossas acções (Cadoz, 1996: 96 -97). Nesta perspectiva,
o computador não é mais do que um mito de representação, o mais universal que a humanidade
elaborou (Cadoz, 1996:15).
A nova era, da nova consciência progressiva do movimento na cosmologia é uma
era de iluminação, contra o egoísmo, a pequenez, a frivolidade, a hipocrisia e a ambição
que são permanentes fontes de sofrimento. A internet emerge no limiar desta nova era, no
aspirar do paraíso do amor, beleza e compreensão universal.
Mas, será a internet um mito?
As redes de computadores começaram a ser inicialmente utilizadas pelos Esta dos
(durante a guerra fria), para fornecer material militar, e pelas instituições de ensino. Mais
tarde, começaram a ser utilizadas por grandes empresas e fi nalmente alargaram -se e
expandiram -se económica e politicamente em direcção à era digital e à economia global.
Quanto à informática do ponto de vista histórico, o primeiro computador do mundo
começou a ser pensado ainda durante a Segunda Guerra Mundial para construção balística,
tratando -se de uma grande máquina para efectuar cálculos. Era um computador muito
dife rente daquele que conhecemos hoje: pesava trinta toneladas e consumia 200 000 watts
de potência que ocupava várias salas. Em 1955, um computador já só pesava 3 toneladas
e consumia 50 kwatts de potência. Com o rápido crescimento dos transístores, entre 1952
e 1960, os tubos de vácuo tornaram -se obsoletos e foi este avanço tecnológico que permitiu
a criação de máquinas mais rápidas e mais pequenas. A ARPANET (Advanced Research
Projects Agency) foi criada nos anos ses sen ta, pelo departamento de defesa dos EUA
(Estados Unidos da América) e surgida de um departamento da agência ARPA, denominada
divisão de técnicos de processamento da informação, em 1962 (Castells, 2004).
Nos meados da década de setenta (século XX), os computadores começaram a ter
preços mais acessíveis. Em 1981, a IBM lançou no mercado o PC (personal computer).
O PC distinguia -se das máquinas existentes por estar dirigido a utilizadores individuais.
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Os computadores centralizaram -se e os utilizadores tinham apenas um monitor e um teclado,
sendo todo o processo realizado no servidor.
O protocolo IP (internet work protocol) cria o protocolo TCP/IP (Transmission
Control Protocol / internet Protocol), o standard sobre o qual opera a internet e, em Fevereiro
de 1990, a ARPANET, tecnologicamente obsoleta, foi desmantelada (Castells, 2004).
Posteriormente, tendo a internet fi cado livre do seu contexto militar, o pentágono encarregou
a Fundação Nacional para a Ciência da sua gestão.
O PC nos dias de hoje, permite -nos estar ligados ao resto do mundo onde quer
que estejamos. Deste modo, a criação da internet nasce do resultado da estratégia militar,
da cooperação entre cúpulas científi cas, da iniciativa tecnológica e da inovação
contra cultural (Castells, 2002) e é na actualidade a rede universal capaz de ligar todas
as redes locais ou especializadas de comunicações informáticas, graças a um protocolo
de permuta e transmissão de dados: TCP/IP. Existem ainda subprotocolos, nomeadamente:
web, e -mail, grupos de discussão (newsgroup), blog, conversas directas (chat),
transferência de fi cheiros, partilha de recursos informáticos, website de relacionamentos
sociais como o facebook e redes sociais e servidores para micro -blogging (como o
twitter). As redes utilizam protocolos, que são programas que permitem que os PC interligados
troquem mensagens entre si. Os protocolos, estabelecem ligações fl uidas e
versáteis de informação entre utilizadores, permitindo interligar pessoas de uma forma
supranacional.
De todos os media e máquinas que surgiram no fi nal do século XX, a internet é a
que melhor defi ne o mundo contemporâneo, caracterizando -o não linearmente. A informação
não se encontra linearmente apresentada, mas lateralmente.
Pode -se mesmo afi rmar, que a rede (net) está para o século XXI como a fábrica
estava para o século XX e esta é uma estrutura de organização da informação, da comunicação
e do conhecimento cuja a utilidade mais importante é a internet, permitindo a
mesma a divulgação global das tecnologias nela incluída.
Internet é uma palavra composta a partir de interconnection of networks e não internacional
networks, como comummente se pensa, sendo a sua internaciona lização ainda
embrionária. É a maior rede global de informática, é a rede das redes (Otman, 1998), é o
27
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
resultado do uso de páginas na cidadania virtual, de redes locais de empresas, das redes
dos centros de investigação e das universidades.
No entanto, a localização interrelaciona -se ao nível internacional na sua difusão
dos programas e produtos inter culturalmente numa perspectiva dinâmica, à semelhança
da teoria de Bootstrap de Chew, que coloca em evidência a noção segundo a qual a natureza
se organiza sem se apoiar em nenhuma realidade última, ou seja, aceita -se a realidade
virtual que está em pleno movimento.
Mas, web signifi ca teia. Será uma armadilha?
Inter, signifi ca relações e virtual signifi ca, etimologicamente, força. A rede em
1844, signifi cava o conjunto de linhas ou de vias de comunicação que resultaram do progresso
industrial.
Os seres humanas ao entrarem em contacto com a internet abrem -se ao global, à
liberdade de expressão e criam comunidades virtuais ao se socializarem na net através
nomeadamente de grupos de discussão, listas de difusão, newsgroup, chat rooms, jogos
de vídeo colectivos em rede nos mundos virtuais participativos (como a blogosfera). De
facto, a globalização associada às novas tecnologias é cosmopolita, nómada e comunitária
e as comunidades virtuais, (termo criado por Howard Rheingold), englobam pessoas
que usam espaços informacionais e diálogo interactivo on -line (em linha ou em rede)
(Castells, 2004).
A revolução informática cria uma nova ordem social, política, económica e cultural,
caracterizada por um renovar de preocupações relacionadas com os direitos humanos
fundamentais e com atenuação das assimetrias sociais e económicas.
A internet transformou -se, na última década, num fenómenos de massas em espiral
e em rede.
Mas, como?
Através do impacto que as novas tecnologias de informação e de comunicação
tiveram e suas consequências, como o declínio das indústrias pesadas, da automatização
da manufactura e sobretudo do rápido crescimento da terciarização da economia internacional
e de inúmeras novas indústrias de processa mento da informação que culminaram
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
numa redução da força muscular, dando -se a “erupção” da velocidade da inteligência e de
novas capacidades interpessoais de comunicação.
A “lei de Moore”, declara que o número de elementos de um circuito que podem
ser incluído num único microchip duplicam todos os anos expandindo interminavelmente
as capacidades do PC (Forester, 1993:5).
Por outro lado, a queda dos custos de produção de materiais micro electrónicos,
devido aos avanços dos métodos de produção e também ao desenvolvimento da distribuição
internacional do trabalho na indústria (transferência de mão -de -obra barata para os
países do Extremo Oriente, América Latina e até mesmo Portugal) de um grande número
de fábricas de montagem electrónica cuja mão de obra feminina é consideravelmente
mais barata (Forester, 1993:5). Estas, em Portugal, incluíam a ITT -semicondutores, a
Plessey, a Applied Magnetics, a Grundig e Philips. A maioria delas encerrou a seguir ao
25 de Abril de 1974 (Forester, 1993:5).
Com o decorrer da revolução da informática, o progresso laboral foi substituindo
padrões de trabalho descontínuo e a tempo parcial caracterizado pela independência, fl exibilidade
e adaptabilidade, o que não é inédito. Desde a revolução industrial, por exemplo,
que se tem verifi cado que a sofi sti cação das máquinas acompanha a quantidade de
trabalho feminino (Plant, 2000). Nas nações tigre (Singapura, Malásia, Tailândia, Coreia
do Sul, Taiwan e Indonésia), na China, na Índia, África Oriental e Meridional, Europa de
Leste e América do Sul esta tendência encontra -se marcadamente presente. E, curiosamente,
a grande maioria das empresas de montagens de artigos de electrónica são ocupadas
por mulheres jovens que auferem salários relativamente baixos (à semelhança dos
trabalhadores migrantes e crianças) em fábricas globais (Silicom Valley, Sillicon Glen) e
as mesmas fábricas em Bangalore, Jacarta, Seul e Taipé (Plant, 2000).
A revolução das novas TIC (tecnologias de informação e comunicação), arrasta
consigo um agitar nas sociedades dos Estados -nação (sobretudo com o nascimento da
economia global), nas famílias, no sistema neuronal, nas alterações climáticas e na ecologia.
A montagem electrónica permitiu a produção global (em larga escala) de: linhas telefónicas,
teclados, operadores, cabos, tomadas, interruptores, fi chas, carretos, caixotins
das máquinas de escrever e programas de cartões perfurados.
29
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Mulheres, trabalhadores migrantes e crianças são utilizados nas fábricas e empresas
apenas como resposta a necessidades súbitas ou como resposta a “guerras económicas”
sob supervisão dos seus superiores hierárquicos.
A era da informação revolucionou, de forma inédita, o papel social e económico
das mulheres, sem, no entanto, terem atingido o poder social e político que deveria acompanhar
esta igualdade em conhecimentos técnicos, já para não falar na igualdade de salários
(Forester, 1993:52). Estas discrepâncias sociais, económicas, antropológicas e políticas
que afectam os géneros, representam manifestamente um atraso cultura crónico e
grave nesta era do conhecimento.
A internet traduz uma desordem controlada à semelhança do sistema inter na cional,
mas esse tipo de desordem é criativa como mencionou parcialmente Thuan (Thuan, 1999:11)
e portadora de novidades.
Na net, o cibercidadão convive universalmente, património comum da humanidade,
cosmos global político onde o público se mistura com o privado. O mundo da net
(internet), à semelhança do mundo do espírito e da consciência é interconectado e
fundamenta -se na imagem una do universo criativo. Esta inter conexão, faz -se pelos sinais
que o cérebro (nas regiões corticais) emite e recebe no espectro electro magnético da
infosferapolítica que transcende os limites do espaço/ tempo e, tendo em conta, que o som
habita o tempo, a imagem habita o espaço (Cadoz, 1996:60).
No entanto, embora as ideias provenham das mentes humanas, os computadores ajudam
a dar forma às informações originais (Penzias, 1992:19). A rede expressa no ciberespaço,
que combate as noções tradicionais de identidade e autenticidade e os MUD (acró nimo
de multi -user domain), são ferramentas de pensamento do “eu” numa cultura de simulação
onde os cibernautas políticos são pioneiros (MUDs têm também atraído o interesse de académicos
de muitos campos, incluindo comunicação, sociologia, direito, e economia virtual).
De acordo com Castells (2002), a Finlândia no ano 2002 era a sociedade mais
orientada para a internet na viragem do século e o mesmo órgão de comunicação social
conseguiu a mais rápida taxa de penetração na história da humanidade: nos EUA, a rádio
levou 30 anos a chegar a 60 milhões de pessoas, a televisão alcançou este nível em 15
anos e a internet apenas levou 3 anos.
30
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com Montargil, as TIC e a internet foram associadas à liberdade de
expressão e à liberdade de associação, através da criação de comunidades virtuais, igualdade
entre utilizadores, comunicação social de um para vários e a criação da cibercidadania
como produtora e consumidora de informação.
Com base em Gordon Moore, (co -fundador da Intel), a velocidade de processamento
dos computadores aumenta exponencialmente, de 2 em 2 anos para o dobro32.
Será que esta velocidade tem implicações na cultura política electrónica?
Para Barlow (fundador da Fundação da Fronteira Electrónica em 1995), a internet
muda tudo, “é o acontecimento mais transformador desde a utilização do fogo” e, segundo
Mcluhan, “o computador é a mais extraordinária roupagem tecnológica do homem,
trata -se do prolongamento do nosso sistema nervoso central”. Ao seu lado a roda é uma
mera brincadeira de crianças”33.
Será que a humanidade vai viver e pensar, num futuro próximo, através do computador,
orientada por uma fi losofi a anarquista e individualista?
As grandes técnicas informacionais como a internet, vieram destruir identidades
locais, desrealizaram as relações entre os seres humanos, fi zeram desaparecer a percepção
clássica do espaço e do tempo, difundiram uma cultura de massas e do pensamento mundializado,
para além de se terem desenvolvido sobre a net formas diversas de incitamento
à violência e à intolerância, cujos os efeitos são desmultiplicados (Alves, 2005).
Mas, a cultura da internet é também uma cultura da liberdade individual através
dos valores da comunicação.
Na “internet política” o poder reside no povo, na sociedade civil global e local, na
cidadania mundial e funciona basicamente como meio de comunicação polí tica horizontal
não controlada, como política informacional.
Nesta óptica de abordagem, os principais actores da internet são os profi ssionais
de jornalismo, acti vistas políticos e pessoas de todas as classes sociais. O Electronic
Privacy Information Center, movimento social em defesa da liberdade na internet mani-
32 www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=685, em 07/04/09
33 www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codAr qui vo=685, em 07/04/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
festa visivelmente a ideologia libertária que está subjacente à maior parte dos cibernautas
políticos.
Paradoxalmente, o totalitarismo electrónico está a crescer nos governos (ditatoriais
e autocráticos) da Coreia do Norte, em Cuba e na Síria expresso no controlo a todo
o custo do acesso dos seus cidadãos à internet34.
A China, encerrou todos os cibercafés da principal avenida de Pequim, bem como
aqueles que não se encontravam a menos de 20 metros, nos edifícios governamentais e
escolas35. No Vietname, na Birmânia, na Coreia do Norte e no Iraque o uso individual da
internet é interdito36. No Irão e na Arábia Saudita existem bloqueios a páginas contrárias
aos valores islâmicos e na Síria o acesso individual é autorizado de forma arbitrária37.
Mas, quem controla a internet?
Actualmente é controlada pela empresa ICANN (internet Corporation for Assigned
Names and Numbers), a qual administra a rede e atribui, por exemplo, os nomes
de domínio38. Desde 1998, essa empresa está sob tutela do departamento de comércio
norte -americano, através de um acordo válido até Setembro de 200639. Um número maior
de países exige a criação de uma nova autoridade internacional, abrigada no seio da ONU
(Organização das Nações Unidas), que seja encarregada de garantir uma gestão independente
e justa da internet40.
O rumos associados à internet estão a cargo das leis, dos tribunais, da opinião
pública, dos meios de comunicação, da responsabilidade empresarial e das agências
políticas e o seu uso difunde -se através da riqueza, da tecnologia e do poder (Castells,
2004).
No entanto, destes rumos, à semelhança do que vem citado no volume III de
“O capital”, emergirá o reino da liberdade:
34 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
35 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
36 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
37 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
38 http://www.adur -rj.org.br/5com/pop -up/quem_controla_internet.htm, em 22/4/09
39 http://www.adur -rj.org.br/5com/pop -up/quem_controla_internet.htm, em 22/4/09
40 http://www.adur -rj.org.br/5com/pop -up/quem_controla_internet.htm, em 22/4/09
32
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“Na realidade, o reino da liberdade começa precisamente onde cessa o trabalho
exigido pela necessidade e considerações mundanas; assim, pela própria natureza das
coisas, a liberdade está para além da esfera da efectiva produção material” (Fukuyama,
1992:141) e o reino da liberdade é a tomada de consciência planetária, que representa
todo o conhecimento da humanidade.
Mas, conseguirá a internet acabar com as injustiças e ajudar as pessoas que estão
a morrer de fome ou irão os cibernautas abstrair -se de um mundo físico e viver num mundo
imaginário através do computador?
No futuro, de acordo com Bill Gates, a idade de informação vai levar os países, os
governantes e as empresas a “lutar” pelo controlo da informação e não por recursos naturais
(Gates, 1995:23 -25) e esta é uma realidade que é já certa no seio das inúmeras interrogações
que a internet faz suscitar. As expectativas políticas, a crença que a utilização
em massa da internet fará cair hierarquias, que anulará as desigualdades, que fará fl orescer
a participação e dissolverá o poder centralizado, não sobrevive a uma análise profunda
(Forester, 1993:145). A fórmula que a informação leva ao conhecimento e que este
leva ao poder e o último a uma democracia, não tem substância real (Forester,
1993:145).
Deste modo, irá o preço da informação aumentar?
Certo é, que a informação electrónica, altera e manipula a informação e este facto
é perigoso do ponto de vista político. Shannom, defi niu a teoria da informação como a
redução da incerteza, dando origem a outros avanços como a compressão de dados (escrita,
som e imagens) (Gates, 1995:36).
O carácter obsoleto da humanidade sentimental, da espiritualidade e dos valores
culturais do passado, fazem nascer um novo modelo humano que se volta para si mesmo,
hedonista na sua satisfação material, mais concreto e individualista: surge o cibernantropo
(antropocêntrico, megalómano, obstinado na perfeição do conhecimento)41. O cibernantropo
estrutura e comporta -se mecanicamente, não alimenta valores altruístas ou solidários
e detêm uma sociabilidade funcional, as suas relações são sistémicas, tendo os
41 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
33
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
outros seres humanos apenas signifi cado funcional e não pessoal, vira -se para as suas
necessidades específi cas42. Este, é cidadão do mundo, mas o seu campo de interesses
existenciais reduz -se ao momento e ao lugar presente e à sua consciência programada43.
Da sociedade cibernética, emergem novas forças sociais advenientes da automação
que fazem prescindir o trabalho humano inefi ciente e desorganizado pelas emoções e
simultaneamente a função produtora humana é substituída pela acção consumidora44.
No entanto, do trabalho -lazer libertado pela sociedade cibernética, acentua -se a
solidariedade, a disponibilidade, o altruísmo e a fraternidade na globalidade.
A sociocibernética é fruto da complexidade social, da massifi cação, do crescimento
das relações interpessoais virtuais, da generalização das relações formais e impessoais.
Nos sentimentos humanos, difi cilmente se encontram origem biológica ou material,
tratando -se de mecanismos socioculturais interiorizados e instrumentalizados ao serviço
da manipulação social45. Neste contexto, os mesmos sentimentos são sinónimos de perturbações
emocionais e os refl exos associados aproximam -se do determinismo46, à semelhança
do poder político que relaciona variáveis numa rede das redes.
3. Política, comunicação social e telemática
No que concerne ao conceito de política, a comunidade cientifi ca não é unânime
quanto ao seu objecto, até porque, à semelhança do que é defendido pela investigadora
Cristina Sarmento, o comportamento político ressente -se de várias características do
ser humano que estão longe de ser acções totalmente compreensíveis. Ainda segundo o
que, parcialmente, a mesma autora defende, os politólogos recorrem a todas as ciências
do comportamento nomeadamente à sociologia, à psicologia, à psicanálise, à economia,
à antropologia, à história, ao direito, às teorias da comunicação e às teorias das relações
internacionais.
42 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
43 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
44 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
45 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
46 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
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Para Hawley (Costa, 1998:30 -31), todo o acto social é um exercício do poder, ou
seja, todo o relacionamento social é uma equação do mesmo, todo o grupo ou sistema
social é uma organização do poder e todo o cidadão detém de alguma forma poder. Assim,
poder (conceito frequentemente associado ao de política) pode signifi car o processo através
do qual indivíduos ou grupos são capazes de dominar outros e de concretizar os seus
objectivos, não obstante oposições ou resistências (Cascais, 2001). Nesta sequência, Habermas
defende que o poder destina -se a garantir o automatismo necessário ao funcionamento
das interacções (Carvalhais, 2007:56) e, nesta perspectiva, o poder identifi ca -se
com domínio, com o direito de propriedade, com a possessividade.
Para Foucault, o poder está em todo o lado, é omnipresente, resulta de uma situação
estratégia complexa (Maltez, 2002:327). Segundo este fi lósofo, o Estado assenta em
relações institucionalizadas de poder, havendo um campo múltiplo de relações de força
onde se produzem efeitos globais de dominação, mas jamais totalmente estáveis (Maltez,
2002:327).
Mas, poder é também associado ao “sagrado”, às forças que realizam as “coisas”,
às variedades das formas, como o mesmo pode ser compreendido e activado, à semelhança
dos discurso de Jesus, através de enigmas e parábolas (Woodhead, 2006: 9) ou das
mulheres, com experiências místicas de poder electrónico, à procura de conselheiros espirituais.
Neste sentido, o poder está associado à fé o que cria para si e para os outros um
mundo maravilhoso ilusório e onírico ligada à mente subjectiva, à outra parte da mente,
ao subconsciente, ao cosmo e ao interior de cada um.
Na internet o tempo não é linear, mas em rede. De acordo com Laupies (2005:28),
surge um poder inegável da interioridade: a inversão do tempo linear, que é uma operação
pela qual o sujeito pode arrancar -se ao imediato e determinar -se ele próprio com conhecimento
de causa.
No entanto, poder é ethos, ou seja, ética, valores, harmonia, poder para agregar,
síntese, poder de identidade social (Carvalhais, 2007:30).
Mas poder também pode ser associado ao controlo, e de um ponto de vista sociológico,
à revolução do controlo, que, de acordo com Max Weber, teve origem no advento
do conceito de burocracia (do controlo das forças sociais, libertas pela revolução indus35
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
trial) (Forester, 1993:86 -87).A partir de uma determinada altura no século XX, o controlo
passo a ser a ser executado pela tecnologia informática, pelas novas tecnologias de processamento
da informação, nomeadamente pelo PC (Forester, 1993:86 -87).
Stuart Mill, defi nia a burocracia como “uma vasta rede de tirania administrativa…
o sistema de burocracia não deixa, em França, ninguém livre a não ser aquele, que
em Paris, mexe os cordelinhos” (Forester, 1993:94).
No entanto, foi no século XIX que a revolução do controlo se iniciou: com a invenção
da fotografi a e do telégrafo, depois com a prensa rotativa, a máquina de escrever,
os cabos transatlânticos, o telefone, o cinema, a telegrafi a sem fi os e a fi ta de gravação
magnética. A rádio e a televisão, já emergem no século XX (Forester, 1993:88).
Nesta perspectiva, a cultura política contemporânea está, grosso modo, associada
a termos como controlo, poder, direcção, guia, regulação, comando, domínio e infl uência
(Forester, 1993:88). Com o aparecimento da fotografi a, dá -se a reprodução do real, deixando
a humanidade a marca dos seus pensamentos (para se libertar do esquecimento e
da morte) (Freixo, 2006:33).
Actualmente, o controlo da memória social condiciona largamente a hierarquia do
poder (Sarmento, 2008:70). De facto, o poder nem sempre é físico e, no domínio dos
media o poder é simbólico (Cascais, 2001). Neste sentido, poder dilui -se no princípio
neoliberal da soberania absoluta dos consumidores e da auto -determinação das suas escolhas,
incluindo as escolhas políticas.
Política, como parcialmente concebeu Fukuyama, é o desejo de reconhecimento
nacional e universal e as inerentes emoções, associadas a este desejo, nomeadamente, a
ira, a vergonha e o orgulho que constituem elementos da personalidade humana, (cruciais
na vida política) (Fukuyama, 1992).
Na política internacional, o poder é sempre uma relação, derivando o direito internacional
de valores, da natureza humana e não da vontade dos Estados, sendo o mesmo
válido para todos os lugares e em todos os tempos (Maltez, 2002:241).
Em relação ao conceito de cultura política, Engels alertou que as ideias que prevalecem
na mesma serão sempre as da classe dominante, visto estas possuírem e dominarem
a informação e o conhecimento.
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Com Mattelart (1991) o poder das redes técnicas de comunicação está directamente
relacionado com o desenvolvimento dos mecanismos de opinião de massas?
A política na internet, exerce -se, principalmente, a partir da produção e difusão de
códigos culturais e conteúdos de informação (Castells, 2004).
Na net (internet), o poder é um conjunto de articulações laterais e verticais, mas não
piramidal. De facto, de acordo com Bennetton Groce, o idealismo realista não é um devir
linear, mas circular, com um aspecto multiforme de uma só realidade (Maltez, 2002).
Roland Barthes, semiólogo, dedicou -se ao estudo dos signos, dos símbolos nas
sociedades considerou que os mesmos formam sistemas, sendo o seu lugar privilegiado
de produção e difusão os meios de comunicação de massas. Assim e, de acordo com Francis
Bacon, o poder e o conhecimento são simbólicos (Maltez, 2002). O poder é o Estado-
-espectáculo, é o Estado -ecrã.
A medialogia estuda as vias e os meios da efi cácia simbólica e criou a cultura global,
caracterizada fundamentalmente pela homogeneização de valores, provocada pela
ocidentalização e convergência normativa de valores, “largando” as raízes e procurando
novas identidades apátridas (Maltez, 2002).
A rede de poderes criou micropoderes novos: tecnociência da criação de símbolos,
os grandes media (sistema dominante), que se demarcam claramente dos tecnocratas dos
anos sessenta do século XX (Maltez, 2002).
Os sábios cientistas vão dominar as sociedades, como previa Comte?47
Sim, os cientistas e os técnicos serão os assessores das máquinas, modelando a
aldeia planetária e a comunicação humana (na sua lógica, no seu macro sistema e na convergência
internacional, sem barreiras políticas, geográfi cas ou culturais), atingindo uma
comunicação sistémica cosmopolita48.
No que diz respeito ao conceito de comunicação, defi ne -se como o meio através do
qual determinadas informações ou signifi cados são transferidos de uma ou mais pessoa, os
emissores, para outras pessoas, os receptores (Franco, 1997: 196 -206). Mas, a comunica-
47 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
48 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
ção é também essência da actividade humana (Castells, 2004). Os signos podem ser de
natureza verbal e não -verbal. Mas, comunicar envolve tudo aquilo que pode ser o domínio
sobre o espa ço/ tempo, o alargamento da perspectiva mental e animação do espírito como
produto da exposição à novidade (Mattelart, 1991), renovando deste modo a democracia.
A comunicação inclui todas as formas de inscrição gráfi ca rudimentares ou eruditas que
têm as suas raízes na necessidade humana de comunicar ou exprimir (Diringer, 1968: 16).
As formas são uma espécie de magia por simpatia, como por exemplo a pintura e
a escultura (Diringer, 1968:17 -18). A escrita já é uma forma consistente e sistemática de
comunicação e desenvolvimento do intelecto consciente da humanidade, de consciencialização
da língua, da base do conhecimento de si mesmo e do mundo, do espírito crítico
(Diringer, 1968:17 -19).
A ciência da escrita liga -se mais com aspectos biológicos e psicológicos do que
coma própria história (Diringer, 1968:23). A escrita ideográfi ca (também expressa na informática)
manifesta ideias, conceitos, transmite abstracções, subtilezas e associações
múltiplas (Diringer, 1968:23).
No estudo das formas políticas expressas através da cibercultura, assume particular
importância a escrita analítica e fonética cuja unidade base é o estudo das palavras, do
som na língua em que a mensagem é representada.
A análise da decadência das formas políticas, mostra como a democracia degenera
em tirania, devido a um amor insaciável pela liberdade (Laupies, 2005:18 -19). A liberdade
extrema dá origem à extrema servidão: a unidade da cidade perde -se na anarquia e,
como respostas a esta decadência, o povo apela para um protector, que não tarda a revelar-
-se um tirano (Laupies, 2005:18 -19).
E, de acordo com Shannom e Weaver, o fenómeno comunicacional envolve todos os
procedimentos pelos quais uma mente pode afectar outra e as formas (incluindo políticas)
como a sociedade mantém o controlo nas relações sociais e internacionais, que é proporcionalmente
directa ao desenvolvimento das tecnologias de informação (Forester, 1993:89).
A comunicação entre as pessoas e os líderes que elegeram, pode ser facilitada
pelas novas tecnologias de comunicação, diálogo e troca de informação, a pedra angular
de um corpo político informado (Forester, 1993:234 -236).
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Em relação à internet enquanto espaço de comunicação, esta é a manifestação
natural da sociedade de informação cuja base é a produção de conhecimentos e não a produção
de bens materiais e cujo motor são as tecnologias de informação e comu nicação.
As redes de comunicação na internet não são mais do que redes sociais, de interesses
mútuos, de partilha de ideias, valores com identidades que se transmitem na circulação
da linguagem simbólica, nos limites das culturas e nas relações de poderes. Mas, a
comunicação entre humanos evolui e, o bom senso, diz -nos que a mesma evolua na compreensão,
conforme defende Habermas, na abertura ao outro (Sarmento, 2008) e a si
mesmo, na auto refl exão.
A pós -industrialização criou o fenómeno da comunicação audiovisual e da comunicação
de massas cujas técnicas contemporâneas permitem a um actor social dirigir -se a
um público extremamente numeroso (Alves:2005). Mas, na comunicação de massas,
estudam -se dados de ordem psicológica, psicanalítica e antropológica (Alves, 2005), tendo
a comunicação grande efi cácia em domínios como propaganda política, publicidade
instrumental e educação.
Conforme Castells (1999), a comunicação emergente mediada por computador,
começa por ser desenvolvida em ondas concêntricas iniciando -se nos níveis de educação
e riqueza mais altos e provavelmente incapazes nesse período de atingir efi cazmente
grandes segmentos de massa sem instrução, incluindo os países pobres49. Assim, a comunicação
política através dos órgãos de comunicação social, visa atingir as massas e
públicos, realidades facilmente manipuláveis por parte dos cen tros de poder político e
económico.
Nesta perspectiva, comunicar é tornar comum, é a aplicação de uma ideologia que
é universal e a internet é o “meio” pelo qual a mensagem circula e interage na comunicação
demo crática semiótica.
Comunicar é também socializar e numa perspectiva marxista, “é o ser social que
determina a consciência e não a consciência que determina o ser social” (Lefebvre,
1997).
49 http://www.abed.org.br /publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=3esp&infoid=916&
sid=69, em 16/07/08
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
No eventual estudo da interacção entre ciência política, comunicação social e telemática
será pertinente realizar uma abordagem holística de conteúdo multidisci plinar e
transdisciplinar recorrendo à fi losofi a, à economia, ao direito, às relações internacionais,
à antropologia, à psicolinguística, à neurofi siologia e à sociologia, bem como à hermenêutica
e à medialogia.
Régis Debray apresenta a disciplina da medialogia, que estuda a interacção entre
técnica e cultura ligando os media aos seres humanos e organizando as socie dades (Cascais,
2001). Já Marshall Macluhan, trata a medialogia como canais, meios que valorizam
funções sociais e políticas (Cascais, 2001).
Nesta perspectiva, é pertinente abordar o conceito de telemédia. Esta ciência,
dedica -se ao estudo da telecomunicação, das diferenças entre transmissão e emissão e ao
estudo da recepção das informação, nomeadamente sinais, signos, escrita, imagens, sons
e dos ensinamentos por via radioeléctrica, óptica ou outros sistemas electromagnéticos
(Alves, 2005). Neste contexto, a energia é a força por trás dos nossos campos magnéticos
e, neste sentido, a inteligência, é então a infl uência que direcciona esta força através de
ondas rádio.
A telemática dedica -se ao estudo da informação emanada pelo computador.
Salienta -se, nesta sequência estrutural de pensamento, que cada refl exão, cada sentimento
e cada acto da percepção são formados de imagens psíquicas e o mundo só existe, na
medida em que os seres vivos são capazes de produzir ou reproduzir as suas imagens,
como parcialmente contextualizou Jung (1971:5 -6).
A psicologia do inconsciente de Jung, matriz espiritual, contém material arcaico
que se identifi ca com as ideias fundamentais da mitologia e com as formas análogas de
pensamento, formas de misticismo na possibilidade de auto -libertação, na introspecção e
na realização das compensações inconscientes que se processam através da linguagem
simbólica (Jung, 1976:16 -17).
Neste contexto, no estudo das imagens, ganha especial importância a descoberta
da fotografi a como passagem da civilização texto à civilização da imagem, na revolução
das representações e divulgações do poder, de espaço maior de afi rmação da própria liberdade,
do individualismo e da racionalidade (Alves, 2005). A fotografi a, participa no em40
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
prego, de uma forma embrionária de democracia directa e consegue uma deslocação da
autoridade para o campo afectivo, numa missão civilizadora, progressista social mente e
homogénea culturalmente, para além de libertadora (Alves, 2005).
Em relação ao cinema, criou -se um novo espaço/tempo social de coroação do individualismo
de base fi losófi co -burguesa cuja imaginação se encontra no poder (Al ves,
2005). O cinema ou imagem animada inaugura a cultura da imagem, a nova linguagem
para o conhecimento (Freixo, 2006:35 -36). A radiodifusão é o primeiro sistema de telecomunicações
de massas, possuindo o dom da ubiquidade (Freixo, 2006:37 -38). “La Sortie
de l’usine Lumière à Lyon”, é um dos primeiros fi lmes da história do cinema. É por vezes
considerado como o primeiro fi lme a ser projectado em público. O fi lme, uma cena de 45
segundos, foi produzido e distribuído em 1895 pelos irmãos Lumière. Evoca o poder de
uma sociedade indus trial em pleno desenvolvimento, “despertando -nos”para o mundial,
para o global.
A rádio e a televisão revolucionaram o sistema cultural, social, político, no qual se
produz entropia. A televisão coloca ao seu serviço a informática, a electrónica e o satélite
(Alves, 2005). A moderna comunicação cultural cria relações culturais as quais se traduzem
pelo aparecimento de um novo poder, o poder da informação, ainda mal conhecido e
mal controlado (Alves, 2005).
A imprensa é a primeira forma de garantia da uniformidade, do trabalho em cadeia,
eminentemente repetitivo, da normalização do saber e do nascimento da consciência
individual e do cogito da humanidade.
A informática, de acordo com Philippe Dreyfus, trata automaticamente a informação
através do movimento produzido pela máquina (computador), sendo o su por te dos
conhecimentos humanos e das comunicações técnicas, económicas, sociais e também,
embora incipientemente, sobretudo no âmbito da internet, já políticas.
Associado ao conceito de informação, parece inevitável referir que a mesma torna-
-se, simultaneamente, distribuída pela extensão de cada um dos campos holográ fi cos e
enlaçados com estes (Laszlo, 1997). Daí que, a reconstrução de imagens políticas sensoriais
pode fazer -se a partir de qualquer fragmento no interior da totalidade do campo de
percepção, porque esta revela pois um aspecto holístico (Laszlo, 1997).
41
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com Serge Moscovici, fi lósofo da tecnologia e psicólogo social, o estado
cibernético da natureza emerge na nossa época (Leone, 2000), tal como os futuristas
italianos foram os primeiros a imaginar através da poesia o início da sintonia e do equilíbrio
planetário simultâneo, expressão máxima dada pela utilização da telefonia sem fi os,
da rádio e da rádio telefonia.
De acordo com Gregory Batesos, defensor da Escola de Palo Alto, a comu ni cação
está associada à auto -organização, ao conexismo ou versão expressiva da inteli gência
artifi cial (Lucien, 1991). De acordo com a mesma escola, na área dos estudos sobre comunicação
é proposto um modelo circular, ou seja, retroactivo, um processo social em
vários níveis e múltiplos contextos, integrando múltiplos modos de comporta mento, múltiplas
linguagens e códigos (Mattelart, 1991).
O estudo da comunicação no âmbito político, centra -se sobretudo nos valores, nos
símbolos e representações que organizam os espaços da cidadania nas democracias na
comunidade internacional, através dos meios de comunicação social, da internet, das sondagens
de opinião, do marketing político, da publicidade, das argumentações, da retórica
política com especial destaque para os períodos eleitorais
O sistema de pro ces samento da informação política, de acordo com a inteligência
artifi cial, é um sistema de signos seguindo uma concepção representativa da comunicação
(Lucien, 1991). A comunicação política transfere informação através dos memes,
que são, de acordo com Richard Dawkins (1976), unidades de informação que se
multiplicam de cérebro em cérebro50. Assim, um meme é uma unidade de evolução
cultural que se expressa por meio de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores
estéticos e morais ou qualquer coisa transmitida e aprendida como unidade autónoma,
sendo a memética a ciência que estuda os modelos evolutivos de transferência de
informação51.
Os meios de comunicação de massas representam a potencialidade de organizar e
mobilizar grupos que até então viviam sem grande expressão no cenário de debate e decisão
política e, de acordo com os estudos de Martin -Barbero, em 1997, foi demons tra do
50 Cyberphilosophy.blogspot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, em 18/08/08
51 Cyberphi lo sophy.blogspot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, em 18/08/08
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que os meios de comunicação trouxeram novas possibilidades de interacção social e expressão
da cultura52.
As ideologias que emergem da transmissão política, através dos órgãos de comunicação
social, são orientadas sobretudo por um sistema de instrumentalização de massas,
que agem da circulação dos memes53 na infosfera, no consumismo das necessidades de
poder, da comunicação através das linguagens virtuais. Deste modo, nas sociedades tecnológicas
a intermediação da tecnologia percorre um número cada vez maior de processos
sociais, repercutindo -se no sistema económico, político e cultural apresentando uma
ruptura com o sistema centralizado, deslocando -se para uma estrutura onde existem vários
centros de poder que se alternam permitindo um fl uxo maior de informações54.
Ao nível da comunicação política, o primeiro a utilizar os recursos da internet foi
Bill Clinton nas eleições primárias de 1992, através do correio electrónico55. Mais tarde,
nas eleições de 1996, Clinton fez um aproveitamento mais alargado dos recursos da internet56.
Rapidamente, a utilização deste meio foi alargada a outras forças partidárias em
muitos países57.
A internet, é um excelente meio para a comunicação política: é rápida, efi caz na
capacidade de resposta, não está sujeita a limitações no tempo e no espaço e não é cara,
tendo em conta as suas potencialidades58.
Os cibercidadãos, muitos sem terem consciência, são controlados internamente
nas formas de sabedoria, através das linguagens, dos meca nismos de censura, das recompensas
típicas da sociedade de consumo de massas e nas suas relações interpessoais e
colectivas.
A cultura do consumo, está interessada em ajustar a humanidade a um número
ou a uma peça de máquina, aos padrões do seu sistema, à semelhança da máquina que
52 http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/territo rio.pdf, em 18/08/08
53 http://pt.wikipedia.org/wiki/Meme, em 29/04/09
54 www. biblio te cadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=685, em 07/04/09
55 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
56 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
57 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
58 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
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não tem que sentir, tem que funcionar como um cibernantropo, produzido à imagem
desta59.
Segundo Quéau (2001), e seguindo a proposta de Chardin, a noosfera (esfera dos
espíritos ou da inteligência colectiva) é a conjugação das inteligências pessoais livres que
comunicam e comungam da ascensão da consciência colectiva60. Na noosfera, nasce o
político, da camada pensante da terra, ligada à biosfera (Maltez, 2002).
A comunicação interactiva é essencialmente de apreensão global, universal.
Mas, haverá um imperialismo político (Lucien, 1991) exercido pelos media?
Ou um con trolo exercido pelo emissor sobre as populações?
Certo é, que a comunicação é o ideal da expressão e de trocas que está na origem
da cultura ocidental e por conseguinte da democracia, conceito inseparável da modernidade
(Wolton, 2000).
No entanto, em relação à comunicação através da técnica (realidade antropológica
contemporânea) o bom senso, demonstra per si, que à mesma, se sobreponha uma dimensão
humana, social e política.
A validação do saber, numa sociedade orientada pela técnica, pela ciência e pela
consciência individual e colectiva (através das conexões em rede) só pode residir no consenso
que se obtém pelo diálogo na cidadania, enquanto parte integrante da sociedade de
conhecimento (futura sociedade de informação) e de uma sociedade livre (onde a humanidade
se liberta através da criatividade expressa na rede). Esta teoria (das conexões em
rede), criada pela net, é uma manifestação da representação, da imaginação que diz respeito
à criação artística política, à política enquanto arte da comunicação da palavra, dos
símbolos, dos signos, dos sons e das imagens. O sinal, fenómeno físico, a maior parte das
vezes eléctrico, por meio do qual se transmite uma informação (Cadoz, 1996: 133), conecta
a cidadania em rede nos caminhos das “auto -estradas de informação”, dos pensamentos
humanos, na sua forma de produção, de consumir, de gerir, de comunicar, de viver,
de morrer, de fazer a guerra e de fazer amor (Castells, 2003). Assim, a evolução do
59 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
60 http://www. abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=3esp&infoid=916&
sid=69, em 16/07/08
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conhecimento parece caminhar ao lado dos inte resses económicos, políticos e da informação,
à semelhança da tipografi a, que permitiu a emergência do modelo que levou à
prática da liberdade de expressão e de opinião.
No século XIX e no século XX o telefone, a rádio e a televisão possibilitaram o
adven to da democracia de massas, e no fi nal do século XX e início do século XXI a informática,
nomeadamente a internet, veio permitir uma séria crítica ao sucesso do modelo
de mo crático representativo com a emergência alternativa de renovação do activismo polí
tico, da democracia participativa, da consulta política de carácter virtual, sobretudo de
utilização por parte das minorias com especial incidência na Europa e no conti nente americano,
fundindo -se (através do som e da imagem on -line) os diversos pú blicos, grupos
sociais e meios culturais, o que trará repercussões óbvias na prática política. Nesta sequência,
a liberdade de comunicação na era das redes e dos satélites vai interna cio nalizar
os povos na globalização das culturas e dos regimes políticos. Esta realidade, é vivenciada
com intensidade pelas elites, pelos políticos e pelos jornalistas na utilização corrente
das novas tecnologias.
Segundo Dominique Wolton (2000), as novas tecnologias de comunicação foram
bem sucedidas nos seguintes factores: atracção pela modernidade e procura de novas solidariedades
com os países mais pobres. Mas, a lógica política parece não conseguir acompanhar
no tempo -espaço o ciberactivismo político e a ciberdemocracia participativa.
Paralelamente, a telemática contemporânea fez desaparecer as diferenças entre
espaços virtuais comuns, público e político e também entre nação, identidade e desterritório
ou território imaterial ou ainda território da mente, ou do conhecimento. O “cérebro
do planeta”, a telemática, surge como um novo horizonte de poder em que a informação
funciona como novo modo global de regulação da sociedade, uma nova ágora informacional,
alargada à dimensão das nações modernas, das novas relações entre a cidadania e
o Estado, a sociedade civil e o Estado onde o saber é a mais importante competição mundial
pelo poder (Mattelart, 1991).
No entanto, é provável que a utilização generalizada das novas tecnologias faça
resultar uma série de novos confl itos sociais, culturais, políticos e económicos, sobretudo
porque a internet veio modifi car, em menos de 50 anos, as condições de partilha de poder
no globo terrestre. À semelhança, o poder na net disseminou -se em rede, não havendo um
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
ponto de vista central, nem hierarquias sociais, nem quadros superiores, detendo cada
comunidade virtual a sua autonomia e os seus confl itos na transmissão de sinais electrónicos
políticos.
Paradoxalmente, Lévy (2003) contrapõe que os fl uxos de informação são analisados
pela NSA (National Security Agency) no ciberespaço e descobriu -se que a mesma
instituição, em cooperação com os serviços de espionagem do Reino Unido, do Canadá,
da Austrália e da Nova Zelândia, submetia à sua vigilância e à sua investigação todas as
comunicações mundiais, inclusive a dos Estados e das grandes empresas europeias.
Os governos e o sector privado devem trabalhar em conjunto no sentido de proteger
os cidadãos e não destruir as liberdades fundamentais, na adopção de mecanismos de
vigilância.
Certo é que, as telecomunicações estão ao serviço da saúde pública, da justiça, dos
serviços postais, do estado de emergência e do ensino.
A revolução informacional do fi nal do século XX e do século XXI deu origem ao
soft power caracterizado essencialmente pela informação livre como fonte de novas formas
de poder. As netwar dão vida na rede aos movimentos activistas ou participativos
nomeadamente às ONG, aos movimentos de guerrilha, ao terrorismo e aos cartéis de droga.
Os zapatistas em 1994, desenvolveram uma estratégia a partir da sua primeira campanha
de informação (Mattelart, 2002), transmitida através da net por uma rede de ONG no
México, nos EUA e no Canadá. O Primeiro Encontro da humanidade contra o neoliberalismo,
em Chiapas no México em 1996, sob a égide do movimento zapatista, reuniu mais
de três mil representantes de movimentos sociais e aprovou a Segunda Declaração pela
Humanidade e contra o neoliberalismo, onde reforçou a importância das novas tecnologias
de informação na resistência contra a globalização neoliberal (Nunes e Lima, 2004).
Por outro lado, Teilhard de Chardin (Arquilla e Ronfeld, 1999) aplica o termo
cyberwar (guerra do conhecimento) aos confl itos de tipo militar em grande escala, mas
modifi cados pelas tecnologias de inteligência.
A guerra civilizacional imaginada por Alvin e Heidi Toffl er, é caracterizada pela
luta na obtenção de ideias, valores, imaginação, símbolos e imagens num plano sem poder
centralizado, sem gestão global e sem fronteiras. Destaca -se, neste contexto, Nicholas
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Negroponte (em,“Being digital”) que descreve a rede como uma força neodarwinista impossível
de travar ou de conter e que torna nula e de nenhum efeito as noções de centralidade,
de territorialidade e de materialidade (Mattelart, 2002).
Em 1985, o ciberespaço proclama a sua independência pelo co -fundador da Electronic
Frontier Foundation e da carta dos pioneiros da WELL (Whole Earth Electronic
Link) fundada na Califórnia (Barlow, 1996, Rheingold, 1993). Em 1994, redige -se o manifesto
“The cyberespace and the american dream: a magna carta for the knowledge
age”, por uma colectividade e distribuído pelo Progress and Freedom Foudation. Nesta
magna carta da terceira vaga, o manifesto reivindica a desmassifi cação, a personalização
do consumidor, a individualidade e liberdade no âmago do ciberespaço. Assim, parece ser
evidente que, a sociedade em rede inaugurou um mundo virtual sem leis onde o poder
politico no sentido clássico do termo é abolido.
A comunicação mundial é realizada através das novas tecnologias em rede, que se
opõem às fronteiras estaduais, na construção de um campo de observação científi ca que
tem por objecto a “comunicação internacional” (Mattelart, 1991). Neste contexto, o papel
da teoria psicológica e sua metodologia de pesquisa cruza -se com outras disciplinas, nomeadamente
com a sociologia, a antropologia, a psicologia social e a ciência política
(Mattelart, 1991)). Mas, este tipo de comunicação, visa essencialmente atingir a economia
de desenvolvimento e o processo de subdesenvolvimento.
Será, provavelmente, através da comunicação simbólica que a unifi cação do universo
se processará, sobretudo através de fi guras como a liberdade, a nação e igualdade
que representam imagens dos signos, convocando culturas, tradições e memórias do
passado. Contudo, a cibercultura evoca muito pouco das memórias do passado, sendo
uma cultura futurista que requer a passagem da pessoa “presa” em direcção ao exterior,
para a rede.
Para Habermas, a comunicação está no cerne do vínculo social (Lucien, 1991).
Em paradoxo, Jacques Ellul (Lucien, 1991) explicita que o “Homem -político” é vítima de
ilusões de liberdade e através da técnica, auto -simboliza -se. À semelhança, o Estado, a
nação e a soberania são construções teóricas ou modelos mentais, são selecções de uma
complexa paisagem (Maltez, 2002:232).
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Marcuse “visualiza” a super repressão que a humanidade vivência (derivada na
escassez dos bens de consumo da sociedade de consumo) na manifestação da contra cultura
(Sarmento, 2008).
Neste contexto, Guy Debord61, salienta que o controlo da emissão é fundamental
para a emergência da noção de cidadania onde o cidadão hipnotizado pelo simulacro mediático
pode agir como simples receptor de informação.
A humanidade, em estado de hipnose colectiva (adormecimento provocado pela
acção dos media no subconsciente) encontra -se aniquilada pela hipótese de escolha política,
de alteração das suas decisões políticas, de critica politica.
Mas, o poder dos meios de comunicação de massas deu origem a um novo tipo de
poder e também a uma contracultura, a uma nova era, a era do conhecimento. Neste sentido,
do uso generalizado da internet, surge a virtualidade no imaginário colectivo dos
cibernautas. Uma virtualidade potencialmente real gerada nos melhoramentos comunicacionais
dando espaço -tempo à recepção da informação cósmica e às visões mundiais,
nomeadamente no crescimento dos movimentos feministas que, a partir dos anos 90 (século
XX) começaram a trabalhar em rede, na globalização dos feminismos. De facto,
empowerment é uma nova forma de fazer política baseada no uso da internet, na sua comunicação,
nos seus canais e nas suas redes, nos seus laços, nas suas comunidades e nas
suas entidades, abrindo mão do controle centralizado.
Torna -se importante, no estudo da cibercultura política, a abordagem ao conceito
de telemática, tendo em conta que se trata da comunicação à distância de um conjunto de
serviços informáticos fornecidos através de uma rede de telecomunicações e de informatização
que possibilita o processamento, a compreensão, a armazenagem e a conexão em
rede da cultura política electrónica no ciberespaço pela cidadania em qualquer espaço do
globo num tempo diminuto. A telemática cibercultural traduz uma simbologia em identidades
fragmen tadas nas quais a teoria das conexões em rede se difunde.
Arthur Kroker, cientista político, alertou, em 1994, para a constituição de uma
classe dirigente composta de administradores, formuladores e executores da telemática,
61 http://www.facom.ufba.br, em 21/05/09
48
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uma verdadeira classe virtual, uma nova elite que comandaria uma sociedade dividida
entre inforicos e infopobres62.
Salienta -se, que esta simbologia da cibercultura telemática, representa nitidamente
a fenomenologia do inconsciente colectivo global. Este inconsciente colectivo é de
natureza mitológica porque a sua forma e conteúdo de representação é primitiva e universal
cuja raiz se encontra nos mitos, na supra pessoalidade, comum a toda a humanidade,
aos mitos e fábulas de qualquer povo e de qualquer época (Jung, 1971:97).
Hoje, vivemos numa época de importantes transformações sociais, culturais e
politicas em que as vertiginosas acelerações destas mudanças exprimem as relações de
poder da sociedade contemporânea, substrato do desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação. As novas tecnologias constroem a próxima era da realidade
política e social sendo os media que seleccionam os signos, códigos, imagens e símbolos
que irão ser absorvidos pela cidadania no contacto com a comunicação telemática.
O conhecimento dos líderes e factos políticos, por exemplo, é conhecido por meio da
comunicação escrita, oral, audiovisual e táctil em rede global e, à volta da internet,
organizam -se movimentos, partidos, instituições e seres humanos que são consultados,
participam e tomam decisões.
Wilson Gomes, num artigo intitulado “Opinião pública na internet”, sublinha o
facto de que as notícias de carácter político circulam na internet através dos computadores
pessoais com possibilidade de interconexão e transmissão, mas isentas de intermediários.
Deste modo, a internet descentraliza as relações de poder devido à possibilidade e
rapidez de acesso à informação e à ausência de legislação nas posturas e emissão de informação
política.
A linha política gerada na internet não é institucional, o que pode abrir alas para a
luta dos movimentos sociais, culturais e políticos das minorias, dos excluídos socialmente,
dos mais desfavorecidos, das ONG e dos seres humanos enquanto cidadãos.
A telemática, ao utilizar os simbolismos técnicos, desterritorializa as fronteiras
jurídicas, sociais, físicas, simbólicas e culturais e, à semelhança as sociedades con-
62 http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codAr quivo=685, em 7/04/09
49
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
temporâneas caracterizadas por serem de informação, globalizaram as actividades em
rede, construíram novas identidades, e contribuíram para a crise do patriarcado e do
Estado -nação.
A cultura da virtualidade, ao tornar as redes interactivas dinâmicas, pôs fi m às
audiências de massas e fez nascer na comunicação humana escrita, oral e audiovisual na
interacção dos dois hemisférios cerebrais, das máquinas e dos contextos sociais uma nova
consciência colectiva e individual.
A informática e a internet em particular, funcionam como mediadores de imagens
e símbolos da realidade virtual nutridas pelo carácter variado e plural dos signifi cados culturais
(contracultura, subcultura, cultura de elite, cultura das minorias, cultura juvenil, cultura
popular ou de massas, cultura de classe, cultura feminina, cultura étnica, cultura material
e cultura de movimento) nascidos nos anos setenta do século XX (Franco, 1997:30 - 31).
São estas culturas, que vão moldar a consciência como produto social e político.
Na verdade, já Marx afi rmava que “a consciência é um produto social” (Franco,
1997:35), tal como as ideologias que têm origem nas ideias, na gramática e na lógica,
como conceptualizou Antoine Dertutt de Tracy (Franco, 1997:37). Ainda, segundo Marx,
a ideologia é um instrumento de poder e de manipulação da consciência, e nesta matéria,
a informação é o vínculo que une a cidadania ao poder político. Deste modo, a ideologia
da cultura electrónica, à semelhança das restantes, pode ser considerada, seguindo o raciocínio
do mesmo pensador, um instrumento de dominação que age através do convencimento
(e não da força) de forma prescritiva, alimentando a consciência humana e mascarando
a realidade de uma forma não científi ca63.
Mas será a realidade virtual mascarada? Será somente uma realidade em potência?
O discurso político virtual, pode ter uma dimensão que relaciona as marcas deixadas
nos textos orais e escritos com as relações de produção, as quais se inserem na formação
ideológica, que tanto podem transformar quanto reproduzir as relações de domínio
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia, em 29/04/09). Assim, e de um ponto de vista marxista,
a ideologia cria uma falsa consciência sobre a realidade.
63 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideo logia, em 29/04/09
50
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Serão a inteligência e a consciência colectiva de Lévy falsas?
Não, a teoria das conexões em rede é, na sua essência, baseada na doutrina estóica,
simultaneamente universalista e individua lista que age através da “fusão” do iluminismo
e do sistema monodológico de Leibniz.
Nesta estrutura de pensamento, não será a realidade virtual a verdadeira realidade
em sintonia com a ordem implicada de Bohm (que defende no universo halográfi co, denominado
dinâmico, a existência de níveis superiores de ordem e informação, contidos na
estrutura do espaço, matéria e energia) e das teorias das variáveis “ocultas”, que dizem
que existir dois níveis de realidade, do espaço -tempo, uma implicada (tudo o que ocupa o
seu lugar no domínio) que se revela como manifestação de uma ordem subjacente ou
implicada, outra explicada, ou seja, tudo o que observamos?
Esta última ordem (explicada) não é a realidade, é ape nas uma derivada, não perceptível,
à semelhança da teoria da incerteza de Heisenberg. De acordo com este princípio,
a realidade não é como se nos apresenta, mas como a observamos, segundo a nossa
estrutura mental.
A comunicação social através da telemática criou quantidades colossais de cultura
política não realista (no sentido comum do termo) do pensamento. No entanto, poderão
ser consideradas ideias que possuem uma dimensão profundamente criativa, que agem ao
nível do espírito colectivo da humanidade, com causas na realidade, nos impulsos de poder
político que actuam ao nível das práticas sociais.
Também as imagens do mundo de cariz político transmitidas através da telemática,
são expressões da tecnocultura na transformação sociopolítica e sociocultural, na libertação
espiritual e psicoevolutiva dos seres humanos.
Em relação à cultura política, iremos nós dissolvê -la pelo desaparecimento da
escrita, com o crescimento do audiovisual?
Alguns fi lósofos contemporâneos, perceberam o esmagamento previsível destes
mecanismos elementares do pensamento através da técnica, tais como Nietzsche ou Heidegger
que quiseram convidar -nos a regressar à Grécia (Marques, 2003:31).
A televisão e o seu fascínio, não é fruto da imagem animada, ela reside neste desvio
quase imperceptível entre o objecto real e o seu duplo no televisor, esta ínfi ma deslocação
deve -se ao simples facto de no real, a distinção entre o sujeito e os objecto existir
51
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
no espaço e no tempo e ao abolir estas duas dimensões, a televisão restitui a forma da
indistinção e da comunhão. Isto fascina, pois toca as raízes daquilo a que chamamos sagrado
(Marques, 2003:33). Nesta linha de pensamento, o poder não é uma qualidade
inerente aos indivíduos, antes surge sob um aspecto essencialmente teleológico, ou seja,
de acordo com Balandier, é a capacidade para produzir efeitos por si próprio sobre as
pessoas e sobre as coisas (Balandier, 1987:45).
Em conclusão, a comunicação política, nas sociedades contemporâneas está directamente
associada à visão, ao sensorial visão, onde se projecta demasiada informação,
demasiada energia absorvida pela magia da simulação da hiper -realidade política. Deste
modo, imaginação é poder, é a fonte que alimenta a inteligência colectiva da ordem da
utopia fi nalista da era da alienação social. A comunicação apela ao hilariante social, ao
político, ao material, à pornografi a, ao corpo, à imagem e signos simbólicos trabalhados
do objecto da paixão, à sedução amorosa da revolução informática, porque o conceito de
utopia está associado ao de felicidade, de acordo com Charles Fourier (Sarmento, 2008).
O mal -estar freudiano, conectado com a repressão sexual, encontram com a ciberpornografi
a alguma falsa libertação e a tão desejada libertação sexual depende da “felicidade
das massas”.
De acordo com Marcuse, guru dos anos sessenta, as sociedades contemporâneas
são formas de dominação cultural cujos fundamentos racionais -tecnológicos são a sociedade
de consumo, hierarquizada na divisão social do trabalho, o que impede a humanidade
de se aproximar da sua natureza, das suas raízes, da sua matriz (Sarmento, 2008:147).
O progresso, dominado pela razão científi ca ou instrumental impossibilitou a emancipação
e a solidariedade, permitindo o distanciamento dos partidos políticos e das instituições
tradicionais da implementação destes conceitos (Sarmento, 2008:151).
No entanto, o impacto das tecnologias de informação nos governos foi sobretudo social
e político, nomeadamente criando novos modelos de computadores e de software, melhorando
a tomada de decisões em situações complexas, no melhoramento do funcionamento dos órgãos
legislativos (mais informativos e democráticos), na monitorização do transporte automóvel,
conducente ao pagamento de portagens, nas maiores possibilidades do cidadão na participação
política e na integração de fi cheiros pessoais em base de dados nacionais (ameaçando o direito
à privacidade) e na vulgarização do discurso político estereotipado (Forester, 1993:74 -79).
52
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
A manipulação através dos media exerce sobre a sociedade uma poderosa pressão
em detrimento da nossa individualidade pondo em causa a liberdade do pensamento livre
e da sua expressão. Os jovens são especialmente propensos à manipulação pelas ideias
falsas nesta era do vazio.
Cria se o “príncipe electrónico” em substituição do “príncipe” de Maquiavel e do príncipe
moderno de Gramsci64. Este novo príncipe, não é hegemónico, nem soberano, nem representa
um partido político, é uma entidade ubíqua, presente em todos os níveis da sociedade no
âmbito regional, local, nacional e mundial65. È um intelectual activo e orgânico das estruturas
e blocos de poder (jornalistas, fotógrafos, cineastas, programadores, actores, redactores, autores,
psicólogos, sociólogos, relações públicas, especialistas em electrónica, informáticos e cibernéticos,
globalistas e outros profi ssionais da indústria da manipulação da consciência)66.
Estudos sérios sobre computadores e a política, leva -nos a concluir que incidem na
violação da privacidade, afectam as liberdades mais básicas, afectam os contactos frente-
-a -frente e os sinais electrónicos podem destruir as formas sociais e políticas existentes,
sendo a autoridade politica redefi nida, sem limites impostos pela situação geográfi ca, o que
poderá constituir uma nova armadilha da revolução de controlo (Forester, 1993:147 -149).
Na verdade, poucos têm tempo e capacidade para refl ectir sobre este debate: estamos
distraídos com as maravilhas das tecnologias de informação e comunicação e com a
ditadura do consumo. A chamada democracia antecipativa, preconizada pela conspiração
aquariana (associada a estudos elaborados pelo Instituto Avistock de relações humanas),
criou e continua a criar, o paradigma malthusiano pós -industrial (da nova era), junto com
a cultura rock, drogas e sexo, ameaçando a civilização judaico -cristã67. Na mesma conspiração,
subjaz a campanha de lavagem cerebral de longo prazo para mudar os valores e
o enfoque moral da população dos EUA68.
Na Segunda Guerra Mundial, os resultados de efeitos de terror foram usados em
ambientes de lavagem cerebral de pequenos grupos que também poderiam ser usados em
64 http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/ianni.rtf, em 13/8/09
65 http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/ianni.rtf, em 13/8/09
66 http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs/ianni.rtf, em 13/8/09
67 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
68 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
53
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
grandes grupos69. Depois, desenvolveram uma teoria de lavagem cerebral chamada turbulência
social que mergulharia toda a sociedade numa espécie de psicose controlada,
levando as pessoas a regredir a um estado infantil70. O último estágio deste paradigma de
desintegração de sociedades estabelecidas, leva os indivíduos a tornarem -se numa unidade
básica da sociedade, onde fantasia e realidade são indistinguíveis71. Neste estágio, o
governo cede lugar à tomada de decisão política directa via estados sensoriais72. Surge,
então, a era da informação73.
A era tecnotrónica, lançará as bases para uma ditadura benevolente por parte de
uma elite, onde a possibilidade de controlo químico da mente torna -se uma realidade74.
De facto, nesta estrutura de pensamento, Rosenau defende, que para os cientistas
das relações internacionais, é possível formular generalizações baseadas em dados empíricos,
porque há parâmetros observáveis de acção e de conduta no domínio da política,
concluindo que as unidades de estudo das relações internacionais não são diferentes de
um átomo ou de uma célula (Maltez, 2002:213).
No entanto, será que a tecnocracia, o poder da técnica libertado das ideologias e
das religiões poderá, desta forma, instaurar uma liberdade efectiva?
Polemicamente, as mutações históricas do universo têm consequências óbvias na
mutação dos objectos, das imagens, na informação, nos valores hedonísticas, nos paradigmas
da psique a que lhes estão associadas e que vão gerando novas formas políticas,
económicas e sociais de controlo humano, no desligamento às ideologias, típico do individualismo
do século XXI.
Deste modo, será que o mito de narciso politiza -se, na subjectividade colectiva, na
impessoalidade, na “multidão solitária” de Riesman?
69 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
70 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
71 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
72 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
73 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
74 http://www.urisan.tche.br/~rseibert/res0006.htm, em 6/8/09
54
PARTE II
CIBERESPAÇO, AGENTES SOCIAIS E POLÍTICAS VIRTUAIS
Fentress e Wichham defendem que a memória individual torna -se social, pela
partilha de informação, sendo a mais importante, aquela que constitua os grupos sociais
presentes (Sarmento, 2008:70). No que diz respeito ao conceito de memória social, Cristina
Sarmento diz -nos que a mesma é uma rede de ideias, constituída por imagens, palavras,
sons e narrativas (Sarmento, 2008:71).
É através dos agentes sociais (dos padrões gerais do pensamento político actuante),
que o poder cultural é manipulado de modo a atingir o aparelho de Estado, orientando
a luta política na inovação política cultural (Sarmento, 2008:144 -145).
Mas, quais são os agentes que actuam no ciberespaço? Serão os comportamentos
políticos dos cibercidadãos, dos cibergrupos de interesse e de pressão, das ONG on -line e
dos sites dos partidos?
Do ciberespaço, emergiram comunidades virtuais que, ao amadurecerem, revitalizaram
a cidadania global, mediante participação on -line75. Estas mesmas comuni da des
virtuais, representam a possibilidade de um novo modo de socialização em que os movimentos
sociais ganham um novo fôlego na produção e difusão de códigos culturais mundiais
(Alves, 2005). É evidente que, os governos e as empresas têm interesses no controlo
sobre estas novas redes que se produziram no seio destas comunidades. As mesmas,
estão muito próximas dos movimentos contraculturais e modos de vida alternativos surgidos
depois da década de sessenta (Século XX) (Castells, 2004). Salienta -se, neste contexto,
Tom Jenning, fundador da Fidonet em 1983, apologista de uma fi losofi a vagamente
anarquista.
As principais características das comunidades virtuais são (Castells, 2004): maior
valor à comunicação horizontal e livre, conectividade auto -dirigida, ou seja, a capacidade
de qualquer ser humano encontrar o seu próprio destino na rede e, se não encontrar, pode
sempre publicar a sua própria informação, suscitando assim a criação de uma nova rede,
75 Cyberphilosophy.blog spot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, em 18/08/08
55
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
funcionando a mesma como canal de organização social, acção colectiva e construtiva,
novo meio de comunicação, maior isolamento social, ruptura da comunicação social e
familiar, manifestação clara da nova cultura virtual e vivência de vidas paralelas na net.
O relacionamento entre comunidades, net e socie dade é refl exo da crise da legitimidade
política entre a cidadania e o Estado -nação, ao enfatizar os mecanismos de representação
política, retirando o desenvol vi men to do afastamento dos indivíduos da esfera
pública estatal.
No entanto, a panóptica, que gera ganhos para a economia do poder, constitui uma
técnica de dominação que correspondem a formas de produção de conhecimento descentralizada
e horizontal, tornada possível pelas novas possibilidades da comunicação e organização
em rede das informações, da proliferação dos recursos de vigilância (através de
câmaras), ampliando a interiorização do sentimento do estado de observação permanente,
que se transforma ao se integrar com os recursos electrónicos -digitais de comunicação em
tempo real76.
As tecnologia de visão, são dispositivos disciplinares combinados com os mecanismos
de controle (voltados para a massa e para a multidão e aplicados para o presente e
para o futuro, ou seja, para o virtual) adicionando uma outra camada de conhecimento e
poder às possibilidades inauguradas pelo “regime imagético indicial” da fotografi a, que
com a introdução da comunicação electrónica -digital produzem uma mutação no mesmo
com a introdução das possibilidades de síntese computacional da imagem, combinada às
novas potencialidades que os dispositivos de controle adquirem com os recursos de comunicação
em rede em tempo real77. Esta comunicação interactiva, produz novos conhecimentos
descentralizados, horizontais, impessoais, tendenciais e potenciais. Deste modo,
de acordo com Murray, o ser humano transforma -se numa unidade biopolítica que precisa
de ser regulada78.
Os agentes sociais não são mais do que redes sociais virtuais, que forjam na internet
as suas conexões que podem ser formais (laços associativos), laços fortes e fracos.
76 http://livros.karlabrunet.com/pdf/livro_submidialogia3.pdf, em 19/04/09
77 http://livros.karlabrunet.com/pdf/livro_submidialogia3.pdf, em 19/04/09
78 http://livros.karlabrunet.com/pdf/livro_submidialogia3.pdf, em 19/04/09
56
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
O orkut é um bom exemplo de construção de laços fortes entre cibernautas, possibilitando
a conexão entre pessoas e afi liação delas às comunidades.
As políticas virtuais são políticas sociais que actuam virtualmente como redes de
solidariedade, nomeadamente no combate à pobreza, à exclusão social, ao desenvolvimento
local e regional, à participação política na cidadania e na difusão do conhecimento
científi co. As mesmas, envolvem comunidades que as gerem. As comunidades virtuais
como a relação social trabalhada no ciberespaço, através, nomeadamente, do contacto
repetido no interior de uma conferência ou chat, ou seja, uma reunião de pessoas virtuais
podem dispensar o contacto físico. As redes estão sempre em mutação, bem como os seus
interesses, que podem ser sociais, sexuais ou de sedução, entre outros.
Os agentes sociais integram identidades de grupo, de acordo com paradigmas sociais,
através das imagens virtuais que apelam à emoção e que se difundem na ideologia
dominante.
A cibercultura (que, na sua essência é contra cultura) “hipnotizada” pela construção
de uma nova cultura, manipula a cultura dominante e subverte -a utilizando os agentes
sociais.
1. Cibercultura e tecnocultura
A cultura refl ecte -se nos sistemas sociais de conhecimento, ideologias, valores,
leis e rituais. É um sistema simbólico, tal como a arte, o mito, a linguagem, na sua qualidade
de instrumento de comunicação entre seres humanos e grupos sociais, que permite a
elaboração de um conhecimento consensual sobre o signifi cado do mundo.
Os códigos culturais habitam na mente humana?
Sim, habitam na mente humana até porque o ser humano é o único animal cultural,
que cria culturas novas, que inova a cultura.
A cultura é um sistema de comunicação, de comunicação social (produção e circulação
de mensagens, e nas sociedades as mesmas são maciças e rápidas, destinado a um
vasto público, recorrendo a técnicas estereotipadas e sofi sticadas originadas pela ordem
da organização tecnológica).
57
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Cristina Sarmento, defende que a cultura é produto dos poderes criativos e imaginativos
dos seres humanos (Sarmento, 2008:56). Nesta perspectiva, todo cidadão é um
potencial profi ssional de criação cultural.
Aristóteles defi niu o homem como “animal social” e a aptidão para a cultura, consequência
inevitável das relações sociais, é uma das características da espécie humana,
sendo portanto, geneticamente programado para tal aptidão, como defende E. O. Wilson,
professor de Harvard, fazendo aumentar o poder do património genético colectivo da espécie
humana.
Mas, cultura é também o processo de formação do espírito (Franco, 1997:15).
Evidentemente que, cultura é um conjunto de códigos que presidem a toda a interacção e
também aos códigos da comunicação intercultural (Mattelart, 1991).
De acordo com Barata Moura (2007), “cultura” será o comércio espiritual da humanidade
no seio do qual a pessoa se forma, evolui, vive? Cultura será a realização da teoria da
pessoalidade, da consciência da identidade de si mesmo? Da consciência da sua liberdade, do
pleno desenvolvimento humano? Da fusão do espaço privado e do espaço público na virtualidade,
à semelhança do que se passou na Grécia de Péricles, na participação na cidadania, na
participação da pessoa nas decisões políticas? Da realização da fi lantropia pessoal?
O mundo da cultura, segundo Kant (Barata Moura, 2007), é sobretudo o mundo da
educação, da nutrição do espírito e os seres humanos são as únicas criaturas que têm de
ser educadas. Neste contexto de raciocínio, cultura é sinónimo de saber, mas é também a
massa, a rapidez e a interactividade e a sua acumulação numa relação constante entre
património, novidade, tradição e modernidade (Wolton, 2000).
A identidade cultural, é um sentimento infl uenciado pela pertença a um grupo,
cultura ou a um indivíduo, é a procura de sentimentos que se assemelham à pessoa. Deste
modo, identidade é igualdade.
Com a tecnologia cultural, podemos contar com uma cidadania mais actuante que
irá exigir das políticas decisões práticas e construtivas, em lugar das ditadas pela conveniência
ou por interesses próprios79. Nas macrovisões da cibercultura, ao instituir -se o
79 www.centroatlantico.pt, em 21/05/09
58
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espaço electrónico, novas geometrias de poder surgirão criadas pelos media contemporâneos
(Foucault, 1979), livres do terror e do controle dos espaços geográfi cos e meramente
físicos do território.
Foucault chama atenção, à associação da tecnologia cultural com o conceito de
biopoder nas “sociedades de controlo” e Rogério da Costa Santos, sustenta que cada regime
de dominação se relaciona com uma forma específi ca de produção e organização do
conhecimento nas sociedades80.
O ciberespaço, “habitat natural” da cibercultura, é um espaço privilegiado da liberdade
de expressão e de absorção de informação onde o público se confunde com o
privado e a realidade com a ilusão, criando, deste modo, a virtualidade em rede. É um
universo onde os utilizadores se encontram com outros utilizadores e onde a cibercultura,
com as suas cosmovisões, procedimentos, discursos divide -se em muitas subculturas. No
ciberespaço, as mentes humanas estão sempre a operar a partir de conceitos, os que a
tornam inevitavelmente mecânicas e, sendo mecânicas, precisam de refugiar -se em algum
tipo de ilusão, em algum tipo de mitologia, como parcialmente estruturou mentalmente
Krishnamurti (1993:36).
O ciberespaço é transnacional, pela abolição do espaço e pelas criação das “personas”,
ou seja, pela criação das identidades construídas pelos seres humanos no mesmo
espaço (Mackinnon, 1995) que se socializam na utopia do não -espaço, mágico, imaginário
e não -físico, da manipulação mental.
A evolução cultural e a nova esfera política sobre a internet indicam -nos novas
possibilidades de informação, livre expressão, discussão da cidadania, coordenação autónoma
dos movimentos políticos e sociais, aperfeiçoamento da democracia local, maior
transparência dos governos electrónicos para a cidadania na administração pública, ameaça
directa às ditaduras, por ser um vector de liberdade democrática e transparência81.
A cibercultura é um conceito inerente à tecnocultura social, da(as) cultura(as)
contemporânea(as), que nasceu da prática social da utilização das tecnologias de informação
e comunicação (Lemos, 2004:151 -174). A sua manifestação posterior, faz com que
80 http://livros.karlabrunet.com/pdf/livro_submidialogia3.pdf, em 19/04/09
81 http://cacosmeusbotoes.blogspot.com/2007_08_01_archive.html, 27/03/09
59
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apareceram questões como a democracia electrónica, novas formas de democracia contemporânea,
novas formas de exercer o poder político, com ênfase na democracia participativa
e na democracia directa. É um conceito da “cultura global” e dos “particularismos
culturais” que são formas culturais que advêm da experiência da modernidade tardia e da
pós -moder nidade, da crise das identidades individuais e colectivas, do confl ito entre valores
divergentes, das bases da solidariedade social (Franco, 1997:239 -250).
Com o desenvolvimento da técnica informacional, da economia informacional de
mercado, das empresas multinacionais, da difusão dos modelos consumistas, da velocidade
dos transportes, do aumento e crescimento da importância das organizações internacionais
ao nível da política monetária, das políticas de saúde, do trabalho, da protecção do ambiente,
da luta contra a criminalidade, a cultura global emergiu simultaneamente com a advento
das sociedades multiculturais (Franco, 1997:239 -250). Esta cultura global é transnacional,
desterritorializada, de difusão do espírito cosmopolita, tendo em conta as trocas entre as
sociedades de culturas diversas, das suas imagens, das suas formas, das suas línguas, das
suas autenticidades, dos seus particularismos (base do multicultu ralismo), mas é também
baseada na igualdade cultural global, das memórias histórico -culturais e da inteligência
colectiva. A cultura global, de acordo com Stuart Hall (2001) nascida da fragmentação das
identidades culturais surge a partir das narrativas introduzi das pelos, nomeadamente, movimentos
feministas, sexuais, étnicos e raciais que funcio nam genericamente como forças
contra -hegemónicas. Esta é a cultura da virtualidade das tecnologias de informação, dos
códigos culturais que passaram a depender da capacidade tecnológica da comunidade científi
ca. O uso individualizado e descentra lizado da tecnologia abriu portas ao estímulo da
manipulação de símbolos evoluindo para a construção da cultura da virtualidade, que por
sua vez reforçou o cosmopolitismo e o internacionalismo num mundo interdependente.
Mas, por virtual pode entender -se, na análise política, que seja uma realidade utópica,
ou seja, uma utopia, que é uma possibilidade que pode efectivar -se no momento em
que forem removidas as circuns tâncias provisórias que obstam à sua realização, circunstância
ao alcance da acção transformadora das mulheres e dos homens (More, 1989:7).
Mar cuse defende, numa obra intitulada “O fi m da utopia”, a tese, implícita na obra
de More de um projecto “utópico” numa sociedade livre, onde a cidadania livre se encontra
ao alcance do mundo de hoje.
60
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A política informacional da cultura política da actualidade, gira à volta das transformações
das relações com base na família, nas relações de género, na sexualidade e na
personalidade (Castells, 2003).
Salienta -se que, para as mulheres cibernautas, as redes substituem cada vez mais
as famílias nucleares como forma primária de apoio emocional e material e a funcionalidade
dos cérebros depende de emoções, crenças, expressividade e mesmo alimentação
das culturas. Na verdade, a tecnotrónica moldou as mentes de uma geração a vários níveis
(psicológico, cultural, social e económico) e através da utilização generalizada da informática,
cria novos processos políticos de poder global.
Brzezinski, partilha a fé no papel da ciência bem como da universalidade destinada
a tornar -se um “reservatório de pensamentos intensamente ligados à vida e que assegurara
a maior parte da planifi cação politica e da inovação social” (Mattelart, 2002).
A expressão cibercultura, designa um âmbito de pequenas comunidades altamente
técnicas e meios dotados de poder socio -político, como é o caso do univer sitário, mas é
também um modo de vida que se está a formar (Leone, 2000:3). À semelhança, e de acordo
com o mesmo actor (Leone), a realidade cibercultural tem um perfi l tendencialmente
planetário, como um modelo distinto e concorrente de outros modelos (Leone, 2000:8). O
mesmo conceito (cibercultura), é a fonte dos fl uxos dos valores da liberdade, do reconhecimento
do individualismo e dos seus paralelos no seio do diálogo transversal, multicultural
das liberdades que agem a favor e contra a democracia liberal de massas e no respeito
pelas diferenças na comunicação através das novas tecnologias, é o vínculo entre
história, modernidade, culturas e línguas. É construtora de identidades (Castells, 1997) e
vai, num futuro próximo, diversifi car profundamente o conceito de família e o seu poder
nos vários sectores da vida pública e privada.
Quanto à origem desta cultura, encontra -se na contracultura dos anos sessenta do
século XX, de Marshall Macluhan e de Pierre Teilhard de Chardin. A mesma, é sinónima
de cultura cibernética e designa a cultura da informação, da produção de conhe cimento e
do pensamento.
Também nos anos sessenta do mesmo século, a fi losofi a comunitarista serve de
inspiração ao projecto de Participatory Technology System, baptizado de minerva, que
61
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Etzioni, com o apoio da Fundação Ford, elabora tendo em vista favorecer os usos da televisão
por cabo, quadro de uma democratização do processo de tomada de decisão ao nível
da municipalidade (Mattelart, 2002).
Foi no fi nal da década de sessenta, que se instala a semântica da globalização nos especialistas
das relações internacionais norte -americanos e dos líderes mundiais (Mattelart, 2002).
A fragmentação das culturas é característica da cibercultura, porque a mesma não
se identifi ca com uma cultura mas com muitas, que se interconectam e se fundem, à semelhança,
como conceptualiza Castells (1997), das batalhas ideológicas dos anos sessenta
(século XX), de desafi o ao patriarcado, que teve origem nos movimentos femi nistas,
dos direitos civis em geral e dos direitos dos gays.
Mas, é também uma cultura que luta pelo universalismo, através dos media electrónicos,
pela educação, pela alfabetização, pela urbanização e pela modernização, da
“nação pós -moderna” que se “fez luz” aquando da revolução francesa.
De acordo com Pierre Lévy (1997), o ciberespaço, palavra de origem americana,
utilizada pela primeira vez, pelo escritor de fi cção cientifi ca William Gibson em 1984, no
romance Neuromancer, designa o universo das redes numéricas como lugar de encontro
e de aventuras, cenários de confl itos mundiais, nova fronteira económica e mundial. O
prefi xo ciber (vem do grego kibernetiké) signifi ca pilotar, navio, e por metáfora, governar
um país, ou será, governar a globalização?
Segundo André Ampere, a cybernétique designa o estudo dos meios de governação
(Otman, 1998) e, de acordo com Norbert Wiener (1948), a cibernética está mui to
próxima do conceito contemporâneo de informática e signifi ca o estudo dos processos de
controlo e de comunicação entre os seres vivos e a máquina (Otman, 1998). Nesta linha
de pensamento, salienta -se Heinrich Rohrer: “a fronteira entre inteligência, matéria viva
e matéria morta será cada vez mais difusa” (Punset, 2009:351).
Wiener (pai da cibernética) defende ainda que “a sociedade do futuro se organizará
em volta da informação” (Mattelart, 1991), assegurando que os piores inimigos
desta nova sociedade serão a insegurança, a incerteza e a anarquia intelectual.
Inicialmente, o cybernette simbolizava um cibernauta do sexo masculino, realidade
ultrapassada com a utilização genérica da informática pelas mulheres, tendo a máxima
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expressão e voz na cyber fe mi nista Sadie Plant, autora do livro “As mulheres e as novas
tecnologias”. As “Systers” constituem a rede de cientistas feministas na área dos computadores
(Castells, 2002).
A “sénior net”, constitui a rede para idosos (Castells, 2002).
Nesta sequência de pensamento, as mulheres, através da utilização em massa da
internet, podem contribuir para um novo entendimento nas relações internacionais e nas
novas formas políticas da cibercultura, que poderão conduzir a novos modos de acção do
pacifi smo feminista e da teoria da paz democrática.
O ciberespaço cria a ideologia das conexões entre o espaço urbano e as interacções
na cibercultura na memória colectiva de cada um, na igualdade e na solidariedade humana.
Donna Haraway cria o cyborg, personagem humana e robô, ou seja, a conjun ção
da cibernética e do organismo, criou a ciborgologia (estudo cientifi co dos cyborgs, através
da junção da biologia, da medicina, da engenharia informática com a antropo logia e a fi -
losofi a), sendo o ciberespaço um género de sistema nervoso da biosfera. Neste sentido, o
ciberespaço é a simbiose entre cibernética e biologia (Cibiont, termo utilizado por Joel de
Rosnay).
Cyborg, é uma metáfora para a crítica da identidade a favor das diferenças e uma
reivindicação para as possibilidades de uma apropriação politicamente responsável da
ciên cia e da tecnologia.
Donna Haraway, propõe um rompimento com o marxismo, o feminismo radical e
com os movimentos sociais que fracassaram ao operar com categorias como classe, raça
e género. O cyborg, simboliza uma política de afi nidades, longe da lógica de apropriação
de uma única identidade. Seria necessário, segundo Haraway, romper com a lógica dualista,
que opera no ocidente, complexifi cando a refl exão sobre as nossas relações sociais
cada vez mais mediadas pela ciência e pela tecnologia e pela imaginação da fi cção científi
ca com possibilidades interessantes para o século XXI (Cantarino, 1985).
O ciberpolícia (Otman, 1998) ou policiamento informática representa a luta contra
todas as formas de criminalidade vivenciadas no ciberespaço, ou seja, a perigosidade
adveniente da utilização da internet, nomeadamente os crimes cibernéticos como a criação
na rede de comunidade preconceituosas pregando homofobia, racismo, xenofobia,
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neo -nazismo, tortura e violência contra os animais e fazendo apologia ao consumo e venda
de drogas, à pedofi lia, violência e assassinatos e apologia ao terrorismo.
Do uso corrente da informática, criou -se culturas específi cas como movimentos
culturais, novas formas de arte, de música, de pintura na criação virtual da humanidade
através da interacção das redes.
Do cybernanthrope caminhou -se para o cyberpunk, ou seja, de acordo com Henri
Lefebvre82, a cibercultura foi criada por uma espécie de resistência ao poder da tecnocracia.
Aqui, as acções dos ciberpunks são exemplares e vão lutar contra o cibernanthrope
(humano robotizado), o que é para o sociólogo o tecnocrata preso a uma fascinação pela
técnica e pela sua racionalidade instrumental.
O cyberpunk (Otman, 1998), dá voz e forma à fi gura do pirata informático a perscrutar
a sua iniciativa e entrada em sites informáticos cujo acesso lhe é negado, interrompendo
e decifrando códigos de acesso e senhas para desviar informação ou fundos. Este é
semelhante ao hacker (Otman, 1998), personagem de fi cção criado nos anos oitenta do
século XX por Brice Bethke, e dá nome ao rebelde das redes informáticas que procura
diminuir o seu poder e provar que é capaz de percorrer “perfurando -as”.
Eric Raymond (ícone da cultura hacker, surge das redes de programadores informáticos
interagindo on -line, defende o desenvolvimento de software livre e o carácter
aberto do código -fonte UNIX (Castells, 2004).
No início da década de 80 (Século XX), existiam três culturas informáticas: a
cultura ARPANET, a cultura UNIX e a linguagem BASIC.
As características da cultura hacker são as seguintes (Castells, 2004): tecno-
-meritocrática, combinando o prazer da criatividade com a reputação entre colegas, o
valor fundamental é a liberdade de criar, de absorver conhecimentos e redistribui -los,
pertença activa a uma comunidade que está estruturada em redor de costumes e princípios
de uma organização social informal, global e virtual. O hacker sofre da permanente tentação
de cortar laços de comunicação com a sociedade, transportando -se em direcção às
estruturas formais da informática. Representa a cultura de convergência entre humanos e
82 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3119/2392, em 07/04/09
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as máquinas, num processo de interacção sem restrições e a existência de algumas subculturas
hacker baseadas em princípios políticos e de rebelião pessoal.
Os hackers devem ser julgados segundo o seu hacking e não segundo graus académicos,
raça, cor, religião ou posição social, sendo esta a base da meritocracia83.
Mas, a quem pertence a criatividade?
À propriedade intelectual e à copia da mesma (Forester, 1993:189).
O Galactic Hacker Party, é um exemplo concreto de um partido tecnoactivista
político. Hackers, académicos e ONG são os principais agentes da cibercultura política
(Castells, 2004).
Em 1990, funda -se a Electronic Frontier Foundation (de John Perry Barlow e Mitch
Kapor), instituição que luta contra o controlo governamental da internet, ligando -se as
subculturas sociais do período posterior à década de sessenta (Século XX) e a cultura
hacker (Castells, 2004).
Kevin Mitnik, combina os seus conhecimentos tecnológicos com uma estratégia
política de sabotagem. Mas, as linhas de batalha estão, hoje em dia, a deslocar -se da luta
pelo direito a encriptar (contra o governo) para a luta pelo direito a desencriptar (contra
as empresas) (Castells, 2004).
Em 1994, assina -se um acordo legal que permite a difusão livre do UNIX. Stallman,
empenha -se numa luta política a favor da liberdade de expressão na era da informática,
estabelecendo a Fundação pelo Software Livre (FSF, Free Software Foudation) e
proclamando o princípio da comunicação livre e uso do software como direito inalienável
(Castells, 2004).
O ciberpunk simboliza o “underground” da informática cujas palavras -chave são
o imaginário, a cibercultura e as novas tecnologias. O imaginário ciberpunk vai associar
tecnologias digitais, psicadelismo, tecnomarginalidade, ciberespaço, cyborgs e poderes
mediáticos, política, economia das grandes empresas multinacionais. Os cyber punks reais
do “underground da informática” são os phreakers, os hackers, os crackers, os ravers, os
zippies, os cypherpunks e otakus da emergente subcultura jovem que funde antiautorita-
83 http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_hacker, em 24/7/09
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rismo com amor através das tecnologias de ponta. Ravers e Zippies são tecno -pagãos da
cibercultura, que misturam esoterismo e novas tecnologias: espiritualidade, teosofi a, hermetismo,
fi losofi a astral da era de aquário.
A cibercultura é pagã, monista, como crença de explicação da realidade, cuja criação
esteve a cargo da fi gura da deusa -mãe, como entidade cósmica primordial84.
O lema dos ciberpunks é a liberdade de informação (a informação deve ser livre),
o acesso aos computadores deve ser ilimitado e total, desafi am as autoridades, lutam contra
o poder, colocam ruídos nos sistemas informáticos e atravessam os mesmos.
As atitudes cyberpunks caracteri zam -se por alguma negatividade quanto ao futuro,
às ideologias e pelo descontentamento quanto à tecno -estrutura, é uma atitude caracterizada
pelo tecno -anarquismo. A cultura cyberpunk aproxima -se muito do anarquismo individualista,
dos ideais de liberdade individual e da ausência de coerção do Estado, à semelhança
dos socialistas libertários, que rejeitam os governos sustentados pelo capitalismo selvagem.
Feyrabend, fi lósofo anarquista, defende a razoabilidade da irracionalidade aproximan
do -se, assim, do relativismo. Esta perspectiva, “contra o método”, associa, deste modo,
a ciência do “tudo vale”, com os comportamentos das relações humanas (e políticas) no
cibermundo, numa dimensão pluralista e mística. De facto, de acordo com este pensador,
as formas mentais de estruturar o pensamento, orientadas pela ciência, não são melhores
nem piores, para os seres humanos, do que, por exemplo, as mesmas formas mitológicas.
Feyrabend é contra o dogmatismo da ciência, submetida e controlada pela democracia e
pelas suas formas de domínio público.
Os ciberpunks não são homo géneos, variam entre várias comunidades, compartilham
sentimentos e a circulação de informa ção altruísta.
No entanto, a nocividade desta cultura, reside na criminalidade, nomeadamente no
ciberterrorismo, na dissemi nação de vírus informáticos e na pedofi lia via internet e na
ausência de comunicações com contacto físico.
O ciberpunk trafi ca signos, lingua gens e conexões na simbologia da descarga do
imaginário. O hacker e o “ciber punk” são “perigosos” do ponto de vista da manutenção
84 http://pt.wikipedia.org/wiki/Monismo, em 10/6/09
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da ordem e da lei, dando origem a uma nova cultura simbólica anacronicamente global e
local, subvertendo os modelos clássicos e convencionais (de género, classe, sexualidade)
orientados para o nacio nalismo.
A cibercultura é new edge (sem ideologia e sem emblema histórico), é naturalista,
espiritualista, hedonista e fi lha da contracultura dos anos sessenta que associa liberalismo
e tecnologia, à semelhança de Freud que, associava a fantasia e a imaginação ao princípio
do prazer.
A tecnologia electrónica, pode levar à alienação e ao êxtase na utilização da informática
como droga inteligente e como forma de ampliar a potência cerebral e vida sexual,
transformando os usuários, tornando -os, eventualmente, sen sórios – dependentes, dando
continuidade à era da idade racional repressiva (Foucault, 1996). Mas, como afi rma Rop
Gonggrip (membro do grupo tecno -anar quis ta holandês HACTIC), “o verdadeiro papel
dos hackers é político, quer dizer, são pessoas que fazem progredir a informática…eles
são os actores da passagem da tecnocultura à cibercultura”85.
As características gerais da cibercultura são as seguintes: prazer intenso em tempo
real, desprezo pelo futuro, conquista de novos territórios simbólicos, anarquia do ciberespaço,
agregações sociais, vitalismo social contemporâneo das novas tecnologias, realidade
virtual, ciberespaço e pós -humanismo. Enquanto cultura contemporânea, vai reprogramar,
através das novas tecnologias, os valo res sociais e políticos. A realidade, numa
dimensão cibercultural, é perspectivista, é única, mas cada um dos seres humanas a percepciona
diferentemente.
O hacking é o símbolo maior da cibercultura estando as novas tecnologia da mesma,
em relação estreita com a dinâmica social contemporânea. Deste modo, o hacker é
visto como um ciberactivista politico que associa negligência e interesse infl uenciado
pela contracultura e pelas tecnologias microelectrónicas. Para o hacking, tudo pode na
net. A rede é livre, a informação é livre e a privacidade é um direito inalienável. São a
favor da liberdade de expressão no ciberespaço e contra a censura. São desviantes, não
fazem parte da média, nem das massas, são a consequência da aplicação de regras comuns
a grupos e de confl itos político – sociais. Como desviantes, são estranhos aos programa-
85 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revista famecos/article/view/3119/2392,em 07/04/09
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dores profi ssionais, legisladores e políticos. Estes, não se vêem como crimi nosos, mas
como exploradores num mundo contemporâneo cujas regras não são claras86.
Os ciberpunks não compartilham posições do grupo dominante (os tecno cratas) e
a imagem que lhes oferecem os mass media.
Os defensores da contracul tura, infl uenciaram o imaginário da cibercultura e os
primeiros criadores do ciberespaço eram pioneiros anárquicos do imaginário de libertação
e de subversão, o que inevitavel mente trouxe mudanças práticas políticas.
A cibernetização digitaliza -se no universal à velocidade da luz, através da difusão
da informação (Leonel, 2000) no computador como prolongamento lógico da rádio e da
televisão.
O ciberespaço cria cibercultura, através da liberdade de expressão, da decisão, da
avaliação, da organização e da conexão dos cibernautas e alimenta -e do excesso de informação
causado pela popularização global da internet. É o triunfo da técnica na cultura, é
a engenharia do tecido social de Habermas numa esfera política.
Esta nova cultura electrónica universal e multicultural, que nasce da globa lização
da técnica, arrasta consigo o embrião da estimulação das imagens colectivas das maiorias,
das minorias, dos grupos, das diferenças, dos marginalizados e dos excluídos socialmente.
A sociedade do conhecimento (oriunda da cultura electrónica), recorre, na análise
do seu estudo, à psicologia cognitiva, à linguística, à inteligência artifi cial, à epistemologia,
às neurociências, à antropologia, à lógica e às relações interculturais. A indústria do
conhecimento engloba a educação, a investigação e desenvol vimento, os media de comunicação,
as máquinas de informação, os serviços de infor ma ção, serviços fi nanceiros, os
serviços de informação das grandes empresas comerciais e os serviços de informação
oferecidos pelos governos (Mattelart, 1991). Já, nos século XVII e século XVIII, os seguidores
de Descartes propuseram a noção de que o pensamento (afi rmando com La
Mettrie) que os seres humanos são, na sua essência, mecanismos, levando -nos a concluir
que a robótica simboliza o último passo, o último humano, o silico sapiens, como contextualizou
parcialmente Forester (1993:69 -72)
86 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3119/2392,em 07/04/09
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A próxima revolução cultural será, sem dúvida, tecnológica, cultural e global. Esta
precederá a revolução política da pós -modernidade que deverá ocorrer sobretudo ao nível
da psique do cidadão e não ao nível da força e violência.
No que diz respeito ao conceito de tecnopolítica, neologismo proposto por Maceau
Felden na obra “La Democratie au XXI Siécle” (1996), que se defi nia pela política dos
Estados que têm em conta os progressos tecnológicos. Mas, a tecnopolítica nas sociedades
de informação, grosso modo, simboliza a institucionalização das relações entre as
estruturas do poder político ou do poder e a tecnologia.
O “espelho” da modernidade encarna os valores do humanismo, da razão, da
ideologia que brota das conexões na rede (net), da fragmentação das identidades familiares
clássicas originárias, valores estes oriundos nos movimentos feministas ou da
emancipação das mulheres, nas crises dos paradigmas clássicos do trabalho orientado
para a terciarização da economia e dos stresses sociais -urbanos. Esta pós-modernidade,
não nasce do Estados -nação, mas separa -se destes trazendo consigo uma espécie
de espírito colectivo da humanidade, um sentimento comum de interligação entre povos
que se fundem na “nação global”. De facto, de acordo com Lévy (2003), os grandes
avanços da emancipação humana participam no mesmo impulso que a densifi cação
das comuni ca ções, ou seja, do progresso dos direitos humanos, da abolição da escravatura,
da desco lonização, do desmoronamento dos totalitarismos e das ditaduras, da
difusão do sufrágio universal, do advento e proliferação das democracias e das minorias
oprimidas.
Jakub Macek, no artigo “Defi ning Cyberculture”, caracteriza o movimento da cibercultura
a partir das novas tecnologias como agentes de mudança, como mecanis mos de
liberdade e garantia (empowerment), como criação de uma nova fronteira cul tural e como
movimento de contestação aos velhos conceitos. De facto, a cultura virtual nasce da diversidade
e da transversalidade dos hábitos e não da cultura de um Estado, nasce da teoria
das conexões em rede, oriunda da pós -modernidade.
A escolha das diversas teorias, como estrutura de pensamento humano, deve caber
aos cidadãos e não às manipulações politicas mentais preconizadas pelos governantes,
através dos media e arquitectada pelo marketing político.
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A teoria das conexões em rede, do inconsciente colectivo e individual e da revolução
cultural global, parte das decisões individuais autónomas dos seres humanos na
cibercidadania (unidos livremente) e não das massas. Deste modo, a paz interior na era da
esfera privada, é ideologicamente oposta ao capitalismo e ao socialismo.
Das imagens inconscientes que criamos atravessando as tecnologias de informação,
o espírito universal e impessoal encontra na cultura electrónica as suas vozes, as suas
representação, a representação da “alma primitiva “humana, não entrando em confl ito a
ciência e a religião, como contextualizou parcialmente Jung (1971:5 -6) e, à semelhança
também do budismo tibetano, que defende que os deuses pertencem à esfera do ilusório,
também o ciberespaço trabalha a ilusão das paixões humanas.
Desde a conceptualização do ciberespaço, (neologismo dos anos oitenta do século
XX) que a engenharia, a física, a biologia, a psicologia e a antropologia ten dem a
ser ciências informativas através da inauguração da cibernética, ciência do comando e
do controlo.
Noutros termos, não será a cibernética a ciência da gover na ção política, utilizando
técnicas sofi sticadas das linguagens humanas e do marketing político?
Paradoxalmente, emergem do mesmo espaço comunidades virtuais desterritorializadas
(não ligadas a uma zona geográfi ca), nomeadamente uma rede webzine de
militantes da “anti mundialização ou anti globalização hegemónica” criada e associada
com o nome de Indymedia (Centro de Mídia Independente ou CMI) (Lévy, 2003), que
aceita todos os contributos dos seus corres pon dentes, textos, imagens e sons, sem qualquer
censura.
Mas, não menosprezando a crescente informatização das democracias contemporâneas,
em Portugal, existe uma dicotomia social delineada pelas desigualdades educativas
e culturais. Genericamente, só uma parte da população (os mais jovens ou os mais
letrados) pode aceder com confi ança às novas tecnologias87.
Quanto ao recurso à internet para o marketing político, é frequentemente utilizado
pelos Estados no mediático, no instantâneo e na forma da informação política, com pouco
87 http://www.centroatl.pt/titulos/si/imagens/mktg -politico -internet -excerto.pdf, em 25/04/09
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conteúdo, na aparência da realidade, de instrumentalização dos eleitores, indo simplifi car
e reduzir a mensagem ao denominador.
Paradoxalmente o ciber nauta transforma -se numa espécie de ciberjornalista activo,
que politicamente escapa às malhas do Estado e representa o principal actor da
cidadania global ou da nova sociedade civil emergente do uso das novas tecnologias de
informação e comuni cação à escala planetária e não somente entre os Estados -nação,
ultrapassando as fronteiras dos mesmos.
Também a fusão da democracia com o ciberespaço, gerou novas liberdades de
pensamento na cooperação universitário -científi ca e na acção política por parte da comunidade
científi ca. A cidadania global em rede criou uma opinião pública global ou
que se manifesta intensamente na rede (net) através de listas de discussão, fóruns ou
debates on -line, nomeadamente na blogosfera.
Os agentes sociais do ciberespaço são as pessoas que navegam on -line, as
empresas privadas e públicas, as instituições, os partidos, as associações e sindicatos
on -line, os grupos e as comunidades virtuais. No ciberespaço, participam sobretudo
cibernautas das cidades e das regiões. Este espaço, é também cenário de actuação
das políticas públicas onde uma multiplicidade de interesses, grupos, associa ções
reflecte em paralelo à realidade os seus ideais num mundo potencialmente em movimen
to político.
Salienta -se que, as identidades fragmentadas no espaço virtual, associam o ser
humano à sua comunicação política e à sua capacidade de concretizar e realizar plenamente
a cidadania. De facto, conforme conceptualizam Adano e Horkheimer (Leo ne,
2000) com a indústria cultural perdeu -se a referência às culturas antigas através da
produção em massa e da reprodução técnica, ou seja, paralelamente ao sistema nervoso,
a tecnologia electromagnética transferiu a consciência humana global para o ciberespaço
das redes percorrendo a mente universal um feixe de luz electromagnético
onde a humanidade se une, se individualiza e se descobre.
Na noosfera, os seres humanos emitem e presenciam sinais, ideias da cultura
política virtual e a cibercidadania é implementada na junção da comunicação politica
com o ciberberespaço global.
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Mas, na noosfera, esfera do pensamento (de nous, mente), Vernadsky defende que
a mesma seria a terceira etapa no desenvolvimento da terra, depois da geosfera e da biosfera.
Teilhard de Chardin, inicia este conceito, que signifi ca o mundo das ideias, constituído
por produtos culturais, espirituais, das linguagens, das teorias e dos conhecimentos.
Al Gore, pronuncia um discurso sobre “a promessa de uma nova ordem da informação”,
com base nas infra -estruturas da informação impulsionadas pelo sector privado
e nas virtudes do mercado (Mattelart, 2002). Mas, uma nova ordem comuni cacional, com
tantas desigualdades no acesso às novas tecnologias de comunicação e de informação,
levou a UNESCO a organizar em conjunto com a UIT (União Internacional das Comunicações)
uma cimeira mundial sobre informação em 2003, em Genebra. Considerou -se aí,
que o conhecimento pertence ao “bem público global”.
Grosso modo, a cibercultura expressa na rede a sociedade de liberdade, o direito
ao desvio e o direito à diferença na cidadania global, (Rufi n, 2006:27 -29). Representa
identidades mutáveis, plurais e provisórias e, ao descentralizar a pessoalidade, dá origem
à globalização da modernidade, à diminuição do espaço pelo tempo, ao mundo da infosfera
através das novas tecnologias de informação e de comunicação.
Habermas, na obra, “Técnica e ciência como ideologia”, defende que a nova ciência
e a nova técnica são projectos do ser humano universal e não projectos históricos,
como defende Marcuse. Para este último autor, a ideologia da sociedade industrial é dominada
e controlada por uma irracionalidade com objectivos produtivos com vista a um
consumo sem limites e desarticulado que por sua vez vai gerar a massifi cação alarmante
da população (Marcuse, 1969). Aqueles que “saem” deste sistema em massa são os marginalizados
da sociedade, nomeadamente os párias, desempregados, explorados e perseguidos
(Marcuse, 1969:235).
Michael Foucault defende, em “Microfísica do poder” que o inte lec tual é por excelência
o escritor, consciência universal, sujeito livre que se opõe àqueles que exercem
as suas competência ao serviço do Estado ou do capital. Neste sentido, para o intelectual,
a net parece fazer ligações transversais de saber para saber, de um ponto de politização
para outro e o poder na rede parece estar desvinculado de formas de hege monias sociais,
económicas e culturais. As cibersubculturas, são grupos de pessoas com características
culturais distintas de comportamentos e credos que os diferenciam de uma cultura mais
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ampla da qual eles fazem parte, grupos esses que cultivam as mes mas ideias relacionadas
com estética, religião, saúde, politica, sexo ou por uma combi nação desses factores.
A política da rede (ou electrónica), assemelha -se ao soft power, que como parcialmente
conceptua lizou Nye (2004), tem a habilidade de um corpo político, como a rede,
de infl uenciar indirectamente o comportamento e interesses de outros corpos políticos,
por meios culturais ou ideológicos, atraindo ou cooperando com eles para que queiram o
mesmo que todos nós. O sucesso do soft power, depende da reputação do actor na rede e
tam bém do fl uxo de informação entre sujeitos individuais e colectivos virtuais. Também
a cultura popular e os media, são geralmente identifi cados como uma fonte de soft power
muito infl uente.
Os responsáveis políticos têm, neste momento, plena consciência da concreti zação
das políticas virtuais, de que o futuro do global será condicionado pela forma como as
novas tecnologias de informação e sua assimilação, do seu êxito e rapidez de absorção
destacando -se a importância da info -inclusão, info-alfabetização e da info -competência
despromovidas de discriminações de origem social e economica, étnicas, de género,
orientação sexual e defi ciência física ou mental.
Nesta sequência, Howard Rheingold (Castells, 2002), aborda a questão das comunidades
virtuais e do nascimento de uma nova forma de comunidade, levando as pessoas
a unirem -se on -line em torno de valores e interesses partilhados e, segundo o mesmo autor,
a comuni dade virtual é uma rede electrónica auto defi nida como comunicação interactiva,
organizada em torno de interesses ou objectivos partilhados, embora a comunicação
por vezes se torne um objectivo em si. E, de acordo com Sherry Turkle (Castells, 2002),
os utilizadores on -line estão a desempenhar papéis e a construir identidades.
No estudo das políticas virtuais, as autarquias portuguesas (Livro verde para a
sociedade de informação, 1997) criaram redes electrónicas municipais geridas em parceria
com organizações representativas de interesses locais que geraram também novas formas
de expressão cívica. Neste contexto, destaca -se a INFOCID (portal da administração
pública portuguesa), em Portugal, um sistema interdepartamental de informação ao cidadão
que resulta da cooperação activa entre cerca de 50 direcções gerais de quase todos os
ministérios, do sistema global e integrado técnicas multimédia e de acesso à informação
(fácil e gratuito) orientados para a via pública (lançado em 1993). O teor da informação
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residia em questões de cidadania, família, saúde, educação, juventude, emprego e formação,
segurança social, direito e tribunais, habitação e gestão empresarial e economia.
Estas questões são bastante convencionais, mas será a cibercultura contracultural?
Ou será contracultural somente o ciberactivismo político? Ou será, ainda o mesmo, sinónimo
de intervenção política?
As políticas virtuais parecem ter subjacentes a noção do mundo livre, da liberdade,
do grande despertar da humanidade, do espírito rebelde da liberdade da cultura electrónica,
da liberdade como fenómeno político inerentes às cidades – estado gregas, que
desde Heródoto, foi compreendida como forma de organização política na qual os cidadãos
viviam juntos em condições de ausência de normas, sem divisão entre legisladores e
legislados (Arendt, 1962:34). Sabemos também que a democracia, foi originalmente forjada
pelos que se oponham à isonomia (Arendt, 1962:34) e que as democracias são as”
ditaduras da maioria” e que a igualdade neste sistema só existe no campo político. Deste
modo, a própria liberdade necessita de um lugar onde o povo se pudesse reunir, ou seja,
uma ágora virtual, uma ciberpraça pública ou uma ciber polís, ou um espaço público
electrónico em rede.
As políticas virtuais ou a cultura política electrónica incluem valores como o direito
de reunião ou de petição, a libertação e a liberdade como modo político de viver,
numa nova estrutura política à semelhança da revolução americana, de um novo começo
ou de uma restauração política ou renovação.
A pobreza, segundo Marx, é uma força política de primeira ordem (Arendt, 1962:
74 -75) mas, não é somente este estado social que é o motor das políticas virtuais, são
também a procura da felicidade, o respeito pela humanidade e o apelo ao tribunal virtual
do mundo na política mundial electrónica.
Para Lemos88, conceitos como cidadania cibercultural e micronações virtuais são
metáforas que seguem o caminho para a construção de cibercidades virtuais na cibercultura
contemporânea e de questões como exclusão social, demo cracia electrónica, governabilidade
electrónica, comunicação aberta, participativa e descentralizada.
88 http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codAr qui vo=685, em 7/04/09
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A representação colectiva na cibercultura política permite aos clãs, às tribos, às
famílias e aos Estados -nação inscreverem -se num modo comum, na cidadania virtual
originária nos media, através da comutação de sinais ou signos. Os estrategas destes, produzem
o sonho da política virtual através de vibrações e da sua energia produtiva que
atravessa os tubos catódicos. O audiovisual, produz uma espécie de fascínio da consciência
política colectiva e individual, sendo a ordem visual, sonora e a ciberhermenêutica a
ordem dos signos.
Resumindo, cibercultura política é paixão, acção e imaginação. Nesta, a electricidade
funde -se com a sociedade em rede e cria a desmaterialização do poder económico
ao atribuir a base dos factores de produção ao conhecimento, à alta tecnologia, à informação,
à comunicação e às fi nanças. Mas, cibercultura política é também a construção de
novas identidades sociais, nascidas no interior da rede das redes (net).
2. Mutação linguística
Segundo Szathmáry, a linguagem é a combinação de sintaxe e referência simbólica,
havendo quem pense que a origem da mesma é o problema mais difícil da ciência
(Steiner, 2008:175).
De acordo com Fernão de Oliveira, qualquer linguagem, ao criar imaginariamente
uma realidade, gera um signifi cante comunitário de afectos, susceptível de tradução política,
se para tanto houver engenho e arte (Maltez, 2002:339).
Já Karl Deutsch vai mais além no conceito de linguagem, defi nindo -a como uma
comunidade de signifi cações partilhadas, um contexto de afi nidades em que muitas identidades
podem fl uir, uma dimensão meta política, uma identidade espiritual, metafísica, à
semelhança da comunidade lusíada, dando origem ao cidadão do mundo, ao vagabundo
do mundo universal (Maltez, 2002:340).
Toda a língua humana ou a linguagem como tal é essencialmente simbólica, no
sentido forte e tradicional do termo (Rideau, 1965:407). A linguagem expressa as imagens
do mundo dos sentidos (S.Berg, 1998:6) e os desenvolvimento da mesma está associada
à intuição, ao senso comum e a valores morais (Forester, 1993:223 -224).
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Neste contexto, a pátria de Pessoa é a língua (a língua portuguesa) que, por Portugal,
pelos descobrimentos, deu origem à conversão da civilização europeia em civilização
mundial (Maltez, 2002: 336 -337).
Quanto à escrita, a mesma é universal e sem a escrita a cultura não existia, é inteligência
transmissível (Diringer, 1968: 15). O logos (discurso, palavras sem acção), é
aquilo que se opõe à violência e o ser humano é o único animal comunicacional, o único
que comunica através da palavra inserida num discurso (Maltez, 2002:234 -235).
À semelhança dos fractais, a vida é designada por imagens tiradas da ordem espacial
e material, das formas e estruturas e da sua organização, unidade, complexidade, fi -
nalidade e evolução. Esta nova geometria dimensional fraccional, quanto mais irregular é
a sua forma, mais espaço esta consume89. De facto, Mitchell Feigenbaum, em meados da
década de 70 (do século XX), descobriu que muitos sistemas lineares aparentemente não
relacionados comportam -se de modos claramente semelhantes, o que sugere que deveria
existir uma teoria unifi cada para explicar o comportamento caótico dos sistemas e equações
em uma faixa ampla de sectores90.
O computador permite uma cópia do universo ou de parte deste, consiste na simulação
computacional da natureza, criando se no PC um universo “faz de conta”, que nos
permite novas decifrações da realidade, inclusive na realidade politica, na “navegação
simulada” no seio da ágora virtual.
Serão as mutações linguísticas iniciadas pela internet os códigos para a descoberta
de uma nova linguagem universal unifi cadora da humanidade?
James Gleick provou, que até o cérebro humano e a sua consciência podem ter
formas fractais91.
Vassily Kandisnsk escreveu: “toda a obra de arte começa teoricamente do mesmo
modo que o cosmo, através de catástrofes que fi nalmente fazem nascer, do barulho trovejante
dos instrumentos, uma sinfonia a que se chama música das esferas; criar uma obra
de arte é criar um mundo”92.
89 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cores, em 14/7/09
90 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cores, em 14/7/09
91 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cores, em 14/7/09
92 http://dererummundi.blogspot.com/2008/08/os -jardins -secretos -de -mandelbrot_13.html, em 9/04/09
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A escrita pode ser, deste modo originariamente divina, ou seja, acreditada por
muitos povos (Diringer, 1968: 15).
A linguagem é o espelho do mundo (Marques, 2003) e pertence ao domínio do córtex
esquerdo e a humanidade, através da linguagem, dos seus sinais, da escrita estendeu o seu
alcance espacial, temporal, social e histórico, da sua expressão, da comunicação e do seu auto
– conhecimento (Cadoz, 1996: 80). O fenómeno da linguagem é, nesta continuidade de pensamento,
um fenómeno do “eu” (e nesta óptica do fi m de um sonho, do fi m da humanidade,
da sua imagem, como objecto das ciência sociais e humanas) (Foucault, 1996), do confronto
da persona com a totalidade. No entanto, a palavra é a nossa inteligência da vida, o meio do
espírito se manifestar (Foucault, 1996: 38). De facto, de acordo com Groce, os factos já não
são factos, mas palavras, já não são realidade, mas imagens (Maltez, 2002:300).
A gramática refl ecte -se sobre a linguagem, na generalidade, e na sua manifestação
com a universalidade, que pode revestir duas formas: a possibilidade de uma linguagem
universal ou de um discurso universal, como parcialmente concebeu Foucault
(1996:137).
Mas, foi a partir do Médio Oriente e da índia, que se descobriu o alfabeto e que o
mesmo e o sistema decimal chegaram a toda a humanidade (Penzias, 1992:44). Núme ros
e pictogramas rudimentares constituiriam as bases da escrita cuneiforme, a primeira linguagem
escrita (Penzias, 1992:47).
A hermenêutica terá grande importância como uma ciência que compreende e
estuda a linguística (Sarmento, 2008: 62), interpretando o signifi cado daquilo que os seres
humanos expressam, sobretudo através de textos ou palavras.
Sendo a língua genericamente um sistema de códigos, cristalizando ao longo da
história, uma confi guração cultural que abre espaço para um sistema de símbolos (Castells,
1997) que liga a esfera pública à privada, do mesmo modo a cibercultura pos sibilitou
o nascimento, ainda embrionário, de novas linguagens virtuais, nomeadamente o
internetês. Já o Génesis (XI, 1) mencionava que “O mundo inteiro tinha o mesmo idioma
e as mesmas palavras” (Freixo, 2006:23 -28).
A “nação global” do futuro, estará ligada a estas novas linguagens? À cibercultura
política e à teoria das conexões em rede? Uma nova “civitas” brotará do ciberespaço?
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Sim, como parcialmente conceptualizou Foucault, na raiz comum da história política,
nas formas de Estado, na arte e religião, na fi losofi a e no espírito do tempo (fl uído
do tempo) emergirá uma nova cibercivitas mundial no espírito do tempo, que é também a
pura forma das ideias (Foucault, 1996:25).
Mas, quanto ao ambiente sociolinguístico da internet, ou seja, o inglês de computador,
parece -se avizinhar três hipóteses quanto ao seu futuro: o inglês como língua defi -
nitiva da internet, a possibilidade de um programa que traduza as línguas internas à rede
e a existência de computadores autónomos com línguas próprias.
O ciberespaço é habitado por imagens e pelo tempo virtual dos sons. Mas, a linguagem
da realidade virtual, conduz -nos a uma nova escrita na qual as palavras e as letras serão
substituídas por objectos manipuláveis, audíveis, visíveis, tocáveis (Cadoz, 1996:113 -114).
A semiótica, criada por Charles Peirce, estuda os signos. Um signo é algo que está
no lugar de outra coisa, representando algo para alguém.
A semiose, criada por Langer estuda a concepção metafórica da virtualidade de que
o cérebro forma um mundo virtual, é apenas mais um nível da mesma e uma concepção
mental, não é irreal, são “coisas” físicas, interacções entre células nervosas mediadas por
neurotransmissores e energia eléctrica. À semelhança, nas interacções por computadores em
rede, a luz e o som são transformadas em impulsos eléctricos, depois são digitalizados,
transformados em orientações magnéticas, em energia eléctrica, em luz e em ondas eléctricas.
Finalmente, são descodifi cadas novamente na outra ponta da comunicação. Toda a interacção
é mediada, não importa a sua natureza, todas são fenómenos do universo com signifi
cações. Deste modo, todo o cérebro humano é susceptível de manipulação e controle.
Paradoxalmente, Krishnamurti defende que não se tem a certeza de que todas as
células estejam condicionadas. Há quem acredite, por exemplo, que apenas algumas, ou
uma pequena parte das células, são utilizadas, enquanto as outras permanecem adormecidas
(Krishnamurti, 1993:119).
A questão da linguagem da internet, é fundamentalmente uma questão cultural e
política que abarca um projecto hegemónico pelos EUA cujo controle e manipulação tem
por fi nalidade obter o domínio mundial por meio da indústria de satélites e de informação
baseado em interesses corporativos e capitalistas.
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com Adriano Duarte Rodrigues93, as tecnologias de informação incidem
directamente sobre a linguagem e são reticulares funcionando conforme a lógica da
rede e da conexão.
A telemanipulação (manipulações de objectos à distância por meio de dispositivos
de transmissão dos movimentos de um operador e, por vezes, das reacções do objecto ao
operador) é possível com a utilização de novas linguagens virtuais? (Cadoz, 1996:134).
Sim, de facto, as teorias marxistas temem a alienação do público e preocupam -se
com as forças produtivas de informação.
Em relação à linguagem de carácter político, é utilizada através dos media pelos
governos, pelas grandes empresas e pelos interesses sociais na manipu la ção electrónica
das massas.
Em paradoxo, a universalidade da linguagem on -line na era da globalização, transmite
a comunicação horizontalmente em links de informação navegável e motores de
busca que se desenvolveram rapidamente e que o mundo “abraçou” criando uma teia à
escala planetária, sem autoridade na sociedade em rede.
As mãos dos cibernautas, que apontam uma direcção é de ordem semiológica, são
sinais, não são acções físicas (Cadoz, 1996:44), são representações homeomórfi cas (representações
nas quais o representado e o representante se correspondem pela forma, isto
é, o desenvolvimento no tempo/ espaço de algumas manifestações) (Cadoz, 1996:132).
As palavras são armas dos políticos para dominar e obscurecer a realidade com
uma psedo -realidade para manipular os cidadãos (Dorozynsky, 1982:51).
Na actualidade, o bom senso demonstra por si mesmo que, as palavras devem
ser usadas contra as manipulações que trazem o vazio aos espíritos, um vazio que difi -
culta a distinção da verdade (Dorozynsky, 1982:55). As palavras devem pertencer à
dimensão no plano do pensamento livre, da imaginação e há que dar lugar à imaginação
política de cada um de nós. De facto, parece provado que, o cérebro humano tem
predisposições, hoje bem conhecidas dos psicólogos, para o irracional e para a magia
(Dorozynsky, 1982:59).
93 http://www.bocc.ubi.pt/pag/garcia -jose -luis -cibercultura -cidadania.pdf, em 07/04/09
79
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Nos símbolos das mutações linguísticas preconizadas pela cibercultura uma síntese
intelectual é elaborada no crescimento para a unifi cação do globo. Visíveis a isso são
as expressões gráfi cas do discurso electrónico, as linguagens audíveis, vencendo as condições
vulgares do espaço e do tempo.
3. A ágora virtual: ciberdemocracia (representativa, participativa e directa)
As autoridades políticas decidem pelo cidadão, quer porque lhes delegamos poder
por processos democráticos, quer porque elas próprias se apoderam do mesmo. Seja qual for
o sistema político, a obediência é um elemento fundamental da estrutura social (Dorozynsky,
1982:23). Nesta perspectiva, Arthur Koestler, na análise das hierarquias sociais sublinha que
os impulsos egoístas do ser humano representam um perigo histórico menor do que as suas
tendências integrativas (Dorozynsky, 1982:26 -27). Deste modo, obediência, disciplina e
adesão à hierarquia estão na origem dum somatório de horrores infi nitamente maior do que
os dos que se podem atribuir à recusa de obedecer à rebelião (Dorozynsky, 1982:26 -27).
A teledemocracia consiste na possibilidade de uma revolução política, na concretização
da elaboração legislativa realizada directamente pelo povo, até porque a revolução
das comunicações gerou uma classe de produtores de transmissores de informação
(Forester, 1993:231 -233). Os mesmos, assegurarão que a troca de informações se torne a
base da nova ordem política (Forester, 1993:231 -233). Este tipo de democracia melhora
a democracia, mas não a transforma radicalmente (Forester, 1993:246).
A democracia electrónica é, na actualidade, individualista.
No entanto, dada a sua evolução, pode transformar -se em democracia de massas
ou de multidões?
Virtual signifi ca potencial, ainda não realizado, oposto ao actual, algo que não é
físico, mas ligações sinápticas, apenas conceptual, simulação, tendências ou forças. Mas,
é algo verdadeiro e semiótico, pleno de signifi cados e mediado pelos computado res nas
suas interacções.
De acordo com Howard Rheingold, a democracia electrónica engloba o voto electrónico,
a participação e conversas on -line de cariz político e mundial e a reanimação da
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consciência política, o exercício da cidadania mundial e contri bui ções para o melhoramento
da qualidade da democracia representativa94. Neste contexto, a nova “democracia
cultural” é o prolongamento da democracia liberal, estruturada à volta do divertimento e
do enriquecimento espiritual através dos fl uxos de informação e da comunicação internacional
(Mattelart:1991).
Mas, a ciberdemocracia ou democracia virtual consiste fundamentalmente na
emergência de novas formas de democracia: no uso da internet por governos, com fornecimento
de serviços e interac ção com os cidadãos, também chamado de governo electrónico
ou e -governo, na possibilidade das cidadãs e dos cidadãos comunicarem mais livremente
com os governos, associando -se com grupos de interesse através do voto on -line,
da participação em todos os estágios do processo de decisão, na avaliação das necessidades,
na recolha de decisão, avaliação e correcção de acções. A navegação on -line constitui
o potencial democrático das conexões em rede, na realização da interactividade global,
da comunicação deshierarquizada, de custos políticos mais baixos, maior rapidez nas
decisões, desterritorialização (ilimitação geográfi ca), possibilidade parcial do anonimato,
maior divulgação dos processos democráticos, destaque à participação na cidadania
virtual e em sequência na cidadania em geral e menos importância ao poder da democracia
representativa95.
A desterritorialização para o direito das minorias é, não somente o espaço nómada
para a mesmas, mas também a projecção no espaço do mundo graças aos media, uma
longa conversa on -line sobre o mundo, na qual todos os cidadãos podem participar livre
e racionalmente, sem coacções, através de fóruns e debates públicos96.
De acordo, com Filipe Mon tar gil97, as tecnologias de informação têm importância
no reforço da democracia, no acesso universal à literacia (política pública universal), na
votação e disponibilização da informação sobre os candidatos políticos através da internet.
Segundo o mesmo investigador, a democracia electrónica reforça a democracia par-
94 Cyberphiloso phy.blogspot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, em 18/08/08
95 http://pt.wikipe dia.org/wiki/Democracia_representativa, em 07/04/09
96 http:// cyber democracia.blogspot.com/search/label/Filosofi a%20Pol%C3%ADtica.%20De mo cra cia%20
Electr%C3%B3nica.%20Blogosfera, em 6/10/08
97 http://video.google.com/videoplay?docid=7400450521150862619, em 07/04/09
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ticipativa, através do direito da capacidade na cidadania de se tomarem decisões que dizem
respeito à comunidade e de designar represen tantes. Montargil, na análise das TIC
(tecnologias de informação e comunicação), considera que as mesmas estão direccionadas
a criar novas oportunidades de participação pública através do utopismo ideológico
(de uma sociedade utópica ideal), de uma democracia electrónica entendida como prática
universal de cidadania que é condicionada pelo acesso generalizado e seguro a instrumentos
que possibilitam a expressão da vontade política e também, infelizmente, de meios de
exclusão (infoexclusão e info -ilitracia).
Em relação à participação política em si mesma ou à participação dos actores da
sociedade civil nas relações internacionais não é nova, nomeadamente, é de destacar, a
emergência dos movimentos anti -esclavagistas no século XIX, as internacionais operária
e feministas e os movimentos de opinião dos anos sessenta (século XX)98.
A utilização da internet levou ao nascimento de uma esfera pública indo gerar,
provavelmente, num futuro próximo, novas formas políticas. De acordo com Dominique
Wolton (2000), o resultado da tecnifi cação das sociedades deu mais vida à liberdade de
expressão, ao combate pela democracia numa sociedade aberta, à idealização da comunicação
e dos valores policêntricos das sociedades ocidentais.
O global arrastou consigo novas formas de organização política e social que foram
gradualmente aprofundando o conceito de democracia, transformando a mesma, embora
numa fase incipiente, numa democracia associada à utilização de um computador ou de
uma ágora virtual. O ciberespaço tornou -se num espaço de debate dos grandes problemas
do mundo contemporâneo, nomeadamente o desarmamento, os equilíbrios ecológicos, as
alterações da economia e do trabalho, o desenvolvimento dos países do sul, a educação e
as questões de cidadania e género, a xenofobia, o racismo e as migrações.
O fenómeno virtual será um fenómeno revelador de uma verdadeira revolução
cultural global?
Certo é que, do fracasso da democracia representativa, enfatizada pela utilização
em massa da rede (de facto, já nenhum navegador on -line se sente realmente bem representado)
emerge a maior importância da ciberdemocracia partici pativa e directa.
98 www.ufrgs.br/editora, em 13/10/09
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A revolução estará a cargo dos intelectuais e de todos aqueles que, não alienados
ao consumo, têm tempo para pensar criticamente e psicanaliticamente. A revolução será
sobretudo cultural e menos política, porque o conceito de poder realista (da teoria realista
das relações internacionais) está a desaparecer e porque a revolução procede do socialismo
humanista.
A virtualidade política e social das novas tecnologias, fundiu -se na transmutação
dos seres humanos globais como novos actores das relações políticas internacionais.
Este fenómeno, existe em potência fazendo nascer do ciberespaço a ciberde mocracia.
Esta é, por si mesma, a vertente política da cibercultura na sociedade de informação sendo
essencialmente caracterizada por ser em rede, menos autoritária e hierárquica do que
a democracia representativa clássica. A cibercultura política da virtualidade real integra-
-se, deste modo, como parcialmente defende Castells (2002:432), na comunicação electrónica
global e no surgimento das redes interactivas. A mesma cultura, do ponto de
vista de Roland Barthes e Jean Baudrillar, é baseada nas formas de comunicação da produção
e consumo de signos, não havendo separação entre a realidade e a representação
simbólica (Castells, 2002).
A ciberdemocracia tem como intervenientes as comunidades virtuais que convivem
socialmente no espaço virtual.
De acordo com Lévy (2003), as categorias geográfi co e territoriais são substituídas
pelas proximidades semânticas, como a língua, a orientação sexual ou ideológico-
-política, o clube desportivo ou a categoria profi ssional, crença e religião. Como exemplo,
destaca -se nomeadamente, alguns sites consagrados às mulheres, como womenplanet.
com, outros aos gays como o gay.com, às comunidades virtuais durante uma campanha
eleitoral, oferecendo acesso gratuito à internet, endereço de correio electrónico e fórum
de compras (Lévy, 2003) aos usuários da net.
Quanto ao voto electrónico, espera -se que aumente a participação política eleitoral
dos indiferentes, aos portadores de defi ciência, às pessoas em viajem, afastadas dos
locais clássicos de voto ou expatriadas e aos migrantes.
A democracia electrónica (ou ciberdemocracia) vai, num futuro próximo, aperfeiçoar
a democracia representativa devido à informatização dos procedimentos políticos
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
(Leone, 2000), nomeadamente através da prática on -line da actividade parlamentar, de
processos de sondagens de opinião e expressão pública de reclamações. Mas, não é só o
voto electrónico que faz parte da ciberdemocracia, mas a possibilidade do diálogo político
no seio das comunidades virtuais. Exemplo concreto desta prática, é demonstrado pela
actividade da câmara municipal interactiva da América e a sua base de dados que facilita
a comunicação entre cidadãos e representantes políticos.
No entanto, esta nova forma de fazer política, abarca, não somente, as petições
on -line, mas também os referendos on -line com poder de decisão e consultas populares
globais sem poder de decisão. A democracia directa, através do voto no ciberespaço,
aproximou a identidade política na cidadania, com a possibilidade e facilidade de participação
ao apoio ou ao combate a determinados problemas considerados de urgente resolução,
nomeadamente através de sondagens e petições online. Neste contexto, Clinton
instalou uma comissão, o advisory council on the national information infastruture consagrado
à criação massiva de empregos qualifi cados e bem remunerados, reforma do
sistema educativa, acesso de todos a cidadania virtual, à saúde pública e reinvenção da
democracia directa (Mattelart, 2002).
A sociedade civil globalizada pelas novas tecnologias, ganha novas caracterís ticas
tornando -se mais cooperante, maior produtora de informação política. As minorias e os
grupos tomam posições on -line importantes para a vida colectiva.
De acordo com Lévy (1997), a ágora virtual é o espaço e o tempo da demo cracia
real, do poder do povo da “nação global”, numa perspectiva contemporânea internacional
(incipiente na revolução francesa), do pensamento colectivo que dialoga na cidade
global. A “nação global” futura manifestar -se-á no ciberespaço, através da cibercultura
política, das suas ágoras virtuais e votações electrónicas e visará a paz e a justiça global.
Esta ciberpraça, conecta rela ções transversais num dinamismo comunicacional em que
as mulheres e os homens, os jovens e as jovens e até as crianças concentram -se em políticas
inovadoras.
Nesta perspectiva, a história parece demonstrar que o pleno direito à comunicação
está na origem do despertar dos movimentos de emancipação e dos movimentos pela democracia
e, de acordo com Dominique Wolton (2000), a liberdade de informação e de
comunicação estão na base de todos os relacionamentos sociais e políticos, da liberdade
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individual e da igualdade, da democracia de massas e da forte ligação entre a teoria da
comunicação e a teoria da sociedade. De facto, de acordo com Lévy (2003), a ciberdemocracia
está associada a vários conceitos característicos da modernidade: governância
mundial, Estado transparente, cultura da diversidade e ética da inteligência colectiva.
A internet inaugurou um ciberespaço transparente e universal de comunicação e diálogo
(por oposição à resolução de confl itos políticos e sociais através do recurso à guerra e
à violência), da democracia electrónica que tem a sua máxima expressão local na participação
na sociedade civil com o voto electrónico. A incipiente ciberdemocracia poderá ser, em
potência, uma nova forma de organizar o poder político, mais fl exível e descentralizada.
No que diz respeito à governância, está associada ao possível governo global,
continental, regional, nacional “sedento” de interdependência humanitária e paz. Os partidos
políticos, já se consolidaram como comunidades virtuais dispondo de sites partidários
de carácter essencialmente consultivo e participativo e a vida política on -line é mais
económica e ecológica do que a actividade política clássica por não envolver cartazes e
publicidade na televisão e despesas em transportes.
Lévy (2003) exemplifi ca casos de voto electrónico: Brest, em França (referendo
de 2000), eleições primárias no Arizona, em 2000 (fi zeram -se pela rede) e, no mesmo
ano, no Alasca alguns eleitores foram autorizados a votar pela rede. O Brasil, empenhou-
-se na concretização do voto electrónico e na União Europeia um grande número de Estados
europeus empenhou -se igualmente.
A democracia on -line, é sobretudo participativa, ligada à sociedade civil da era
das novas tecnologias em rede. Os cibernautas serão um dos principais actores das relações
internacionais, em evolução fetal, e a política será a arte de trabalhar, de viajar na
rede. A navegação electrónica da cultura política será a nova politica, com destaque, para
o trabalho on -line dos técnicos, juris tas, politólogos, psicólogos, espiritualistas, cientistas,
investigadores, especialistas em relações internacionais, sociólogos, fi lósofos, escritores,
jornalistas, professores, desem pre gados, subempregados e trabalhadores a tempo parcial.
Como imaginou Lévy (2003), o activismo político em linha exercita o diálogo, a
deliberação, a decisão, os fóruns, a liberdade de expressão, as petições e as sondagens e a
ciberdemocracia autogera -se na acção da cibercidadania.
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Quanto à ciberdemocracia participativa, esta será um “laboratório central do pensamento”,
cujas principais funções serão ensinar e investigar a participação on -line de
cariz político.
Masuda, conceituado futurologista, disse, em 1980, que a sociedade em rede vai
fazer com que a criatividade intelectual preceda o desejo de consumo material e que o
poder centralizado e a hierar quização em politica cedam lugar a uma sociedade multicentrada
(Mattelart, 2002).
Será a tendência da prática ciberdemocrática circular e não triangular? Será policêntrica?
Os pólos circulares de ciberpoder unem -se na rede? Será o futuro da ciberdemocracia
a descentralização?
As comunicações políticas deverão emanar directamente da ciber cida dania e devem
servir para satisfazer as necessidades do povo. A democracia electrónica, apresenta
a vantagem de permitir um relacionamento trans parente, directo, personalizado entre a
administração pública e as populações.
O ciberactivismo político teve a sua máxima expressão com as reivindicações dos
zapatistas mexicanos, ambientalistas internacionais e com as milícias norte -ame ricanas
que utilizaram a internet como instrumentos de divulgação das suas acções. Também a
criação de LA NETA, uma rede alternativa de comunicação computado rizada no México
e em Chiapas e a sua utilização por grupos feministas (principalmente pelo “de mujer a
mujer”) para ligarem em rede as ONG (Organizações Não Governamentais) de Chiapas
com as restantes mulheres do México, como também por outras redes utilizadas por mulheres
nos EUA (Castells, 1997).
Os chamados movimentos “patrióticos” usaram, igualmente, a internet, nomeadamente,
neonazis, anti -semitas, ku klux klan, posse comunitas, identidade cristã, movimento
em defesa dos direitos dos distritos, mas também, coligações anti -ambientalistas,
sindicato nacional dos contribuintes, defensores dos tribunais de justiça comuns, movimentos
anti -aborto e National Rifl e Association (Castells, 1997). Também o movimento
verdade suprema, projecta uma fi losofi a de um mundo real através da realidade virtual,
criada a partir da combinação entre tecnologia e técnicas de Yoga (Castells, 1997), de
fl uxos de electrões numa perspectiva tibetano -budista.
86
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De igual modo, a ciberpolítica “verde”, representada pela maior organização ambiental
do mundo, Greenpeace, defende a formação de redes globais e utiliza as tecnologias
de comunicação, à semelhança dos eco feminismos, que defendem que os Estados-
-nação dividiram a espécie humana, e associam globalização e localismos, sendo ambos
movimentos sociais que interagem a sociedade em rede e o poder das suas identidades.
O eco feminismo, proclama um novo paradigma político cuja participação dos media é
fundamental no processo de sensibilização a esta mudança (luta contra a poluição, contra
as guerras, contra a fome, contra a miséria…)99. À semelhança, a ecopedagogia fundada
na consciência de que pertencemos a uma única comunidade da vida, desenvolve a solidariedade
e a cidadania planetária, associando direitos humanos e direitos planetários.
As causas humanitárias na área da saúde também são mobilizadas através da política
informacional nomeadamente no âmbito dos Médicos Sem Fronteiras, à semelhança
da Amnistia Internacional, no âmbito dos direitos humanos.
Redes comunitárias como Douglas Schute (Seattle), cidade digital Amesterdão e
Relcom (ex -União Soviética), utilizadas por académicos, tiveram uma crucial importância
na luta pela democracia e pela liberdade de expressão, durante os anos mais críticos
da perestroika (Castells, 2004).
O ciberespaço não é mais do que o espaço de eleição da cidadania que se auto projecta
através de signos polissémicos imaginários. A democracia virtual é fundamentalmente
liberal e social, participativa e deli be ra tiva. É participativa, porque incide mais sobre o terceiro
sector (corporações, orga ni zações públicas não estatais de responsabilização social,
nomeadamente associa ções cívicas, ONG e movimentos sociais). Deste modo, a política de
responsabilidade social consiste numa acção da cidadania, no sentido de fi scalizar as autoridades
políticas. A nova democracia virtual será, certamente, uma democracia associada à
sociedade civil activa. Salienta -se, neste sentido, a RAFE (Reforma da Administração Financeira
do Estado),projecto de governação electrónica em Cabo verde, com o objectivo de diminuir
a burocracia estatal, aumentar o controlo social sobre o Estado, concretizar uma maior
efectividade da acção governamental e uma maior satisfação das expectativas dos cidadãos.
99 http://www.artigos.com/artigos/sociedade/o -resgate -do -feminino: -um -olhar -sobre -o -ecofeminismo -e-
-a -mudanca -de -paradigma -486/artigo/, em 11/04/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com o Livro Verde para a Sociedade de Informação (1997), é real çada
a importância da democracia participativa na sociedade de conhecimento e de informação
contemporânea, na renovação de um ideal universal de unidade, na procla ma ção da liberdade,
no desejo da modernidade de justiça, na democraticidade e no combate à exclusão,
na libertação de forças de cidadania e no reforço das solidariedades à escala planetária.
No que respeita à cidadania europeia, a globalização e a interdependência dos
meios de comunicação criaram um espaço audiovisual europeu responsável por uma mudança
fundamental na cultura e na informação europeia num processo, em geral, independente
do Estado -nação.
A democracia virtual estuda os signos, que são pragmáticos e práticos, servem
para tudo, e tudo se tornou signo em demasia (Scheer, 1997:13). Os artistas pop, o povo,
o comum ocupavam o lugar simbólico do soberano e saboreavam o seu quarto de hora
de glória, com toda a impunidade (Scheer, 1997:15), à semelhança dos dois parâmetros
da democracia ateniense do “eu “que se podem enquadrar na ciberdemocracia, nomeadamente
a politike techne, a arte do juízo político que todos os cidadão possuem e a
isegoria, ou seja, o direito igual para todos de falar à assembleia, isto é, à ágora virtual
que através da rede funciona como acelerador da crise de ordem política, da mensagem
ideológica e política.
Para Mcluhan, a mensagem é o médium, a lei da civilização da comunicação
(Scheer, 1997:16 -21) e o medium é a massa e não qualquer outra mensagem possível na
ordem política que não seja a própria massa, que alguns confundem com o populismo,
que era ainda uma ideologia, mas as massas são a maioria e a democracia é a ditadura
das massas.
De facto, nos EUA e na Europa, surgiram novas formas de democracia advenientes
do uso da internet por governos, com o fornecimento de serviços e interacção com a
cibercidadania (e -governo), o que veio “enriquecer” a democracia participativa100.
Na democracia virtual futura, o poder representativo poderá ser abolido, assim
sendo todas as leis serão aprovadas directamente pela cibercidadania, deixando o parla-
100 http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_Virtual, em 07/04/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
mento de existir como órgão legislativo, Este método, realça, através das novas tecnologias,
a velha democracia, sem restrições de local, de condições sociais e resistindo de um
modo efi caz a tentativas oligárquicas101.
Em relação à democracia directa, o interesse dos cidadãos varia muito de questão
para questão (Forester, 1993:235).
O crescimento da cibercultura política permitiu a emergência de uma nova ágora
virtual, de um novo espaço público, de novas formas de luta pela emancipação que, embora
de carácter utópico, torna -se fascinante pela fusão mito e razão, pela possibilidade
de construção de uma nova realidade política, de uma sociedade civil internacional, de
uma nova energia de poder político, do nascimento de um novo imaginário colectivo, de
novos movimentos que colidem com a o status quo ou establishment político.
Será o ciberactivismo político o espelho da nova esquerda, direita ou centro imaginário
e visionário, de viagem e análise ao interior do”eu”, que envolverá o psicadelismo
e o surrealismo electrónico?
4. Cidadania global electrónica
O conceito de cidadania nasce na Grécia do século VI a.C. (com exclusão na
mesma das mulheres, dos metecos e dos escravos) e nas civilizações que criaram o alfabeto,
dando vida ao conceito de liberdade. A polis grega ou Cidade-estado defi nia -se
como uma maneira de viver exclusivamente baseada na persuasão e não na violência
(Arendt, 1962:12).
Anacronicamente, é com os estóicos (século III a.C.), que a ética da liberdade interior
ganha traços com as sabedorias orientais, ganhando a humanidade sabedoria no seu
reconhecimento de que faz parte da grande ordem e do propósito do universo à semelhança
da cidadania global holística, fazendo com que a humanidade tome consciência do
todo, de um universo interligado mutuamente e complexo.
A liberdade não é a cidade, face aos outros, é pensada como a liberdade do indivíduo
privado face aos restantes e face ao poder político (Laupies, 2005:18 -19).
101 http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_Virtual, em 07/04/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
A cidadania é uma questão fi losófi ca, teórica e formal associada ao cidadão pós-
-moderno, à evolução e progressos do Estado-nação da modernidade, como contextualizou
em parte Isabel Carvalhais (2007:9 -10). Assim, a cidadania da modernidade aspira a
mudanças na cultura política cujo principal objectivo será a efectiva concretização da
solidariedade e integração nas sociedades, participação política e social e legislação directa.
O mesmo conceito, do ponto de vista mundial contemporâneo é esperado pela revolução
transformadora preconizada pela internet como espaço de afi rmação e expressão
da própria humanidade102. Esta revolução é contra -hegemónica e luta pela paz, pelos direitos
humanos e discorda, de uma forma genérica, dos discursos políticos dos Estados
(Carvalhais, 2007:11): luta por um discurso político mais intuitivo e menos discursivo.
De acordo com Kant, um estado de cidadania mun dial será o meio em que se desenvolverá
todas as disposições originárias do género humano e a comunidade virtual
será o espaço privilegiado da realização da “philia” dos gregos (da ciberamizade) no diálogo
que, segundo Aristóteles, unirá os seres humanos do globo num projecto político de
sedução on -line103, à semelhança de uma comunidade internacional de amigos fundamentada
na cultura universal dos direitos humanos, na luta contra as exclusões e no globalismo
sindical.
Em relação à cidadania global electrónica é de destacar (Castells, 2004), os movimentos
de base pré -internet, o movimento hacker na sua expressão mais política, os movimentos
municipais que queriam reforçarem a sua legitimidade abrindo novos canais de
participação de cidadania e os governos na Europa e no Japão e as agências internacionais
no mundo em vias de desenvolvimento com o mesmo objectivo. A virtualidade na cidadania
parece ter criado um desenvolvimento do ciberac ti vismo político à escala mundial,
demonstrado pelo movimento contra -globa lização hegemónica, mas a ciberdemocracia
liga -se fundamentalmente com liberdades e direi tos no âmbito da comunicação e da cooperação
e, de acordo com Thomas Janosky (1998), com a possibilidade de contribuir para
a vida pública comunitária através da participa ção104.
102 Cyberphilosophy.blogspot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, 18/08/08
103 Cyberphilosophy.blogspot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, 18/08/08
104 http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=3esp&infoid=916&
sid=69, em 16/07/08
90
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
De acordo com Habermas (1995), a inclusão digital e a cidadania integram diferentes
grupos na sociedade civil e na diversidade das formas culturais de vida, dos grupos
étnicos, das visões do mundo, das religiões incapacitando os Estados -nação (baseado
num formato social, político e cultural mais ou menos homogéneo) no fornecimento das
bases adequadas para a manutenção da democracia no futuro105.
A cidadania mundial é cosmopolita (Franco, 1997:17) e tem como característica
principal o relativismo cultural, como denúncia ao etnocentrismo e a ideia central da mesma
é que a natureza humana é qualquer coisa de comum a todos e ao todo. Na virtualidade,
o mesmo conceito (cidadania) estimula o crescimento individual e colectivo, na confrontação
com identidades diversifi cadas, porque faz caminhar os cibernautas ao regresso
a si mesmos, na abertura ao mundo (Lévy, 1997).
Como conceptualizou parcialmente Lévy (1997), a identidade política efectiva da
cibercidadania já não decorre da pertença a uma categoria, mas sim de uma distribuição
específi ca na abertura ao diálogo das questões polémicas, das suas posições e argumentos.
Katz, Rice e Aspen, em 2001, analisaram a relação entre a utilização da internet, a participação
da cidadania e a interacção social, baseando -se numa série de sondagens telefónicas
à escala nacional levadas a cabo em 1995/96 e 1997/2000, concluindo que o nível
de participação política e as relações sociais entre utilizadores era igual ou superior à dos
não utilizadores (Castells, 2004).
A cidadania on -line (electrónica) é a sociedade civil virtual que arrasta a humanidade
a formar novas comunidades e formas de associação num processo com base em
fl uxos de informação associados à cultura cibernética internacional. A cibersociedade
global, representa um sistema político, social, económico e cultural da planetarização da
net, do convívio pacífi co, democrático e solidário.
As classes sociais desaparecerão virtualmente e os confl itos cessarão na cibersociedade
imaginária, à semelhança da obra, “internet l‘extase et l‘effroi”, o nascimento da
sociedade de informação e o caminho para a sociedade de conhecimento colocou pólos
concêntricos nos sistemas de valores baseados na liberdade e na igualdade.
105 http://www.abed.org.br/publi que/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=3esp&infoid=916&
sid=69, em 16/07/08
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A cidadania electrónica tem a sua máxima expressão nos actos dos seus actores,
nos seus signifi cados, valores e opiniões. De facto, segundo Nicole Sindzingre (Wolton,
2000), a identidade dinâmica de hoje é a condição da comunicação, ou seja, o meio de
evitar uma reacção, desta vez violenta, contra uma comunicação invasora e destrutiva.
Segundo Lévy (2003), e de acordo com um estudo citado pela Mind Share, os cibernautas
votam mais, estão melhor informados, sentem mais confi ança na democracia do que os
cidadãos que não recorrem à internet.
O cibernauta ao viajar na civitas global, poder ser anónimo, utilizando a liberdade
numa espécie de alienação politica provocada pela “adição” ao audiovisual, à multimédia
e à interactividade, o mesmo politiza -se no interesse intelectual e na participação on -line,
este acaba por construir uma consciência de solidariedade, um sentido cívico, uma auto-
-instrução, novas identidades e comunidades culturais virtuais, lutas por causas politicas
através da rede, interesses relativamente novos. Salienta -se, neste contexto, que o aumento
do nível médio de instrução, de rendimento, de nível de vida e a expansão dos meios
de comunicação social cada vez contribuem mais para a participação da cidadania nomeadamente
da prática da cibercidadania participativa.
Da utilização da cibercidadania global, nascem as micronações virtuais (Lemos,
2004:151 -174), experiências na internet de criação de países criados pela imaginação dos
cibernautas libertários ou de reconstrução de países destruídos por anexações, como o Tibete106
ou a Palestina107, da criação de colectividades livres e utópicas que se evadiram dos
seus países originários, a cidade global de Castells composta por fl uxos de informação e
da ágora virtual, espaço de conversação política virtual, através de fóruns, listas e chats.
Existem micronações que não têm paralelos reais, como a Domination of Melchizedek108,
criada nos anos noventa do século XX, tendo como território uma ilha inabitada
do Pacífi co e reivindicando reconhecimento (como o Vaticano, ou Malta). Esta nação
virtual, gerada por David Korem tem Consulados em Israel, Alemanha, Bulgária, Chile e
Portugal. New Utopia é também uma micronação criada por Howard Turney, que se inti-
106 www.tibet.net
107 www.pna.net
108 www.melchizedek.com
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
tulava príncipe de Lazarus Long e vive em Oklahoma e cujo objectivo consiste na construção
de um arquipélago a oeste das Ilhas Caimã109, bem como a República de Lomar110
que existe neste site com sete mil pessoas de oitenta países.
Salienta -se, neste aspecto, que a realidade virtual é utópica, na socialização, tornada
possível pela reprodutibilidade, pela política e pela arte contemporâneas e esta perde
a sua função de alternativa crítica, como concebeu parcialmente Cristina Sarmento (Sarmento,
2008: 109).
O Estado virtual criado por Laurent Cleenwerck, pode conse guir reconhecimento e
funcionar como alternativa à cidadania geográfi ca, mostrando interesse por causas humanitárias
e pelos direitos das minorias, já tendo emitido passa portes a refugiados e exilados, favorecendo
também cidadania, serviços e assistência legal. O Principado de Freedonia, pretende
ter um território real. De facto, Alexandre Kyle tenciona comprar um pedaço em Awdal,
pequeno Sudanato na África (Lemos, 2004). O Aerica Empire111, fundado por Eric Lis ao
pretender despertar o interesse pela política e reformular as ideias dos anos sessenta do século
XX, fundindo política e ciberespaço. O Reino de Talossa112, constitui uma monarquia
constitucional gerada por Robert Madison, em 1979, no seu quarto em Milwaukee, tendo
cerca de sessenta cidadãos que criaram uma língua própria com 25 mil palavras, o Talossês,
não se preocupando com o reconhecimento internacional. Salienta -se, no eventual estudo
critico deste “reino” que, tal como estruturou mentalmente Heidegger, a metafísica, baseada
no esquecimento do ser, leva Marcuse a prever a necessidade de rever a fi losofi a da actualidade
(Sarmento, 2008:111). O governo deste reino potencialmente real, é composto do senat
e uma câmara baixa, cujos membros se reúnem um vez por mês pela web onde publicam um
diário ofi cial,” the clark”. Para se ser cidadão deste reino, o candidato precisa de ler um livro
electrónico sobre o país e comprar 3 dos 16 livros oferecidos e realizar um teste sobre a história
do reino e escrever uma redacção sobre “o que Talossa signifi ca para mim”.
Neste contexto, Marcuse leva -nos a acreditar que a humanidade perdeu as suas
faculdades de oposição, pela falsa liberdade que a racionalidade tecnológica lhe facultou
109 www.new -utopia.com
110 www.republic -of -lomar.org
111 www.aericaempire.com
112 www.talossa.com
93
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
e impôs na absorção energética e mental de pensamentos basicamente unidimensionais
(Sarmento, 2008:112).
À semelhança Lizbekistan113, criada no seu apartamento por Liz Stirling há
cerca de 12 anos, projecta virtualmente uma cidadania e protesta contra a burocracia
em vários países. O lema desta nação electrónica é: liberdade, igualdade e virtualidade.
O projecto terminou em 9/9/1999. Mas, como defende Harold Innis, “a mente moderna
é a mente que nega o tempo” (Castells, 2002), fragmentando a noção do tempo linear,
típico da sociedade industrial, na criação atemporal da libertação (tempo circular).
A República Virtuália114, consiste numa micronação que contava nos primeiros 6
meses com treze mil cibercidadãos. O site desta república electrónica, tem uma enorme
gama de conteúdos, formas de participação, como bancos, bolsas de valores, fundos de
capital de risco, classifi cados, centro comercial, chat, fóruns e correio electrónico.
Em 2000, foi criada a União Federativa Humana cujo objectivo seria unir todas as
mulheres e homens numa espécie de república utópica global da humanidade115. Esta
“nação global” nasceu do sonho de homens e mulheres que aspiram a uma vida melhor.
Qualquer uma ou um está convidada (o) a adquirir a cidadania deste país virtual, cujo
território se estende tanto quanto o universo da internet.
A nação independente de Avalon constitui um país simulado, uma república parlamentarista
e desterritorial.
A Nation, é um projecto desenvolvido por uma criança de 15 anos (Gerald Tan
Chuang Win) na Republica da Malásia e composto por um banco que pretende ter representantes
na ONU (Organização das Nações Unidas) (Lemos, 2004).
A Cynaptica, é uma nação onde a Igreja e o Estado formam uma só estrutura e a
Empire of Leblandia é comandada pelo imperador Marcus Lebenciusz.
O fenómeno dos micronacionalismos (micromundos) virtuais, trata da criação de
uma metáfora para a cidadania a partir de uma nação imaginária, construída a partir de
113 www.Lizbekistan
114 www.virtualia.com
115 www.virtualia.com/quienes
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
novas tecnologias, sendo simulações com novas linguagens virtuais, instituições, empresas,
simbologia e actividades próprias (Lemos, 2004).
Segundo Castells (Lemos, 2004), as novas tecnologias têm infl uenciado a política
mundial já que estas tornaram obsoletas as formas de controlo e vigilância sobre os cidadãos
(Lemos, 2004). Noções de barreiras geográfi cas foram postas em causa pela globalização
económica e social e, com a emergência do espaço de fl uxos circulantes planetários
que as novas tecnologias geraram, nomeadamente a utilização cada vez mais
generalizada da internet. De acordo com André Lemos (2004), existem desejos embutidos
nestes projectos de micronações virtuais nomeadamente de auto -expressão, auto -determinação,
de novas formas de segurança social e novas formas políticas sem base territorial.
A cibercidadania tem origens mais remotas que suplantam claramente o advento
do fenómeno informático, transportando -nos para a massa urbana do século XIX ocidental
onde a política deixa de ser um fenómeno puramente estatal para eclodir nas comunidades,
no povo, dando voz à opinião pública, aos media e à cultura massifi cada.
Do ciberespaço brota a cibercidadania, sem tempo/espaço, na utopia da existência
da cidade ideal universal. O Estado -nação, ao pretender apoderar -se dos media e das comunicações,
vai pôr em causa a autonomia e a liberdade dos fl uxos na internet, nas informações
e no entretenimento, através das imagens e dos pontos de vista.
E, John Lock afi rmava, “ser livre é poder”, Voltaire dizia “a liberdade é a capacidade
de fazermos aquilo que queremos “(Laupies, 2005:21). A liberdade acabou por ser
ligada ao domínio técnico: o desenvolvimento do domínio da natureza aumentou a liberdade
de acção (Laupies, 2005:21).
O universo da cidadania global, da futura “nação global”, é o meio ambiente da
implementação do direito natural, mais tarde direitos fundamentais (do jusnatura lis mo), e
assim válido na planetarização, baseada numa ordem estóica (não hobbesiana), de base
racional e direccionada para a virtude, através dos mesmos direitos cujos principais alvos
são a bondade e a felicidade. A moderna cidadania democrática que está na base da cidadania
global é fundamentalmente cívica, plural e com características associadas à plebe como
prin cípio da igualdade política (liberdade). De facto, a internet veio relançar novos conceitos:
direitos humanos, direito à paz, direito à ecologia, direito ao desvio bem como o forta95
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
lecimento da sociedade civil, sendo tão global é tão diversa como a natureza das mulheres
e dos homens, à semelhança das suas imaginações. As minorias, enquanto grupos sociais
frequentemente associados à ausência de poder, encontram um espaço de afi rmação no
espaço da cidadania virtual partilhando no mesmo valores, interesses e situações.
As comunidades virtuais, comunidades sem geografi a (Cadoz, 1996: 106 -107) são
comunidades desterritorializadas, ou seja, são interacções sociais mundiais, é um ser social.
Será a prática da ciberdemocracia a causa revolucionária da liberdade?
Arendt defende (1962:28), que as revoluções da idade moderna só se realizam
quando estão em causa mudanças radicais das condições sociais, do mesmo modo que a
natureza do cristianismo primitivo defendia a igualdade e o desprezo pelos poderes públicos
(Arendt, 1962:29). De igual modo, podem -se destacar acções práticas de cibercidadania
em telecentros, infocentros, cibercafés e bibliotecas electrónicas116.
O cidadão do mundo é o reconhecimento de realidades concêntricas, à semelhança
da roda que é o símbolo da estabilidade espiritual, partindo de identidade locais, nacionais
e regionais, porque a diversidade humana é o tesouro da unidade humana (Maltez,
2002). A cibercidadania pertence à sociedade do género humano, do globo, do planeta, da
cosmo polis (cidade maior), da humanidade representada por todos, nomeadamente por
refugiados, turistas, migrantes, desempregados, estudantes e professores.
Nesta perspectiva, as relações internacionais contemporâneas, perspectivam globalidade
ou cosmopolitismo, representadas pelas teorias da política transnacional e da
interdependência complexa.
Paradoxalmente, salienta -se, nesta sequência de pensamento, Freud e a associação
histeria, valores, ideologias e nacionalismos, ou seja, doenças nervosas e nacionalismo
tendiam a estar ligados (Sarmento, 2008).
116 http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=3esp&infoid=916&
sid=69, em 16/07/08
96
PARTE III
A CIBERCULTURA: NOVAS FORMAS POLÍTICAS
Castoriadis, louvando a democracia “grega” fala da necessidade de um espaço
onde o uso de direitos seria determinado pela responsabilidade, pela vergonha, pela coragem,
pela educação dos membros da comunidade para a participação política e para a
refl exão (Carvalhais, 2007:65).
O movimento democrático participativo evolui, enquanto as presentes pressões
governamentais enfraquecem sob o fardo do seu tamanho, provocando insatisfação na
cidadania, pelo seu desejo de auto -governo (Forester, 1993:231 -233).
Richard Stallman, famoso hacker, fundador do Movimento do Software Livre,
projecto GNL e da Free Software Foudation (FSF, Fundação para o Software Livre), aclamado
programador, consolidou o conceito de copyleft (através da General Public Licence),
e desde 1990, tem dedicado a maior parte do seu tempo ao activismo político117,
forma política on -line de eleição.
Saliente -se ainda, que os endereços registados nos servidores poderão ser inseridos
numa base de dados que servirá de suporte para posteriores campanhas eleitorais118.
No entanto, é preciso salvaguardar as exigências colocadas pela Comissão Nacional de
Protecção de Dados que advertiu, por várias vezes, que o marketing político através de
comunicações electrónicas (SMS - Microsoft Systems Management Server e pelo e -mail),
é ilegal se não existir uma pré -autorização dos destinatários119.
Benjamin Barber (“Strong democracy”, 1984 a), defende que a participação mais
ponderosa dos cidadãos far -se-á nos serviços cívicos de vídeo conferência (Forester,
1993:233).
Em relação à vídeo democracia, Wolf apela para um sistema nacional de votação,
através de um sistema electrónico não especifi cado ligado à televisão, nomeadamente
117 http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Matthew_Stallman, em 24/7/09
118 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
119 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
97
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
votação via linhas telefónicas, escolhendo aleatoriamente um grupo de cidadãos a quem
se forneceu informação detalhada e tempo sufi ciente para refl ectirem sobre a escolha que
fi zeram (Forester, 1993: 234 -236).
A teleconferência legislativa do Alasca, consistia na realização de comissões legislativas
governamentais aptas a ouvir as pessoas disseminadas pelo mesmo Estado (Forester,
1993:235).
A democracia on -line associa -se à contemporaneidade helénica: ao amor, à sabedoria,
à beleza, à responsabilidade pelo bem público que são produções humanas, conforme
conceptualizou parcialmente Isabel Carvalhais (2007:66). Liga -se igualmente à paz
cosmopolita, tema de debate moderno emancipador, à hegemonia lógica e à emergência
de uma cidadania global (Carvalhais, 2007:73), mas também ao neomarxismo (que é
predominantemente cibernético), às teses de Gramsci sobre a hegemonia e a dependência,
dando importância à cultura e às ideias, não as considerando simples consequências das
forças económicas (Maltez, 2002:299).
Neste sentido, em relação ao espaço da cibercultura de teor político destaca -se,
desde já, a votação electrónica (on -line), onde o ciberbercidadão participa activamente
em todos os processos de decisão: avaliação das necessidades, recolha de informação,
exame da decisão, avaliação e correcção de acções. Salienta -se que o referendo on -line,
segundo Ernest Renan é, “um plebiscito todos os dias” (Maltez, 2002).
Das manifestações da cibercultura política emergem experiências de e -democracy
(democracia electrónica). As mais importantes até hoje realizaram -se em Itália e na Suécia.
Em Itália, o projecto lista partecipata cujo slogan fora “O controle do governo nas
mãos do Povo (e não só no dia das eleições)”, é uma experiência de democracia directa
que vem sendo posta em prática, e é similar ao projecto sueco, chamado demoex – democracia
experimental. O mesmo projecto, permite que um grupo de pessoas se reúna e
participe de discussões utilizando a internet, telefone ou os correios para eleger um membro
como candidato às eleições regionais. Em caso de vitória, o membro da lista eleito é
obrigado a seguir as decisões tomadas por todos os membros dentro desse sistema de
decisão multi -canal, e arriscando -se a ser automaticamente demitido do cargo se não o
fi zer. Esse sistema de decisões, chamado deciadiamo foi criado pela Fundação Telemática
Livre, com sede em Roma. O movimento per la democrazia diretta, cujo lema é “ogni
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
cittadino um membro del Parlamento” (“Cada cidadão um membro do Parlamento”),
promove a democracia directa na Itália, e coordena várias iniciativas similares. Na Suécia,
um projecto denominado democracy experiment, ou demoex (já anteriormente mencionado)
já desenvolveu a tecnologia de computação e o software para votações através
da internet, que está em operação experimental na cidade de Vallentuna, um subúrbio de
Estocolmo. Exemplo concreto desta prática demonstrativa, consiste no projecto e -Europe
(electronic Europe) para a sociedade de informação na Europa no que respeita à governação
electrónica (e -government) na lista de dez iniciativas lançadas em 1999.De facto, a
Europa deu cobertura à colocação em rede da community networking que agrupa iniciativas
de cidadania de base local independentes dos municípios (Lévy, 2003).
A internet, como a principal “auto -estrada” de informação, põe à disposição da
cidadania abundante informação e conhecimentos sobre política e acção política. A prática
da ciberdemocracia, trará um custo político elevado para os Estados, como defende
parcialmente Castells (1997), pois os cibercidadãos estão fervorosos quanto ao privilégio
de receber informações não relacionadas com os Estados, a desesta tização e desnacionalização
da informação (Castells, 1997:315).
Em 1996, Ieltsin reassumiu o controlo do eleitorado através do uso maciço dos
media, do correio electrónico, da realização de sondagens e de propaganda (Castells,
1997), dando ênfase à importância da linguagem, da imagem e dos símbolos trans mi tidos
pela internet na manipulação das decisões políticas.
A posse de Barak Obama, aquando do discurso “no pico de acessos”, suportou
(através da CNN, Cable News Network) um milhão e trezentos mil utilizadores em simultâneo
e chegou a ter de deixar utilizadores em lista de espera para aceder ao directo120.
Os principais actores da sociedade de informação são os ecologistas, as feministas,
os fundamentalistas religiosos, os nacionalistas e os localistas (Castells, 1997). Actuam
sobre a cultura da realidade cultural, uns são pacifi stas, outros violentos. Neste contexto,
destacam -se duas identidades autónomas, os profetas, dando rosto a uma sublevação
simbólica, (como por exemplo o zapatista Marcos ou o guru japonês Asahora) e as redes
electrónicas, que estão fora das redes de poder.
120 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
99
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Do conceito de deliberação on -line, emergem práticas, pesquisas e software de
debate de teor político, nomeadamente consultórios on -line, pesquisas de opinião, diálogo
cívico em fóruns e chats na rede. Neste contexto, a Universidade de Carnegie Melton em
2003 e a Universidade Stanford em 2005, realizaram conferências internacionais sobre
deliberação on -line e votaram pela criação de uma sociedade internacional para a mesma.
A internet, permite o contacto directo, através de entrevistas, chats, fóruns e correio
electrónico, possibilitando uma comunicação directa e personalizada entre o utilizador
e um responsável de uma organização política121. Nos chats e fóruns, o recurso é mais
complicado e nem sempre é fácil envolver responsáveis políticos nestas iniciativas122. Se
ninguém fi ltrar as mensagens que são enviadas, a discussão pode descambar e servir apenas
para enxovalhar alguns participantes123.
A interactividade politica na net permite aos cibercidadãos a possibilidade de leitura,
o envio de mensagens, a utilização de correio electrónico, a participação em grupos de discussão,
a participação e integração em comunidades virtuais e a participação em blogues.
A junção da política com a comunicação mediada por computador incide essencialmente
sobre o correio electrónico, utilizado para difusão em massa de propaganda
política com interacção, nas campanhas eleitorais que começam o seu trabalho por elaborar
as suas páginas web, nomeadamente nos grupos fundamentalistas cristãos, na milícia
nos EUA, nos zapatistas no México, que se tornaram pioneiros neste tipo de utilização
política electrónica (Castells, 2002).
Em relação à democracia local e experiências electrónicas de participação cívica,
salienta -se o programa pen, organizado pela cidade de Santa Mónica na Califórnia, onde
os cidadãos debateram questões públicas e também a experiência “Amesterdão cidade
virtual” nos anos noventa (século XX). Em Seattle, activis tas comunitários construíram
redes on -line com o objectivo de disponibilizar informação, estimular o debate cívico e
reafi rmar o controlo democrático sobre questões ambientais e políticas locais. O protesto
de Dezembro de 1999 contra a OMS (Organização Mundial de Saúde) em Seattle, foi
121 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
122 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
123 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
100
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
divulgado na internet e foi utilizada a mesma como forma de expressão, criando um tipo
de movimento social na sua forma de manifestação (Castells, 2004).
De acordo com Montargil124, os intervenientes no sistema político podem disponi
bi lizar canais de comunicação através de caixas de correio electrónico, sistemas de
conversação on -line (chats), ferramentas de petição electrónicas, inquéritos e sondagens,
enquanto ferramentas de recolha de opiniões mais estruturadas e votação electrónica,
enquanto forma política de eleger representantes e de conduzir a uma decisão que envolva
um grande número de intervenientes.
Nesta sequência à semelhança do voto convencional, o e -voto (voto electrónico),
é uma tecnologia geral com vista à obtenção de uma decisão colectiva de controlo de
agregados sociais (Forester, 1993: 89).
Em Portugal, foram realizadas quatro experiências de voto electrónico125: nas autárquicas
de 1997 e de 2004, nas eleições europeias de 2004 e nas eleições legislativas de
2005.Tais experiências, não têm acrescentado mais valias relevantes à cidadania portuguesa.
No entanto, os cidadãos, ao participarem politicamente na cultura electrónica, envolvem -se
na tomada de decisão estimulando a liberdade de associação, de reunião, de manifestação, de
opinião, de expressão e de publicação. A liberdade de expressão na net visa a livre comunicação
de pensamentos e opiniões, ou seja, os cidadãos podem falar, escrever e imprimir livremente,
embora respon dam pelo abuso desta liberdade, nos casos determinados pela lei.
A escrita é uma diligên cia intelectual que pode transformar -se muito rapidamente
em contestação do saber e do poder e a liberdade de imprensa electrónica engloba o pensamento
e a informação.
Os inquéritos pela internet são preferíveis aos via e -mail porque formulários interactivos
HTML (HyperText Markup Language) podem ser usados, as taxas de respostas
são quase de 90%, antes de 2000, mas têm vindo a baixar desde então (hoje 30%-60%).
São mais baratas, os resultados são mais rápidos, são fáceis de modifi car e as taxas de
respostas podem ser melhoradas usando painéis e os membros dos mesmos têm de concordar
em participar126.
124 http://video.google.com/videoplay?docid=7400450 521150862619, em 07/04/09
125 http://vi deo.google.com/videoplay?docid=7400450521150862619, em 07/04/09
126 http://pt.wikipedia.org/wiki/Inqu%C3%A9rito_estat%C3%ADstico, em 2/7/09
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As Nações Unidas, o Google e a Cisco apresentaram um portal onde é possível
seguir a evolução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, cujas metas incluem
uma campanha mundial contra a pobreza mundial e a universalização da educação.
O site www.mdgmonitor.org reúne informações socio -económicas actualizadas
das Nações Unidas sobre os 130 países em desenvolvimento, permitindo a sua consulta a
todos os cibernautas. E através de uma ligação ao google earth, permite verifi car o posicionamento
das regiões monitorizadas.
Vejamos esta sondagem: os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio são a
erradicação da pobreza extrema e a fome, estabelecer a educação primária universal, promover
a igualdade de géneros, reduzir a mortalidade infantil, combater o vírus da Sida,
criar uma associação mundial para o desenvolvimento, melhorar a saúde materna e garantir
o desenvolvimento sustentável:
Qual dos 8 objectivos devia ser combatido em primeiro lugar?
Erradicação da pobreza extrema e a fome 76,92% (10)
Estabelecer a educação primária universal 7,69% (1)
Promover a igualdade de géneros 7,69% (1)
Reduzir a mortalidade infantil 0,00% (0)
Combater o vírus da Sida 7,69% (1)
Criar uma associação mundial para o desenvolvimento 0,00% (0)
Melhorar a saúde materna 0,00% (0)
Garantir o desenvolvimento sustentável 0,00% (0)
Data Início Data Fim Autor Participações
2007 -11 -08 2007 -12 -27 ncarvalho 13
(http://www.sondagenspt.net/sondagem403.html, em 2/7/09).
Também on -line, se denota um desinteresse pela participação política. De facto,
quer apoiantes, quer críticos da democracia electrónica concordam que o declínio da participação
política, principalmente o voto e o alto nível de desconfi ança constituem graves
ameaças ao sistema político (Forester, 1993:235).
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1. Blogosfera
A blogosfera é uma espécie de ágora electrónica, embora se trate de um mundo
basicamente ilusório e fi ccional, porque manifesta poder real daqueles que controlam e
possuem os blogues sobre os bloguers induzindo homogeneidade de hábitos, mas também
novas complexidades sociais e políticas e contradições pessoais.
A blogosfera liga -se a lealdades de proximidade, ao cosmopolitismo, a múltiplas
identidades, à sociedade transnacional e infra -estadual, a identidades privada, à comunidade
da humanidade e à cidadania activa (ligada a conversação de direitos) e à cidadania
passiva (ligada à conversação de deveres).
Na blogosfera política em Portugal (espaço virtual de maior importância), de acordo
com Luís Filipe Borges, identifi ca -se três momentos: um primeiro de carácter político,
outro humorístico e um terceiro cultural (com blogues essencialmente unipessoais)127.
Daniel de Oliveira, autor do extinto blogue Barnabé, disse ao diário de notícias
que “os blogues nasceram em Portugal em posições muito radicalizadas à esquerda e à
direita, por causa da situação política da época, nomeadamente a questão do Iraque e o
governo de Durão Barroso”.
José Sócrates, no exercício do seu mandato enquanto Primeiro Ministro, participou
numa conferência com blogueres, aberta também às redes sociais twitter e facebook, estando
os jornalistas, de igual modo, presentes, tendo sido unicamente os cibernautas a colocarem
as questões ao Primeiro Ministro128. Esta blog conf teve origem numa acção de campanha e
têm vantagens ao nível da diminuição de consumo de papel, deslocações (e menos CO2)129.
Tirando os blogues que pertencem a grupos editoriais e a partidos políticos, a
imensa maioria é de anónimos, do cibercidadão, mas que são participativos e contra culturais
politicamente, o que, num futuro próximo, será sujeito a censura, quer de forma
directa, quer incorporada.
127 http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=619506, em 8/4
128 http://sic.aeiou.pt/online/noticias/portugal2009/Socrates+em+conferencia+exclusiva+para+bloggers+e
+redes+sociais.htm, em 26/7/09
129 http://sic.aeiou.pt/online/noticias/portugal2009/Socrates+em+conferencia+exclusiva+para+bloggers+e
+redes+sociais.htm, em 26/7/09
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A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
A ciência dos blogues, a blogosfera, constitui matéria que deve ser trans for mada
em conhecimento científi co130. A ciber so cio logia, ao estudar os blogues de teor político,
conclui que há uns mais radicais nas expressões, que omitem opiniões segundo ideologias,
sejam estas anarquistas, comunistas, socialistas e uns que defendem lutas sociais,
movimentos negros ou luta homofóbica.
A “ideologia da aldeia global” é a ideologia da comunicação internacional, tornando-
-se a humanidade produtora e actora de comunicação na nova era das revoluções das comunicações
das novas sociedades, nomeadamente o desejo de consumo, a responsa bilidade social
colectiva, a revolta dos jovens, a revolta feminina e a revolta da moda (Mattelart, 1991),
onde proliferam simultaneamente temas e debates on -line nomeada mente sobre a guerra no
Iraque, receitas de cozinha, feminismos, religião, espiri tua lidade, ideologias politicas, noções
de cidadania, a crise económica, a saúde pública, eutanásia, os direitos das minorias, a justiça,
as desigualdades, a pobreza, a liberdade e a opressão, a questão da independência do Tibete.
De acordo com Filipe Montargil131, os blogues disponibilizam, grosso modo, informação
como intervenientes no sistema político. Mas, a Blogosfera constitui, sem qualquer
dúvida, um novo espaço público virtual.
Ainda, segundo o mesmo investigador132, um grupo na net dispõe de mais informação
do que qualquer um dos seus membros individualmente, criam sinergias, têm mais
propensão a encontrar erros nas propostas de um determinado elemento do que o próprio
grupo, trabalham como parte de um determinado grupo que pode estimular a encorajar os
indivíduos a trabalhar melhor, cada membro pode imitar ou aprender com outros membros
mais competentes e possuem a condição de anonimato, permitindo encorajar os participantes
e identifi car incorrecções e criticas.
A blogosfera é, na sua essência, freudo -marxista, espaços onde a psique se reencontra
com a fi losofi a e com a sociologia contemporâneas.
A identidade inconsciente na blogosfera é um fenómeno psicológico e psicopatológico
de ampliação com identidades, funções, papéis sociais, tarefas ocupacionais, fé
comum, afi nidades e divergências politicas e ideológicas.
130 Cyberphilo so phy.blog spot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, 18/08/08
131 http://video.google.com/videoplay?docid=7400450521150862619, em 07/04/09
132 http://video.google.com/videoplay?docid=7400450521150862619, em 07/04/09
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As imagens típicas, que são os arquétipos (órgão da psique pré-racional) de Jung,
são nitidamente manifestadas na blogosfera, sobretudo política, do mesmo modo que a
psicologia dos sonhos, da anarquia psíquica e as psicoses são frutíferas em dados sobre os
cibercidadãos.
Da blogosfera emergem novas fontes de poder político nas estruturas mentais de
expressão dos pensamentos dos cibernautas e transmitem -se novas formas políticas no
correcto uso da informação via internet.
2. Espaços informacionais
Salienta -se, em primeiro lugar, que os órgãos de comunicação social on -line, atingem
um auditório mais jovem que não tem contacto, ou tem de forma reduzida com outros
media133.
No entanto, o Google afi rma ter indexado mais de 3 mil milhões de websites e,
em 2006, existem mais de mil milhões de utilizadores da internet (15,7% da população
mundial)134.
Actualmente existem 500 websites pertencentes a organismos directa ou indirectamente
ligados à administração pública em Portugal, de acordo com Mariano Gago, ministro
da ciência e tecnologia, que são sujeitos a avaliação extensiva e directa (semestralmente)135.
O objectivo desta iniciativa é produzir recomendações com vista ao aperfeiçoamento desses
portais e a avaliação é feita através da observação directa dos sites136.
Na navegação virtual pelos espaços informacionais, os cibercidadãos convergem
os seus espíritos, aumentando as suas energias psíquicas numa relação de mais
intimidade, mais empatia, mais compreensão e mais amor na busca da união da comunhão
das consciências.
133 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
134 http://74.125.77.132/search?q=cache:7AJbSGCcFGMJ:portfolio.tagus.ist.utl.pt/portfolio/FileDownload.
ashx%3FID%3DCB372B4B -C1AF -421D -8205 -EA062826613A+internet+e+cultura&cd=1&hl=pt-
-PT&ct=clnk&gl=pt, em 13/8/09
135 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
136 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
105
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O site http://www.ainfos.ca/pt/, representa os A -info (anarquistas internacionais),
que lutam por uma sociedade livre, distribuindo notícias e artigos em várias línguas,
cobrindo uma vasta área temática, que vai desde as lutas laborais, ambientais e anti-
-imperialistas até ao combate ao racismo, sexismo e homofobia.
Os chats são fóruns em tempo real onde se desenrolam discussões públicas, como
numa ágora virtual, sobre os mais variados assuntos entre múltiplos cibernautas. Os
fóruns demonstram ser particularmente importantes na comunicação horizontal no âmbito
da cidadania e como forma de participação política individual on -line. Para Montargil137,
os fóruns de discussão são orientados para a discussão de um determinado assunto
ou para a discussão de uma determinada política.
Salienta -se, neste sentido, Partido Pirata da Suécia, que criou um fórum de discussão
sobre as suas propostas e outros partidos piratas organizaram -se a partir daí na
Alemanha, França, Espanha e EUA. O Partido Pirata chegou também ao Reino Unido138.
De facto, um grupo de cidadãos britânicos criou no Reino Unido um Partido Pirata,
semelhante ao seu congénere sueco que conseguiu chegar ao Parlamento Europeu,
para defender a partilha de fi cheiros para fi ns não comerciais139.
Nesta sequência, sendo as eleições autárquicas, em 2010, na Suécia, o Partido
Pirata daquele país, que há cerca de dois meses elegeu um eurodeputado, vai apostar
agora na acção local. O “prato grosso” do seu programa político visa, sobretudo, a
defesa da partilha livre de ficheiros na internet, mas não se esgota aí140: “O Partido
Pirata tem por objectivo mudar a legislação numa escala global, para encorajar o
crescimento da sociedade de informação, uma sociedade caracterizada pela diversidade
e a abertura”, escreve o líder do partido, Rick Falkvinge, no jornal Dagens
Nyheter141.
Segundo o Jornal de Notícias, o Partido Pirata sueco, que colhe muitos votos entre
os mais jovens, pretende ainda introduzir software de utilização livre nas escolas e nos
137 http://video.google.com/videoplay?docid=7400450521150862619, em 07/04/09
138 http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Tecnologia/Interior.aspx?content_id=145131&tab=community, em 14/8/09
139 http://sol.sapo.pt/Pagina Inicial/Tecnologia/Interior.aspx?content_id=145131&tab=community, em 14/8/09
140 http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=173070, em 14/8/09
141 http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=173070, em 14/8/09
106
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órgãos de poder para melhorar a segurança nacional, reforçar o direito público ao acesso
à informação e proteger a integridade e privacidade dos cidadãos142.
Desde 1998, ao longo de 3 anos, mais de 600 organizações em cerca de 70 países
que por intermédio de e -mails e de sites conseguiram interromper as negociações
lançadas pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico)
em torno do acordo multilateral sobre a liberação desenfreada dos investimentos (Mattelart,
2002). Governos de diversos países, têm incluído nos seus programas de acção a
atribuição de um endereço de correio electrónico a todos os cidadão de modo a permitir
contactos directos e personalizados (Junqueiro, 2001).
O e -mail é usado em massa para difusão de propaganda política com interacção
(Castells, 2002). Já os inquéritos de opinião, recolhem informação sobre opiniões
individuais.
De acordo com Gustavo Cardoso, os principais objectivos do site da Presidência
da República são a aproximação da presidência aos portugueses, tornar a mesma mais
transparente e estimular os jovens, através de uma postura pedagógica e pró -activa para
a participação143.
O site da Casa Branca tem acessível a actual biografi a do presidente, a história
e sua localização, podendo -se enviar um e -mail ao presidente.
O Partido Pirata da Suécia, fundado a partir de um site144, já disputou eleições
nacionais e, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu (2009), elegeu um deputado.
Este partido, para além de interferir nos debates parlamentares defende a liberdade individual,
sigilo de comunicações, revisão de direitos de autor para permitir o intercâmbio
livre de bens cul turais e o fi m das patentes. Em 2000, o presidente Clinton dirigiu -se aos
americanos pela internet para lhes anunciar que o governo federal americano teria um site
no ciberespaço e que todos os pedidos de informação poderiam ser respondidos pela rede
a partir desse sítio (Lévy, 2003). Também, a maior parte das câmaras legislativas do mundo,
põem actualmente serviços em linha. Como exemplos de sites de câmaras municipais,
142 http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=173070, em 14/8/09
143 http://www.centroatl.pt/titulos/si/imagens/mktg -politico -internet -excerto.pdf, em 25/04/09
144 www.piratpartie.se
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é de citar Brest na Alemanha e Issy -Les -Moulineaux cujo o presidente da câmara, na altura
André Santini, não hesitou em intervir em fóruns, ao contrário de muitos políticos
franceses que não se envolveram em debates na web, tendo sido criado um conselho municipal
interactivo, projecto inovador em matéria de prática ciberdemo crática. Este site e
o website de Parthenay, fi zeram tentativas de inovar a democracia local com o apoio das
novas tecnologias de comunicação, tornando -a mais aberta e transparente.
A “governação electrónica ideal” deveria possuir serviços (através de sites) em
função da cidadania, facultar às populações mais desfavo re cidas (defi cientes, minorias
linguísticas e étnicas, expatriados, es tran geiros, idosos e mulheres social e economicamente
carenciadas, jovens delinquentes e toxicodepentes) facilidades de acesso aos serviços
electróni cos, nem que para o mesmo efeito seja necessário proceder à info -inclusão
destes grupos.
No site da terranova.com, a internet põe à disposição dos utilizadores serviços às
câmaras municipais nomeadamente formação em novas tecnologias, pedidos de propostas
de serviços de mensagens e fóruns. O site da câmara municipal interactiva da América
permite a consulta de sites redigidos e assinados pelos cibernautas e abordando diversos
temas nomeadamente direitos dos animais e o fi m do embargo a Cuba (Lévy, 2003).
O site ezgov.com é um verdadeiro centro de instrução cívica explicando aos cibernautas
como funcionam as eleições e permite ter acesso on -line às biografi as dos políticos
(Lévy, 2003). No site Talktogov, os cidadãos podem enviar mensagens aos seus representantes
ou a outras fi guras públicas. O site politics.com contem listas de sondagens de
opinião de cariz político, informações sobre fi nanciamentos dos partidos políticos e das
campanhas eleitorais, grupos de discussão, lista de hiperligações sobre os assuntos que
dizem respeito à política dos EUA. O speakout.com, contem uma plataforma de informações,
organizações e acção para ciberactivistas polí ticos (Lévy, 2003). As penélopes,
site feminista francês145, defende que a globa li zação é totalmente contra as mulheres e o
site do labourstart146, jornal sindicalista internacional retrata as lutas operárias e defende
a internet, como instrumento de luta e de comunicação em contraste com a visão
145 www.penelopes.org/
146 www.labourstart.org
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economicista da mesma. De igual modo, o site da Greenpeace, defende direitos ecológicos.
A www.newecon.org é o site da new economy, fundação americana independente,
que funde questões laborais, sindicais, políticas, relacionadas com a família e com a educação.
Destacam -se alguns sites direccionados para a unifi cação política mundial, nomeadamente
www.bahai.org, directory.google.com/top/society/politics/global_governance/,
www.milleniumforum.org/index.html,www.wfa.org/,www.ourvoices.org/links.html e o
site da carta da terra e www.worldrevolution.org/.
O ciberespaço é um espaço marcado fortemente pela abundância de sites relativos
às ONG, onde estas têm voz activa crescente, integrando -se neste contexto a “interdependência
complexa”, a noção de “world society”, de multiplicação de fl uxos e pólos (comerciais,
fi nanceiros, migratórios, culturais e religiosos) e emergência de novos actores não
governamentais das relações internacionais articulados em forma de rede (Keohane e
Nye, 1972, Muskat, 1973 e Burton, 1976).
O site do diário da República Portuguesa, por exemplo, constitui um sistema de
acesso à informação na cidadania básico e elementar sobre leis publicamente disponíveis.
No “espaço cidadãos”, são expostos os procedimentos a seguir para a apresentação de
uma petição147.
É crescente o número de utilizadores de internet e também os conteúdos sobre a
actividade politica. Em muitas circunstâncias, começou a ser prática corrente a consulta
a esses conteúdos. Repare -se no estudo realizado nas presidenciais de 2006, pela empresa
“Ideias e imagens”, onde se referia que 10,6% dos inquiridos consultavam as páginas
na internet dos candidatos148. Apesar destes dados incidirem nos EUA, um estudo da
empresa “Pew internet” revela que, em comparação com 2004, o acompanhamento das
presidenciais em 2008 através da web teve o dobro de utilizadores149. No eleitorado jovem,
42 por cento dos inquiridos entre os 18 e 29 anos apontaram a preferência pela internet
para recolher informação, número que contrasta com os 20 por cento registados há
quatro anos150.
147 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
148 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
149 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
150 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
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Em termos globais, a internet é o principal meio de informação para 24% dos entrevistados,
contra os 13% registados em 2004151.
Através de uma página na internet, pode também ser divulgada informação detalhada
sobre programas eleitorais, listas, biografi as dos candidatos, discursos, apoios e
testemunhos notáveis152.
3. Correio electrónico
O correio electrónico, através de uma newsletter ou de uma mailing list, rapidamente
e sem custo acrescido, pode transmitir a mesma mensagem a milhares de pessoas153.
Este, tornou -se tão popular devido à sua grande facilidade em quebrar barreiras
geográfi cas.
De acordo com cientistas políticos, as campanhas de direct mail podem ajudar a
infl uenciar votos (Forester, 1993:88).
A comissão do parlamento europeu encarregue do inquérito ao sistema internacional
de escutas Echelon, recomendou os cibernautas europeus a codifi carem todas as mensagens
de correio electrónico, evitando acesso dos serviços de espionagem dos países que
alegadamente usufruem do sistema154. Ao que parece, uma das vertentes da Echelon, poderá
ser de espionagem industrial. EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia
são alegados criadores do polémico sistema155. A Echelon tem capacidade de intercepção
de comunicação ao nível planetário (intercepta 3 mil milhões de mensagens por
dia em todo o mundo, escuta milhares de conversas telefónicas e possui computadores
dicionários para as transacções simultâneas).
À semelhança, FBI (Federal Bureau of Investigation), possui um programa de
vigilância electrónica via internet156.
151 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
152 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
153 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
154 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
155 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
156 www.cisi.mot.pt, em 11/8/09
110
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Com o início para breve de uma nova campanha eleitoral, a CNPD (Comissão
Nacional de Protecção de Dados) aprovou uma deliberação contendo orientações quanto
à utilização de dados pessoais dos cidadãos nas acções de marketing político, em particular
no contacto individualizado com os eleitores157. Com a corrente utilização do correio
electrónico e das mensagens escritas por telemóvel (SMS, Systems Management Server),
a CNPD emitiu aquilo que denomina de “Princípios Gerais aplicáveis ao marketing político
no âmbito das comunicações electrónicas”158, que nada mais são que as regras e
princípios que os partidos e políticos em particular deverão seguir durante a sua comunicação
com os eleitores para que tudo se processe no rigor cumprimento da lei159.
4. Petições, campanhas e manifestos
As petições e os requerimentos fazem parte do exercício da liberdade na cidadania,
do direito de cada um de infl uir sobre a administração do governo, quer pela nomeação
de todos ou alguns funcionários, quer através de representações, petições, requerimentos,
que a autoridade será, mais ou menos, obrigada a tomar em consideração
(Laupies, 2005:25).
O direito de petição (em Portugal) é consagrado com grande amplitude, como direito
de participação política, podendo as petições ser apresentadas por qualquer cidadão
ou pessoas colectivas e são dirigidas ao Presidente da República, que as remete para a
comissão parlamentar competente em razão da matéria160.
A petição on -line mais votada em Portugal foi a petição contra as comissões sobre
o levantamento em multibancos161.
Mas, para que servem as petições on -line?
Servem como forma de pressão, pois se obtiverem destaque sufi ciente, quer pelo
número de peticionários, quer pela relevância das temáticas e repercussão nos media,
157 http://www.eliminarspam.com/noticias/entrada/4/, em 18/8/09
158 http://www.eliminarspam.com/noticias/entrada/4/, em 18/8/09
159 http://www.eliminarspam.com/noticias/entrada/4/, em 18/8/09
160 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
161 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
111
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
podem produzir efeitos no mundo real, para além da esfera cibernética, nomeadamente,
pressionando governos e alterando condutas de gestores e empresas162. Por outro lado,
além do valor simbólico que uma petição on -line pode ter, temos que considerar também
a própria repercussão legislativa, se forem cumpridos certos e determinados parâmetros
legais163. Tratando -se de uma petição subscrita por mais de 1000 cidadãos, é obrigatória
a audição dos peticionantes164. As petições subscritas por mais de 4000 cidadãos, ou
aquelas relativamente às quais seja aprovado relatório nesse sentido, devidamente fundamentado,
serão agendadas para apreciação em plenário da Assembleia da República, devendo
sê -lo no prazo de 30 dias, após o seu envio pela comissão ao Presidente da Assembleia
da República165.
Em relação às campanhas eleitorais on -line, veja -se o exemplo na noite eleitoral
das presidenciais norte -americanas de 2008:
– Yahoo News: 7.6 milhões de visitantes únicos, 259,244,751 total page views;
– MSNBC (Microsoft National Broadcasting Company): 6.8 milhões de visitantes
únicos, 232,076,565 total page views;
– CNN.com: 6.3 milhões de visitantes únicos, 134,573,839 total page views;
– AOL News: 2.5 milhões de visitantes únicos, 45,122,501 total page views;
– FoxNews.com: 1.9 milhões de visitantes únicos, 31,856,733 total page views.166
O voto electrónico (referendos e plebiscitos) pode atingir todos, em massa. No entanto,
é necessário ajustar esta nova forma de democracia (electrónica), indo ao encontro
dos ideais dos século XXI.
Para William e Hallander, os mecanismos desta nova revolução política residem
nas próprias tecnologias: uma legislação directa realizada pelos povos, dando origem a
uma nova classe social que irá reestruturar as instituições políticas, criar novas instituições
políticas (Forester, 1993:232).
162 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
163 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
164 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
165 http://movv.org/2009/01/19/da -validade -e -relevancia -das -peticoes -online/, em18/8/09
166 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
112
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Em relação às petições on -line, salienta -se que o Movimento Zapatista, em Chiapas,
no México, nos anos 90 (século XX) fez circular uma (Castells, 2004).
Na assinatura de uma hipotética petição on -line global, que visaria um pacto de
paz entre os povos, o objectivo seria fi nalizar todas guerras vitaliciamente, dando vida a
um eventual direito cosmopolítico global à semelhança de um contrato social, direito
natural pré -político (da humanidade sentimental, ligada à grande mãe -natureza) de aplicação
obrigatória na esfera da cidadania global.
Já Habermas defendia que: “a vontade geral reside bem mais num consenso
dos corações do que em argumentos” (Carvalhais, 2007:47), à semelhança da philia
on -line.
No que diz respeito às campanhas on -line, podem ser de elevada importâncias se
tiverem objectivos cívicos ou políticos como por exemplo o boicote a determinados artigos
de empresas de suspeição ecológica, ou artigos provenientes de países que apoiam
ditaduras, ou onde se praticam o trabalho infantil, ou onde os direitos das mulheres não
são cumpridos, campanhas de luta contra o tráfi co e fabrico de armas, contra o fabrico de
materiais tóxicos, de apoio às politicas sindicais, às politicas relativas às minorias sexuais.
As campanhas eleitorais em todos os países, começam o seu trabalho por elaborar as
suas próprias páginas web (Castells, 2002).
As legislativas de 1999 (em Portugal) caracterizaram -se electronicamente por
existirem entrevistas interactivas e newsletters diárias167.
Nas legislativas de 2002 (em Portugal), um dos maiores sucessos foi o envio de
SMS com os conteúdos que estavam na página da internet, pelo Partido Socialista168.
Também a página do PS (partido socialista) inseriu -se num vasto conjunto de sites que
usaram a internet como forma de pressão para ajudar Timor -Leste nos tempos difíceis que
se seguiram ao referendo169. A do PSD (partido social democrata), possuía a possibilidade
dos cibernautas escreverem cartas de solidariedade à causa timorense170.
167 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
168 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
169 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
170 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
113
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Nas legislativas de 2005 (em Portugal), destaca -se as notícias por SMS e as frases
do dia com citações dos dirigentes do PS e as referências negativas da comunicação social
aos partidos que estavam no governo171.
Na página do PCP (partido comunista português), nas legislativas de 2005, a novidade
assenta na existência de uma web rádio e na colocação de vídeos de acções de campanhas,
onde foi dado grande destaque ao blogue de campanha de Jerónimo de Sousa172.
Salienta -se, neste contexto que, as páginas na internet, só podem funcionar se tiverem
a devida divulgação173.
Salienta -se o manifesto de um hacker, publicado no e -zine phrack, em 1986, por
The mentor (nascido Loyd Blankenship)174, que é considerado uma pedra angular da cultura
hacker, e dá alguns esclarecimentos sobre a psicologia hacker inicialmente175. É dito
que isso moldou a opinião da comunidade hacker sobre si mesma e sobre a sua motivação176.
O Manifesto afi rma que os “hackers” optam por hackear, porque é uma maneira
pela qual eles aprendem, e porque muitas vezes são frustrados e entediados pelas limitações
das normas da sociedade177.
A sedução política on -line, oriunda da manipulação da psique e do individualismo
hedonista do século XXI, alia -se ao maquiavelismo transposto para a nossa era da perversão,
à “ditadura das massas”, à intoxicação alienada dos cibernautas políticos e à manipulação
do povo -eleitorado através do Estado -espectáculo ilusório, como que dando satisfação
ao inconsciente colectivo da humanidade. É a concretização de um projecto de
psicologização política (Lipovetsky, 1989: 54). Deste modo, os governantes, ao distraírem
os cidadãos on -line, vão estimulando a aniquilação da capacidade de pensar politicamente,
a destruição dos sistemas de poder psíquicos refl ectivos.
171 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
172 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
173 http://comunicar -politica.blogs.sapo.pt/3647.html, em 18/8/09
174 http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_hacker, em 24/7/09
175 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_Hacker, em 13/8/09
176 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_Hacker, em 13/8/09
177 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_Hacker, em 13/8/09
114
CONCLUSÃO
A tecnicização das comunicações deu origem à macrocomunicação (alterações da
comunicação no tempo e no espaço), o que veio reduzir o planeta a uma aldeia, passando
as suas instituições a agir de formas multi e transnacional178.
É nítida a inter -infl uência entre o desenvolvimento político, social, económico e
técnico e as formas de comunicação (Freixo, 2006:40). No entanto, os sistemas económicos
e político encontram -se ao serviço dos interesses dos grupos dominantes e todas as
agências são instrumentalizadas para controlo social.
Nesta linha de pensamento, nasce a sociocibernização, ou seja, um mecanismo de
controlo remoto efi ciente de manipulação do cérebro, biologicamente viável de dominação
da humanidade até ao controlo da estrutura psicossomática179.
A cibernética está ligada ao controlo (Freixo, 2006:95).
Os canais efectuados pelas instituições convencionais são transferidos para os canais
de comunicação de massas, transformando a cultura erudita e popular na cultura de
massas, sendo a ordem social um valor central, garantida pelo telecontrole (desde a infância
do ser humano)180. A implementação da comunicação de massas implica a ampliação
da linguagem, que começa com a imprensa e termina com os satélites, acabando, com as
fronteiras entre as classes privilegiadas e o povo, entre o conhecimento e a ignorância,
entre a riqueza e a pobreza (Freixo, 2006:23 -28).
A padronização do sistema económico refl ecte -se no sistema político, social e
cultural, favorecendo a uniformidade sociocultural e psicossocial181. A padronização
comportamental resulta do condicionamento psicossocial, que por motivos económicos,
políticos e ideológicos promove a homogeneização das estruturas mentais e do desejo de
identifi cação social amplamente difundido pela “ditadura”do consumo182.
178 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
179 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
180 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
181 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
182 http://www.compuland.com.br/delfi m/delf2.htm, em 31/7/09
115
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
A era da informática provocou alterações sociais e económicas revolucionárias,
nomeadamente: emergência de uma nova classe social de carácter tecnocrata, do conceito
de “meritocracia”, um novo pós -capitalismo, a noção da aldeia global, um novo Estado
industrial, a emergência da revolução cientifi co -tecnológica, da era tecnotrónica, da sociedade
pós -industrial e a economia de informação (Forester, 1993:81).
Surge uma nova civilização da humanidade associada a novos conceitos sociais,
políticos e psicológicos: revolução do PC, humanidade unidimensional, tecnocracia, sociedade
computorizada, mediacracia, revolução da electrónica, democracia antecipativa e
nação ligada por rede, república da tecnologia, sociedade telemática e sociedade em rede,
colapso da noção tradicional de trabalho, revolução da micro -electrónica, micro -revolução
e Estado-computador (Forester, 1993:83 -86).
A nova teoria das relações internacionais, utilizará o método da previsão, categoria
do provável e permitirá sonhar com a unidade da espécie humana (Maltez, 2002).
Será, num futuro próximo, o novo paradigma globalizador do século XXI baseado na
interdependência das conexões em rede (ou electrónicas) da sociedade do conhecimento
e do subsequente controlo (por parte dos actores sociais e políticos) da informação.
Paradoxalmente, no seio da internet, o aumento da densidade de redes de interdependência
criam comunidades virtuais e ligações laterais transfronteiriças cujo movimento
das ideias e da informação é potencialmente instantâneo e interiorizado (Sarmento,
2008:312 -317).
No entanto, no que respeita à rede das redes (internet), será o monitor do computador,
quando equiparado ao ecrã da televisão, o verdadeiro instrumento de psiquismo dos
cibernautas à semelhança da cinestesia e psicadelismos de projecção magnética da televisão,
que fazem reemergir a interpretação universal na exteriorização do sistema nervoso
central, nas interconexões entre consciências humanas?
A física social de Comte que, desde 1828, passou a destacar à biologia o papel
de principal inspiradora do seu pensamento. Assim, a ciência social devia partir das
capacidades do ser humano individualmente (Jornal de resenhas/ São Paulo, 1999,3).
Blainville, via a física social como um ramo da fi siologia e a história da civilização
como a sequência necessária da história natural humana (Jornal de resenhas/ São
Paulo, 1999,3).
116
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
As novas formas políticas da cibercultura são os canais, através dos quais operam
as conexões em rede das cibercomunidades que realiza a diáspora económica e social
generalizada nas mentes e corações daqueles que aspiram à paz e ao alívio do sofrimento
sociopolítico e que não se podem manifestar de forma politicamente convencional.
Destas novas formas, poderão surgir iluminações espirituais e explicações que
dêem sentido à vida, de procura da ordem internacional dentro da anarquia, do desenvolvimento
da consciência interior e exterior, da evolução da mente, do cérebro que produz
consciência, da imaginação (que vem da intuição) e que depois é usada pela lógica e pela
razão no conhecimento cientifi co das formas da cibercultura politica.
Mas, com se utilizar a teoria cerebral e a frenologia para explicar a realidade social
e política?
A cibernética, ao estudar com profundidade os relaciona mentos entre a máquina e
o cérebro, concluiu que existe um desenvolvimento entre as analogias entre autómatos e
outros sistemas: sistema nervoso, sistemas vivos, sistemas de comportamento e sistemas
sociais (Alves, 2005).
De facto, o espírito humano reúne as suas dimensões numa nova interacção entre
os dois hemisférios cerebrais, as má quinas e os contextos do cérebro com repercussões
sobre as políticas dos governos (Castells, 2002).
Das críticas sociais às tecnologias de informação e comunicação salien tam -se183:
a teoria da indústria cultural e sua reformulação por Habermas, que defende que a internet
seja utilizada como meio de vigilância, controle e desinformação, para além de transmissor
de informação, a teoria panóptica do poder de Michael Foucault que, inspirado
em Jeremy Bentham considera que as tecnologias de informação e comunicação permitem
aos governos e aos interesses privados (empresas) possuírem informação sobre
cada um de nós, através da invasão electrónica da vida privada e a teoria hiper -realista
de Guy Debord ou de Jean Braudilhard que, defende que as tecnologias de informação
e de comunicação já transformaram aquilo que passa a ser “realidade” numa simulação
electrónica.
183 Cyberphilosophy.blogspot.com/search/originlabel/fi losofi a%20da%20blogosfera, em 18/08/08
117
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Habermas defende também, que o conceito de cosmopolitismo e de cidadania
pós -nacional, guiados por princípios de um universalismo moral, de um patriotismo constitucional
e a ideia de um Estado-nacional nascem com a revolução francesa, mas com um
inerente sentido universalista (Carvalhais, 2007:147). Neste contexto, Isabel Carvalhais
considera que a fragmentação da cidadania está associada a uma desvalorização da dimensão
política face à dimensão social: à lógica pós -nacional, na relação do Estado com
a sociedade civil (Carvalhais, 2007:172). A cidadania social, de acordo com a mesma
autora, é um “bem” de qualquer pessoa residente num Estado democrático e o conceito de
cidadania política é inseparável do de vigilância.
O funcionalismo (em fi losofi a), compara os estados mentais com os estados funcionais
de um computador. Assim como um programa de computador pode ser realizado
ou exemplifi cado por um hardware, também um programa psicológico ou mental poderá
ser realizado por diferentes organismos com confi gurações físico -químicas. A nossa psicologia
deve ser descrita como um software de um PC, da sua organização funcional
(Marques, 2003:11 -12).
A longo prazo, os PC (personal computer) e as estações de trabalho entrarão em
declínio porque o acesso aos computadores estará em toda a parte: nas paredes, nos pulsos
e nos computadores de rascunho (Kako, 1998). Em 2020, a era da informática omnipresente
deverá estar no auge, mas depois desta data, o mundo dos computadores poderá ser
dominado por computadores invisíveis, ligados em rede, dotados das capacidades da inteligência
artifi cial: razão, reconhecimento da fala e até bom senso (Kako, 1998).
E, “o poder da razão é o poder da fala”, de acordo com Descartes (Lucien, 1991) e
a voz ou mais correctamente a audição será a percepção simultânea da cibercultura política,
monádica e interactiva no tempo circular e não sequencial. De facto, de acordo com Arendt
“… o homem, na medida em que é um ser político, é dotado de fala…” (Arendt, 1962:20).
Depois de 2050, os dispositivos informáticos serão auto -conscientes tal como a
humanidade e os outros animais que são ambos máquinas, segundo a perspectiva de La
Mettrie (Lucien, 1991).
De facto, em relação à fala, de acordo com as pesquisas dos neurofi siologistas, de
todas as mensagens trazidas por um único canal sensorial, são os estímulos auditivos os
118
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
que motivam reacções mais fortes, reacções que são sempre emocionais. (Dorozynsky,
1982:85). Nesta sequência de pensamento, a rádio obrigou -nos a um trabalho de imaginação,
de invenção (Dorozynsky, 1982:85).
Assim, não utilizará o poder político meios electrónicos clandestinos (espionagem
mental), de orientação do povo, através dos estudos das reacções às vozes e às imagens?
Cabe -nos a nós descobrir como a revolução informática terá impacto na nossa
vida familiar, laboral e como esta vai aproximar e tornar as sociedades mais solidárias e,
fundamentalmente, com vai globalizar -nos e fazer com que nos tornemos parte de um
todo e todos, sem excepção, “senhores do espaço -tempo”. De facto, os últimos 25 anos
do século XX transformaram a noção do tempo cronológico da era industrial no tempo
atemporal.
No que diz respeito à ligação da neurofi siologia e da cibercultura política, é de
salientar as experiência de Hopfi eld e Tank (no campo da neurofi siologia), que adaptaram
os métodos computacionais que simulavam o comportamento de magnetes intermitentes
com vista à previsão do que aconteceria com os neurónios criando um programa concebido
de forma a comportar -se como uma rede neuronal hipotética constituída por uma antena
de neurónios interligados, mas apta a correr num computador convencional (Penzias,
1992:120 -121). O processo seguiu os seguintes trâmites: uma dada “palavra” com 100
bits de dimensão, numa sequência binária de 1 (uns) e 0 (zeros) impunha aos neurónios
excitação, fazendo com que cada neurónio corresponda a 1 se “excitasse” ou “ligasse”
(Penzias, 1992:120 -121). Então, os investigadores estabeleceram um conjunto de sinapses
permanentes, de modo que esses neurónios comunicassem o estímulo a cada um dos
outros neurónios a “excitar”, geran do -se, desse modo, um estado de equilíbrio para a palavra
imposta (Penzias, 1992:120 -121).
Deste modo, nesta sequência intelectual, tal como concebeu Barlow (Penzias,
1992:159), a inteligência é a arte da dedução e a tecnologia parece ser o instrumento de
crescimento das aptidões humanas, da construção de ideias.
Deste modo, pode existir um “órgão da linguagem no nosso cérebro, em tudo
análogo a um chip de linguagem num pc; este órgão é até certo ponto constitutivo, na
medida em que algumas das suas ligações neuronais se estabelecem sem qualquer estí119
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
mulo externo. Por exemplo, as crianças têm capacidade de aprender qualquer linguagem
humana, qualquer que seja a sua origem genética. O mesmo se verifi ca com os adultos,
embora em menor grau, e desde que tenham já aprendido a língua materna. Existe assim,
uma capacidade geral de lidar com qualquer gramática generativa, a que se chama gramática
universal” (Maynard, Szathmáry e Ors, 2007: 238 -270). Estudos recentes, confi rmam
claramente que a compreensão gramatical detalhada, instintiva, das crianças entre
os 2 e 4 anos é muito superior à que seria de esperar de um sistema de aprendiza gem convencional.
Parece existir um aparelho de aquisição da linguagem no cérebro, o qual será
desencadeado por estímulos linguísticos para que o seu funciona mento leve à linguagem
propriamente dita. De facto, parece ser este aparelho que é inato, e não o processador
linguístico totalmente desenvolvido.
A utilização dos meios electrónicos (vivemos numa fase de transição na história
das civilizações em grande escala) para utilizar e transmitir informação parece ter efeitos
que são tanto ou mais profundos aos que se seguiram às origens do código genético ou da
linguagem (Maynard, Szathmáry e Ors, 2007:238 -270).
O cérebro recebe sinais electrónicos do mundo, do universo e, no mesmo órgão,
formam -se percepções pela visão, o tacto, o gosto e o olfacto.
O “grande perigo”, reside no controlo, domínio e manipulação da máquina sobre a
humanidade (porque a rede quando abarcar todo o conhecimento vai adquirir auto -consciência
e há -de reivindicar direitos de cidadania) e a idealização da “humanidade -máquina”, ou da
“máquina -humanidade”, ou dos Estados -nação sobre os cibernautas pacífi cos ou sobre a cidadania
virtual, ao estilo de “Big brother” de Orwell. O medo deste “irmão” exerce -se sobretudo
a nível da retina e da impressão digital. A pouco e pouco, conforme contextualizou
Antoine de Saint -Exupéry, “a máquina tornar -se -ia parte da humanidade” (Gates, 1995:9).
Parece que o cérebro funciona por seus próprios meios, a partir da sua própria
programação à semelhança de um computador (Krishnamurti, 1993:121).
Os seres humanos têm uma inteligência intuitiva que a máquinas “pensantes” se
podem igualar (Forester, 1993:188).
Em paradoxo, a democracia das máquinas, mito da informação e convicção quase
religiosa, remete -nos para a adopção generalizada que os sistemas de computadores e
120
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
comunicações e que a informação electrónica produzirá um mundo melhor (Forester,
1993:137).
Neste contexto será a democracia uma questão de distribuição de informação?
Não, o que distingue, teoricamente, a democracia de outras formas de governo é a
capacidade das pessoas se auto -governarem, na vida política, na participação política na
cidadania expressa no trabalho em conjunto para fi ns comuns (Forester, 1993:137 -144).
Saint Simon, adverte para o termo tecnologia intelectual, na mudança do governo
dos seres humanos para o governo de coisas, baseado em regras estatísticas, lógicas e algoritmos
(Forester, 1993:100 -101).
A digitalização progressiva dos meios de comunicação e informação começam -se
a diluir, assim como as pessoas e as máquinas à semelhança dos números, palavras, imagens,
sons, sabores e sensações (Forester, 1993:104 -105).
À seme lhança, Hitler mostrou como a rádio poderia ser um instrumento de ressonância
para mensagens de sentido único e com um só propósito (Castells, 2002) e Nietzsche
acreditava que a democracia moderna não representava o auto domínio dos antigos
escravos, mas sim a vitória incondicional dos escravos e de um tipo de moralidade própria
da escravidão (Fukuyama, 1992).
Muito embora a polis esteja directamente associada ao auto -governo e ao princípio
da rotatividade, o populismo e a retórica pós -moderna podem perverter e manipular a
vontade do povo (Carvalhais, 2007:192).
Na manipulação do poder através dos media, utiliza -se frequentemente a fabricação
do medo, porque o medo é um excelente meio de manipulação e não há manipulações
psíquicas em que o medo não faça parte, no sentido de colher votos (Dorozynsky, 1982:
40 -41). O medo, é também um instrumento de pressão induzido pela incerteza, insinuando-
-se, paralisando, atormentando e isolando os cidadãos. A paz, nesta perspectiva política e
das relações internacionais, está muito associada à realização da segurança e das consequências
do medo, da balança de poder (Maltez, 2002:236).
Se a televisão e a comunicação global instantânea tivessem existido nos anos trinta
(século XX), teriam sido aproveitadas ao máximo por propagandistas nazis, como Leni
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Riefenstahl e Joseph Goebbels para a promoção do fascismo e não de ideais democráticos
(Fukuyama, 1992:30).
É certo que, assustadoramente, a humanidade contemporânea, à semelhança da
“lavagem cerebral” preconizada pela política da informação da Alemanha Nazi, é unidimensional,
porque “martelada” pelos media massifi cou -se, robotizou -se, burocratizou -se
e sujeitou -se a uma super administração (Sarmento, 2008).
Ao controlo da informação associou -se a necessidade de proteger a segurança
nacional (Forester, 1993:249 -250). O controlo governamental da informação é umas das
alterações históricas entre abertura e secretismo, na tradição governamental norte-
-americana (Forester, 1993:251).
A tradição americana de livre comunicação consignada na constituição, garante a
liberdade de palavras, pensamento, de religião e imprensa, obrigando o Governo Federal
a publicar regularmente informação sobre as despesas e impostos e seus efeitos sobre os
cidadãos (Forester, 1993:251). Os presidentes Nixon e Carter limitaram o sistema de classifi
cação das informações (Forester, 1993:252). A ordem obrigava que os documentos
fossem automaticamente libertos de qualquer restrição após 6 anos, sem que se pudesse
vir a ser outra vez considerados secretos. Nos EUA, os pedidos de informação ao governo
crescem nas áreas dos direitos cívicos, protecção ambiental e do consumidor, saúde pública,
segurança e relações laborais (Forester, 1993:252). E, a segurança nacional (na
administração Reagan), está directamente ligada às seguintes áreas: negócios estrangeiros,
defesa, serviços secretos, políticas de pesquisa e desenvolvimento, desenvolvimento
espacial e economia internacional e política comercial.
Salienta -se que, de acordo com a teoria de um “mosaico de informação”, pedaços
de informação sem importância que, depois de reunidos, podem ameaçar a segurança
nacional.
A revolução do controlo, que resultou do processamento da informação depende
da organização do mundo material (Forester, 1993:89 -90). No entanto, todos os seres vivos
devem processar matéria e energia para se oporem à entropia (a tendência da organização
em direcção ao colapso e ao caos) (Forester, 1993:89 -90). Assim, torna -se necessário
o controlo desse processamento da informação (Forester, 1993:89 -90).
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O caos, o eros, o equilíbrio, a memória, o khrónos (poder do espírito) dá origem à
paz, à disciplina e à justiça (Maltez, 2002:234 -235). Deste modo, o caosplexidade não é
mais do que um caos novo (Steiner, 2008:187).
Nesta sequência, Herbert Spencer, defende que os organismos sociais, quanto
mais crescem em massa, mais se tornam complexos, porque as respectivas partes fi cam
cada vez mais mutuamente dependentes (Maltez, 2002:202).
Neste sentido, a burocracia nasceu, efectivamente, nas primeiras nações soberanas
com a necessidade da administração de centralizar, sendo as mais signifi cativas as do
Egipto e da Mesopotâmia (em cerca do ano 3000 a.C.) e nas que atingiram um alto nível
de sofi sticação (nos impérios pré -industriais romano e bizantino) (Forester, 1993:94).
Nestes impérios (à semelhança do que se passa na nossa era), burocratizar consistia em
controlar uma actividade colectiva ou um meio generalizado de controlo de qualquer
grande sistema social (Forester: 1993:94).
Neste contexto, Weber e Michelis salientam que a incapacidade dos povos e a inoperância
de formas de cidadania activa são atribuídas à burocracia (Carvalhais, 2007:193).
Paradoxalmente, a natureza deve ser apreendida pela auto -consciência, o universo
deve ser percebido como uma teia dinâmica de fenómenos interrelacionados, conforme
vem descrito na teoria de boostrap. De acordo com esta teoria e com o princípio da ordem
implicada, o universo e a humanidade caminham para a teoria do tudo.
A consciência é liberdade, é afastamento, distância: não pode ser confundida com
os seus objectos, o seu carácter fundamental é a descentralização (Laupies, 2005:61).
Mcluhan fala de uma humanidade plena, utópica, global que emerge do desenvolvimento
das técnicas de comunicação, oriunda da herança do iluminismo, da emancipação
dos seres humanos adveniente da sociedade do conhecimento (Alves, 2005). A aldeia
global pode implicar as explosões da criatividade e da nação em rede, nas trocas sociais,
emocionais e políticas de grandes quantidades de informação (Forester, 1993:136)
A efi cácia do poder político está relacionada com o sucesso social, psicológico e
fi siológico, com a circulação da informação política na organização reticular (Foucault,
1977:184). Aí, os cibernautas projectam as suas consciências incorpóreas na matriz das
redes mundiais dos computadores (Gibson, 1989).
123
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Já Braverman, menciona que os computadores foram usados para transformar trabalhadores
em robots de segunda ordem (Castells, 2002). Nesta sequência, Edgar Mourin
defende que, uma máquina é diferente de um sistema vivo por não se desintegrar quando
deixa de funcionar porque a fonte da sua energia está situada noutro lado que em si mesma
(Lucien, 1991). Deste modo, a máquina informática, a internet, é uma espécie de
“deus “criado pela humanidade e impõe -se ao mesmo como produtor de movimento, de
vida, como idealizou parcialmente Feuerbach (Lucien, 1991), evocando o grande todo em
que estamos dissolvidos nesta era da sociedade em rede.
Nesta sequência, com Pascal, a humanidade separa -se de deus (Foucault, 1996:40).
Neste todo, a internet, é composta não somente pelos neurónios humanos, mas
também pelos cabos, satélites, fi bras ópticas, pelas mensagens telemáticas, pela gestão à
distância e pela multiplicação dos transmissores (multimédia à distância).
A cibercultura parece ter criado novas linguagens virtuais (mutações numéricas e
musicais, a estenografi a, a caligrafi a e a impressão) levando -nos a meditar se a fusão da
mesma e da neurofi siologia será possível? Será perigosa?
Esta última ciência, a neurofi siologia, começa agora a compreender todas as facetas
da experiência humana, no entanto, não chega a explicar os mecanismos próprios para
produzir o pensamento consciente.
Será legítimo, por parte do poder político, utilizar o vasto sistema de fi bras nervosas
do cérebro (através da transmissão política electrónica), cuja entrada em funcionamento
corresponde à sensação de prazer, ou seja, a um sistema de recompensas ou à
sensação de desprazer (sistema de punição) de modo a concretizar objectivos políticos?
De facto, de acordo com Aristóteles, a democracia é de desconfi ar, porque os seres
humanos são facilmente manipuláveis (Carvalhais, 2007:30).
Rosseau salienta ainda, a propósito do conceito de democracia: “o povo inglês
julga ser livre; muito se engana, apenas é durante a eleição dos membros do parlamento:
logo que eles são eleitos, ele é escravo, nada é” (Carvalhais, 2007:35). Manipuláveis,
sobretudo, porque a nossa privacidade on -line está constantemente comprometida e a
qualquer momento podemos ser identifi cados e localizados e a censura política já é uma
realidade que se manifesta pelo controlo da liberdade de expressão ou de outras formas
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de comunicação humana normalmente implementadas por um governo ou por um grupo (s)
de poder. De acordo com, os Repórteres Sem Fronteiras a censura electrónica acontece
praticamente em todos os continentes184.
No entanto, a cidadania faculta ao cidadão a participação directa na justiça e no
governo. Mas, as faculdades mais elaboradas da experiência humana prendem -se com a
intuição, a criatividade e outras aptidões (Laszlo, 1993).
A utilização da cibernética e da telemática estimularão estas capacidades no ser
humano?
O e -learning (instrumento de ensino e formação), tem cada vez mais importância
e isso já é uma realidade nos países desenvolvidos e nalguns em vias de desenvolvimento.
A ciberdemocracia e a cidadania global estão a crescer e as suas difusões a
proliferarem, tendo sido dado especial importância às classes operárias, ao campesinato,
aos povos indígenas, às mulheres, aos desempregados e subempregados. Os intelectuais,
os técnicos, os sectores da classe média, os sectores governamentais e sectores
religiosos também se dedicam à educação popular por via das novas tecnologias.
Rose Deakin (“Women and computing: the golden opportunity “), afi rma que “os microcomputadores
oferecem às mulheres uma oportunidade rara e quase sem precedentes
“(Forester, 1993:289).
Esta aprendizagem, o e -learning, (que é um processo cultural) representa algumas
crenças fundamentais, porque a internet é a chave para uma profunda revolução na educação
e é apenas uma ferramenta, não uma estratégia. A mesma consiste em documentos
multimédia e em ferramentas que vão permitir aos professores personalizarem em massa
as matérias de estudo, ou seja, a educação tornar -se -á um assunto muito individual (Gates,
1995:240), muito embora venha a ser utilizado por muitas pessoas. Os computadores que
“ensinam” e os sistemas que fornecem decisões especializadas podem, eventualmente,
produzir uma geração de estudantes e gestores que não acreditam na sua própria intuição
(Forester, 1993:188).
184 http://74.125.77.132/search?q=cache:7AJbSGCcFGMJ:portfolio.tagus.ist.utl.pt/portfolio/FileDownload.
ashx%3FID%3DCB372B4B -C1AF -421D -8205 -EA062826613A+internet+e+cultura&cd=1&hl=pt-
-PT&ct=clnk&gl=pt, em 13/8/09
125
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Patrick Suppes, a propósito de e -learning e de computadores -professores, chama-
-nos à atenção para a fala, que é instintiva e baseada na experiência (Forester, 1993:207).
No entanto, para conseguir que um computador fale, de maneira apropriada, necessitamos
de uma teoria explícita da fala e da audição (saber ouvir), e de manusear grandes
quantidades de dados precisamos de uma teoria explícita de aprendizagem em ensino
(Forester, 1993:207).
A questão do bom senso em inteligência artifi cial, pode estar para além das formulações
técnicas, do nascimento de uma espécie viva (Forester, 1993:217). A inteligência
artifi cial assenta na manipulação de representações simbólicas de material armazenado
(Forester, 1993:219 -220).
No entanto, Krishnamurti alerta -nos para o facto de querermos estudar ou observar
o nosso estado mental, sendo este o ponto de partida da verdadeira educação, a educação
de si mesmo (Krishnamurti, 1993:99).
O impacto das tecnologias de informação no âmbito da educação e do conhecimento
deu frutos, sobretudo na maior facilidade na investigação e nas leituras, na extensão
da mente humana (pelo aumento do acesso a sistemas inteligentes), no crescimento
do armazenamento de informação, na maior consciência e conhecimento do habitat natural,
social e humano do planeta, no advento de programas associados às artes gráfi cas por
computador, no aumento do fosso entre a info -inclusão e a info - exclusão e na emergência
do excesso de informação (Forester, 1993: 74 -79).
As minorias organizadas, utilizam e têm facilidade em trabalhar com a internet e
a mesma atinge as massas, ou seja, os movimentos sociais mais amplos, dos direitos humanos,
pela paz, em defesa do ambiente, da igualdade de género. As minorias são a nova
oposição radical da sociedade em rede, originárias da classe média, como prevê parcialmente
Cristina Sarmento (Sarmento, 2008:119).
As ONG (Organizações não governamentais) têm um lugar especial nesta nova
era da sociedade em rede (electrónica), muitas das quais têm origem na educação popular
e permanecem nela.
A obra de Condorcet, “Os progressos do espírito humano”, conta uma história
universal em dez estádios, o último dos quais, ainda por atingir, caracterizado pela igual126
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
dade de oportunidades, liberdade, racionalidade, democracia e educação universal
(Fukuyama, 1992:75).
O ciberespaço veio relançar novas teorias, novos paradigmas epistemológicos:
holismo, cosmogonia, transdisciplinaridade, caos, novos itens, nomeadamente exclusão
social, políticas sociais e políticas públicas universais (saúde, educação), economia solidária
e fl exibilidade laboral.
A educação holista é uma fi losofi a da educação, onde cada um encontra identidade
com a vida através de conexões com as comunidades, com a natureza, com valores espirituais,
nomeadamente a paz, a compaixão185.
Por outro lado, ao se ampliar a mente humana na interacção máquina -humanidade,
criou -se uma desumanização preocupante, do ponto de vista social, isolando o ser humano
na solidão dos afectos, na deambulação do sentido da vida (e, eventualmente no aumento
da taxa de suicídios), da confusão da nova noção de tempo -espaço, na perda de
territorialidade (da sua identidade). A humanidade, ao evoluir na integração da sua individualidade
tecno -económica e materialista, tornou -se solipsista. Nesta sequência, criamos
uma sociedade que nasceu da falta de relacionamentos (Krishanamurti, 1993:106).
Em conclusão, a humanidade já não se pode dissociar da máquina, pensa com
esta, sente com esta, recorre a esta, apoia -se nesta, governa com esta em pensamentos
basicamente sequenciais e intuitivos. As intuições simultâneas parecem estar associadas,
de alguma forma, à consciência colectiva (Laszlo, 1997) e às pulsões inconscientes
freudianas.
Poder -se -á associar, de igual modo, os processos políticos halográfi cos universais
da ordem do universo? Do universo simbólico criou -se uma ordem na sociedade da técnica?
Deverá estudar -se, analisar -se e avaliar -se as linguagens virtuais, à semelhança dos
tratados da história da arte, como na história da magia ou da escrita?
Segundo Pribam (Laszlo, 1997), os estados de excitação do sistema nervoso
colocam -se em ressonância com a mesma ordem existindo ondas electromagnéticas de
muito baixa frequência emitidas pelos monitores dos computadores.
185 http://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_Hol%C3%ADstica, em 9/7/09
127
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Quais serão os efeitos destas ondas sobre as decisões políticas, sobre o cérebro e
sobre o sistema nervoso?
A sociedade do conhecimento que procede à sociedade da informação, apreende a
realidade virtual das identidades humanas e da sociologia da cultura produ zida pela humanidade
onde todo o saber se universaliza na igualdade, na felicidade e no trabalho-
-lazer, sendo concretizável quando os seres humanos se reconciliarem com os próprios,
na luta contra a loucura do apego laboral.
Nesta sequência mental, os valores culturais, conforme defende Cristina Sarmento,
podem dar origem à felicidade (Sarmento, 2008: 98), salientando -se Reich, como
sendo o primeiro autor a politizar o direito à felicidade (Sarmento, 2008: 99).
No mesmo contexto, Paul Lafargue defende que, a humanidade reprimida com a
dominação tecnológica, revolta -se pelo facto da sua vida ser inteiramente devota ao trabalho
desprovido de prazer (Sarmento, 2008).
Mas, a humanidade reage e, por detrás do princípio da incerteza de Heisenberg,
está a ordem implicada de Bohm, que mantém o padrão interactivo dos seres humanos
com eles próprios, com os outros e com o mundo.
O poder político residirá, no futuro, fundamentalmente na cibercidadania global?
Será a mesma revolucionária na emancipação da espécie humana? Será que provocará
mudanças nas sociedades cujas fi nalidades serão as liberdades?
A sociedade electrónica não tem género, nem raça, nem etnia, nem classe, é libertária
e a sua identidade é impermanente, estando em plena evolução. As suas identidades
não são claras nem rigidamente fi xas, ela nasce com a globalização da informação económica
e cultural e a cidadania global será o seu principal objecto de estudo. No entanto, a
economia da informação criou grandes desigualdades: sociais, económicas e internacionais
(Castells, 1997) e criou a responsabilidade social interna cional e a consciência universal
por parte da população urbana que se encontra no limiar da fome e da pobreza.
Michel Foucault defende, através da teoria dos micropoderes, que o Estado é mais
vigiado do que vigilante porque os cibernautas, ao tomarem contacto com as novas tecnologias
de informação e comunicação, libertam e desenvolvem novas formas de democracia
(que se destacam claramente da democracia representativa da era industrial) e de
128
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
poderes descentralizados e menos hierárquicos. Deste modo, a democracia da era informacional,
caracteriza -se sobretudo por ser participativa, directa e activa politicamente.
Na verdade temos pouca liberdade de pensamento e as grandes descobertas associadas
à revolução industrial (raios x, electrão, radioactividade, quantum e relatividade)
nada têm a ver com os nossos sentidos, para além disso, o nosso intelecto (cérebro) pouco
se alterou desde o homem das cavernas (Szent -Gyorgyi, 1976:18 -20). Os dirigentes políticos
que fazem as guerras, esses “macacos loucos”, têm as suas raízes intelectuais no
velho mundo pré -cientifi co, cujos cérebros são instrumentos de satisfação humana, em
que todas as decisões políticas podem ser justifi cadas por palavras e pela lógica (Szent-
-Gyorgyi, 1976:18 -28).
Por outro lado, a produção económica derivada da era informacional, pretende
manipular coisas e pessoas e este raciocínio aplica -se também na esfera política, através
dos papéis intrínsecos à própria linguagem das comunicações. Nesta ordem de ideias, o
louco fascista não pode ser neutralizado se não o perseguimos dentro de nós próprios
(Dorozynsky, 1982: 49 -50). Se o homem não se exterminou no passado, foi apenas porque
os seus instrumentos de morte eram primitivos e inefi cientes, facto que assegurava a
sobrevivência de muitos a qualquer confl ito violento (Szent -Gyorgyi, 1976:12).
Em contradição ao exposto anteriormente, as ideologias e os nacionalismos serão
vítimas do amor, do respeito pelos direitos às trocas de informação e das minorias.
O cérebro humano e o computador são comuns e pela educação pode -se programar
um cérebro (na fase em que está ainda maleável), dependendo o futuro da humanidade
da educação, ou seja, de um sistema de programação susceptível de ser alterado (Szent-
-Gyorgyi, 1976:33 -34).
Certo é, que os sistemas políticos têm -se servido dos seus interesses para assegurarem
a sua estabilidade usando sistemas educacionais próprios (Szent -Gyorgyi,
1976:33 -34).
Será possível, por meio da educação, alterar o rumo da história substituindo o tacanho
nacionalismo pela solidariedade humana?
Com a emergência da cibercultura os jovens libertar -se -ão? Estarão a criar um
mundo próprio?
129
A C I B E R C U L T U R A : N O V A S F O R M A S P O L Í T I C A S
Vivemos em períodos de evolução rápida, como o actual em que a existência da
espécie humana depende da sua capacidade de se adaptar e de criar um mundo novo
(Szent -Gyorgyi, 1976:89).
Nesta perspectiva, da possibilidade emergente de uma nova era, os símbolos míticos
e arquétipos comuns entre culturas e civilizações de Jung, serão a memória permanente
de Lashley e Popper? Estarão situados no córtex cerebral? Irão manifestar -se na
cibercultura política?
Perspectivando a razão axiológica, da imaginação e da inteligência emocional, Jung
diz -nos como a humanidade tem avançado numa rápida unidade simbólica (Maltez, 2002).
De facto, no domínio das ciências cognitivas as informações parecem ser transmitidas, ocasionalmente,
por meios que ultrapassam o mundo da percepção sensorial, do espaço e tempo,
nas culturas, nos seres humanos, nos povos primitivos, nas sociedades modernas e mesmos
nas disciplinas científi cas (Laszlo, 1997). Deste modo, nas ciências cognitivas torna -se pertinente
o estudo dos canais de comunicação, nomeadamente a cibernética e a telemática do
ponto de vista da cultura política, entre o cérebro e o mundo, canais que poderiam conduzir a
outros cérebros ou mesmos a outras culturas (Laszlo, 1997). De facto, e seguindo esta sequência
de pensamento, a sincronicidade prevê outras relações que não são causais para os eventos
do universo186 e, ao dar voz à cidadania, a cibercultura política não entende fi delidade sem
autonomia, ou seja, a homogeneidade de culturas, os costumes massifi cados e globalizados.
Nesta perspectiva, cibercultura é a cultura, por excelência, da globalização, da
uniformização da economia, dos negócios e dos hábitos de consumo.
No entanto, na ligação à cultura política electrónica, a humanidade pretende o
amor à arte política autêntica, recusando todo o ídolo e todo o dogmatismo da governação
convencional. De facto, o trabalho colectivo estimulado pelo ciberespaço tornou -se essencialmente
comunicativo, psico -afectivo, imaterial, cooperativo e direccionado para o
bem -estar social comum na multiversalidade da noosfera de Chardin (2001), traduzindo
a ideia de uma consciência colectiva do infofi lósofo, Pierre Lévy, do ponto de vista sociológico
e gnosiológico187.
186 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_sist%C3%AAmico, em 9/7/09
187 http://www.gobiernoelectronico.org/node/5815, em 16/07/08
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Existe uma consciência colectiva partilhada, que opera para além da nossa consciência
individual? E se esta consciência existe, como é infl uenciada e como é determinado
o seu conteúdo? (Mack, 1994: 9).
Sim, a visão da verdade, do espírito enquanto realidade suprema representa a
consciência colectiva, sendo o espírito único o auto -conhecimento de cada um e na constatação
de que o próprio espírito é inseparável de outros espíritos (Jung, 1971: 21 -30).
Neste contexto, também o conceito de poder é considerado mais ideológico e fi losófi
co, não sendo dotado de cientifi cidade (Maltez, 2002:209).
Então, o poder político será futuramente o poder dos sem poder, como imaginou
Vaclav Havel (Maltez, 2002:211) e da governação sem governo, da falta de verticalidade
da autoridade central, da governança?
O ciberespaço político converge as principais funções políticas dos sistemas políticos:
socialização, recrutamento político, conversão de interesses e comunicação política.
Sim, o establishment (modus vivendi, poder infra -estadual do status) já é uma realidade
política, porque, no ciberespaço da polis, a vida humana é única e, como defende
Simone Beauvoir, “no seu mais elevado expoente a vida busca expressão máxima na
singularidade dos indivíduos” (Penzias, 1992:225).
131
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